São Paulo, domingo, 31 de janeiro de 1999

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País conta com sistema familiar de proteção contra desemprego

do enviado especial

"Minha família me protege. O que o governo deve fazer é proteger as empresas."
Dessa forma, Swan Gwan, um desempregado sul-coreano de 52 anos, definiu sua opinião sobre a necessidade de se criar um sistema de proteção aos desempregados no país. Ele é contra.
Ex-funcionário de uma empresa eletrônica, Gwan está tentando há quatro meses encontrar nova colocação num dos recém criados centros de emprego do governo, chamados "Seul Manpower Banks".
Ele ainda não conseguiu achar uma vaga como a que queria e decidiu que irá esperar quanto tempo for necessário. Já lhe ofereceram serviços temporários de contabilidade e até de faxina. Rejeitou. Sente que o país está se recuperando e que, em breve, um emprego semelhante ao que tinha lhe será oferecido.
"Se tivéssemos dado dinheiro apenas para os desempregados, os empregos não voltariam. Quem cria emprego é a empresa."
Gwan mora numa pequena casa num subúrbio de Seul. Como quase toda família sul-coreana, a sua também cresce num ambiente moldado pela filosofia confucionista, a milenar doutrina chinesa que define as relações humanas em função da família e do Estado. Isso significa que pelo menos três gerações da família de Gwan moram sob o mesmo teto. "Faço questão que meus pais e meus filhos morem comigo. Dividimos as despesas e vivemos em harmonia."
Com cerca de 1,7 milhão de desempregados (1,5 milhão a mais do que antes da crise asiática), só agora o país está instituindo um seguro-desemprego.
"A situação é grave porque os desempregados têm vergonha de pedir dinheiro ao governo", disse H. Lee, do Ministério do Trabalho sul-coreano. "Alguns escondem dos vizinhos que perderam o emprego. Levantam cedo e vestem terno e gravata, como se ainda tivessem empregos. Rodam pela cidade durante todo o dia e retornam à noite. Fazem isso durante meses", disse ele.
O desemprego é grave, mas segundo Lee, não tanto quanto em países como a Indonésia. "Aqui, a família serve como um colchão para o desempregado. Além disso, a poupança das famílias é alta. Eles têm como se segurar durante um tempo."
A rede de proteção social na Coréia do Sul não é tão frágil quanto nos outros países asiáticos. Um desempregado sul-coreano ganha do governo metade de seu salário durante os seis meses posteriores à demissão. Além disso, recebe gratuitamente cursos de reciclagem.
Mas o maior instrumento para combater o desemprego no país são os recursos que o governo joga nas empresas que desistem de demitir. Em alguns casos, salários no setor privado são pagos diretamente pelo governo durante meses. Até o ano passado, esse sistema só funcionava para empresas com mais de dez empregados. No entanto, com o colapso de 20 mil pequenas e micro empresas, o governo reviu o programa.
Em outubro do ano passado, a Hyundai tentou demitir 1.600 empregados considerados ociosos. Apesar de forçar os conglomerados a se reestruturarem, o governo pediu que as demissões não ocorressem e conseguiu manter os empregos.



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