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CERVEJAS
Fusão Antarctica-Brahma é aprovada com três restrições; não-cumprimento pode desfazer negócio
Cade ainda pode desfazer a AmBev
Alan Marques/Folha Imagem
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A conselheira Hebe Romano e o presidente Gesner de Oliveira, do Cade, ao fim da votação ontem |
ISABEL VERSIANI
OTÁVIO CABRAL
da Sucursal de Brasília
O Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) aprovou na madrugada de ontem a fusão da Brahma com a Antarctica
-que resultou na criação da empresa AmBev - com três restrições principais. Se elas não forem
cumpridas em oito meses, a fusão
poderá ser desfeita.
A AmBev foi obrigada a vender
a marca Bavaria, que pertence à
Antarctica e hoje detém cerca de
4,5% do mercado de cervejas no
país. Também ficou estabelecido
que a empresa terá de pôr à venda, para o mesmo comprador,
cinco fábricas hoje pertencentes à
Brahma e à Antarctica. A compradora da Bavaria terá, ainda,
por quatro anos, o benefício de
poder compartilhar a rede de distribuição da AmBev.
Se as determinações do Cade
não forem cumpridas dentro de
oito meses, a fusão poderá ser
desfeita, informou o presidente
do órgão, Gesner Oliveira.
A AmBev também foi obrigada
a compartilhar sua rede de distribuição com pequenas cervejarias
nas cinco regiões geográficas.
A distribuição no mercado de
bebidas nacional, muito pulverizada e dispendiosa, é considerada
uma das principais barreiras à entrada de concorrentes.
Foi decidido que o comprador
das fábricas e da Bavaria deve ter,
no máximo, 5% de participação
no mercado de cervejas no país.
O objetivo dessa restrição, que
excluiu do páreo a Kaiser e a
Schincariol, foi, segundo o Cade,
abrir espaço para a entrada de um
novo concorrente no mercado.
"O que o Cade fez foi reservar
uma parcela do mercado para outro concorrente, que muito provavelmente será estrangeiro", disse o conselheiro Ruy Santacruz,
ao final do julgamento, que durou
14 horas. Ele foi o único dos cinco
conselheiros que se pronunciaram sobre o caso AmBev a votar
pela desconstituição da fusão.
Ele argumentou que qualquer
arranjo estabelecido para tentar
compensar os danos à concorrência provocados pela concentração
de 72% do mercado de cerveja nas
mãos da AmBev seria pior para o
mercado e para os consumidores
do que a situação pré-fusão.
Seu voto, no entanto, foi vencido. O que prevaleceu foi a posição
da relatora, conselheira Hebe Romano, que propôs medidas pontuais e regionais para compensar
o efeito da alta concentração.
O resultado do julgamento foi
favorável à AmBev, principalmente se comparado aos pareceres já proferidos pelas secretarias
de Acompanhamento Econômico e Direito Econômico.
A Seae, ligada ao Ministério da
Fazenda, havia condicionado a
fusão à venda da Skol, que hoje é a
marca de cerveja mais vendida no
país. A SDE deu à AmBev a opção
de vender uma das três marcas:
Skol, Brahma ou Antarctica.
Os pareceres das secretarias servem como subsídio para o Cade
mas, como ficou comprovado,
não determinam o entendimento
final dos conselheiros.
A grande perdedora do julgamento foi a Kaiser, principal opositora da fusão. O co-presidente
da AmBev, Victorio De Marchi, e
o presidente da Kaiser, Humberto
Pandolpho, assistiram ao julgamento no plenário do Cade.
Só para ler o seu relatório, que já
havia sido divulgado na semana
passada, Romano levou três horas. A leitura dos cinco votos, feita
individualmente pelos conselheiros, começou às 19h30 e terminou
um pouco antes das 4h da manhã.
O voto original de Hebe Romano propunha, também, a venda
da marca Polar. Como havia divergências sobre as exigências para aprovar a fusão, os conselheiros do Cade buscaram uma proposta consensual entre os que foram favoráveis à operação.
O conselheiro Mércio Felsky
convenceu o plenário a limitar a
restrição à venda da Bavaria, com
o argumento de que a Polar tem
uma participação muito pequena
no mercado (menos de 1%).
Romano voltou atrás em sua
decisão e aceitou a dispensa da
Polar. O presidente do conselho,
Gesner Oliveira, acompanhou sua
decisão. O conselheiro Marcelo
Calliari insistiu na tese da venda
das empresas Bavaria, Polar e Bohemia, mas foi voto vencido.
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