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PARA COMPARAR
Ao custo de 20 milhões de desempregados, região acerta contas externas; ajuste não depende das exportações
Ásia acha equilíbrio após forte recessão
MARCIO AITH
enviado especial a Seul e a Bancoc
O único remédio eficaz parece
ser o mais amargo.
Um ano e meio depois do início
da crise econômica na Ásia, a recessão brutal pela qual passaram
as economias da região em 1998
colocou em perfeita ordem suas
contas externas, ao custo de 20 milhões de empregos.
O ajuste não foi feito com base no
bom desempenho das exportações, diferentemente do que os governos desejavam depois do colapso de suas moedas e o FMI (Fundo
Monetário Internacional) prometia à época.
Ele resulta de quedas recordes
das importações e do consumo,
causadas pelos juros altos e pelo
aperto monetário praticados no
primeiro semestre.
Capitalizados, alguns desses países já começam a melhorar a parte
"real" de suas economias. Outros
não conseguem fazer ressuscitar
seu setor privado.
A Coréia do Sul desponta como o
país com a melhor recuperação da
região. Por causa de uma queda de
37% em suas importações durante
o ano, conseguiu acumular um superávit externo de US$ 38 bilhões,
o maior de sua história, e reservas
de US$ 57 bilhões.
Isso num ano em que 20 mil pequenas e médias empresas quebraram e 1,5 milhão de sul-coreanos
perderam os empregos.
Valorização
O dinheiro forte chamou a atenção dos investidores. A Bolsa de
Seul atrai desde setembro US$ 1,5
bilhão todo mês, o que fez o valor
das ações atingir níveis próximos
aos de antes da crise. O won valorizou-se 30% no segundo semestre e
o governo esporadicamente intervém para derrubar sua própria
moeda, com o objetivo de manter
o ritmo de suas exportações.
"É duro dizer isso, mas o aperto
monetário deu resultado", disse
Jang-yung Lee, economista-chefe
da federação dos bancos sul-coreanos. "Tínhamos que estabilizar a
moeda e acumular reservas. Sabíamos que haveria recessão, mas
aceitamos o jogo."
Juros
Lee, um assessor informal do
FMI, acha que os juros poderiam
ter sido baixados logo no segundo
trimestre de 1998. "Talvez tenhamos exagerado na dose, mas o remédio está correto."
O mais curioso é que a Coréia do
Sul voltou a atrair investimentos
externos mesmo sem reformar significativamente os grandes conglomerados do país, os chaebols.
Sob a ótica do investidor, a reforma desses conglomerados tinha,
para a Coréia do Sul, a mesma importância que a reforma fiscal no
Brasil.
Um exemplo disso foi a tentativa
frustrada da Hyundai Motors,
maior montadora do país, de demitir 1.600 empregados ociosos
(entre os quais 160 garçonetes). A
empresa desistiu das demissões
por pressões do próprio governo.
Outro exemplo foi a venda "caseira" da Asia Motors para a Hyundai, numa concorrência que os
mercados queriam que fosse vencida por uma montadora estrangeira. Mas o mercado não deu importância aos dois episódios.
Preferência
"Estou cada vez mais propenso a
achar que o investidor gosta de
países que reformam suas economias, mas o que eles adoram são
governos com balanças externas
superavitárias", disse Suphat Suphatchalasai, professor de economia da Universidade de Thamasat,
em Bancoc.
"A lentidão das reformas no setor privado sul-coreano poderia
servir como motivo para uma fuga
de investidores. Mas eles não fogem porque sabem que o país está
acumulando divisas."
Suphat explicou que a Tailândia,
embora também esteja acumulando divisas e atraindo capitais, não
consegue passar esses dividendos
para o setor privado com a mesma
facilidade verificada na Coréia do
Sul, cujas exportações deram sinal
de vida nos dois últimos meses.
"A Tailândia passou por duas fases distintas e duras para os exportadores. Quando o baht se desvalorizou, os exportadores receberam
pedidos do mundo inteiro, mas
não tinham dinheiro para comprar
matéria-prima nem financiar as
exportações. Agora, com a moeda
forte, os pedidos desapareceram",
disse ele. As exportações, em dólar,
caíram 7% em 1998. A produção
industrial, 15%.
No setor financeiro, a venda dos
ativos das 58 instituições financeiras nacionalizadas logo depois da
crise foi considerada um fracasso e
os bancos restantes ainda não conseguiram se recapitalizar.
Caso a parte
A Malásia é considerada um caso
a parte na análise dos especialistas.
Quase cinco meses depois de isolar-se do mercado financeiro mundial ao implantar controles rígidos
sobre o fluxo de capitais, sinais de
recuperação surpreendem.
Desde setembro, as taxas de juro
caíram de 11% para 5,9%, as exportações cresceram 2% em dólar e as
reservas pularam de US$ 20 bilhões para US$ 23 bilhões. É praticamente um sucesso, mas todos
querem saber o que vai acontecer
quando, em outubro, acabar o prazo do "congelamento" de um ano
aplicado por Mahathir sobre os investimentos estrangeiros em Bolsa. Em tese, mais da metade do dinheiro aplicado em ações poderá
sair do país.
Segundo o primeiro-ministro
Mahathir Mohamad, a Malásia está provando que, ao contrário do
que apregoa o mercado, fechar as
fronteiras financeiras é um bom
negócio para países em desenvolvimento retomarem o crescimento
depois de crises cambiais.
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