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FREIO PUXADO
Desemprego, juro alto, guerra e capacidade no limite reduzem previsão de crescimento do setor de 4% para 1,4%
Sufocada, indústria já teme "perder" 2003
FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL
Desemprego, crédito escasso,
inflação, juros altos, capacidade
de produção no limite e guerra
mais prolongada vão estrangular
a expansão da indústria brasileira
neste ano. A previsão é que esse
setor, que representa cerca de
35% do PIB, não cresça mais do
que 1,4%, em média, em 2003.
Isto é, a indústria, que no passado produziu 1,1% menos do que
em 2001, segundo levantamento
do IBGE, vai enfrentar mais um
ano de fraco ritmo de atividade.
Por ora, ninguém fala em produção ainda menor do que a de
2002, já que o ano está no início.
Mas há entre os empresários
um forte temor de que 2003 poderá ser um ano perdido.
Tudo começa com o comportamento do consumidor. Com o
poder aquisitivo corroído pela inflação, o brasileiro está cauteloso
nas compras, especialmente naquelas a prazo por causa dos juros altos. Sem vendas, as indústrias reduzem a produção e, como consequência, demitem.
O Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial), que representa 45 setores
da indústria, reviu as projeções
para o setor neste ano. Em vez de
4%, a expectativa agora é um
crescimento de 1,4%.
As exportações, que mantêm a
expansão de alguns setores, podem não ser mais a salvação do
país neste ano. Isso porque muitas indústrias consideradas competitivas no mercado internacional já estão com a capacidade
produtiva comprometida, como
é o caso dos fabricantes de papel e
celulose. Isso quer dizer que, para
elevar a produção, as companhias
têm de investir, e o resultado disso não aparece do dia para a noite.
Os otimistas
Dez setores consultados pela
Folha na última semana sugerem,
porém, um cenário mais cor-de-rosa para o Brasil. Isso mesmo depois de os EUA admitirem que a
guerra poderá ser mais longa do
que o previsto, o que aumenta a
possibilidade de o petróleo subir e
elevar os preços dos produtos.
A indústria de celulose, por
exemplo, deve elevar em 12% a
produção neste ano -de 8 milhões de toneladas (em 2002) para
9 milhões de toneladas. A produção de papel deve subir 3,1%, de
7,6 milhões de toneladas para 7,9
milhões de toneladas, informa a
Bracelpa, associação dos fabricantes de papel e celulose.
Mas há uma explicação. Esse
crescimento se deve basicamente
à entrada em operação de novas
fábricas, especialmente de celulose. "Seremos favorecidos também
pelo movimento de alta de preços
no mercado internacional", diz
Boris Tabacof, presidente do conselho deliberativo da Bracelpa.
Os fabricantes de plásticos preferem manter, por enquanto, a
previsão de crescimento de 7% na
produção neste ano apesar de esse
ser um setor que sofre o impacto
de uma disparada no petróleo.
A indústria de máquinas, termômetro dos investimentos, estima crescimento de vendas da ordem de 5% a 6% neste ano. Para
fazer essa estimativa, os fabricantes contam com uma retomada
nos investimentos das empresas a
partir do final deste semestre.
As indústrias do setor de bens
de consumo (têxtil, alimentos e
eletroeletrônica) estimam crescimento de produção entre 2% e
3% para este ano, o que não é
pouco, segundo economistas,
considerado o ambiente econômico interno e externo.
As exportações de alimentos,
diz, estão indo bem até agora, já
que muitos países do Oriente Médio fizeram estoque antes do início da guerra, o que favoreceu o
Brasil. "Mas, se a guerra for longa,
as projeções poderão ser bem diferentes para este ano", afirma.
A indústria têxtil também mantém a previsão de dobrar de US$
150 milhões para US$ 300 milhões o superávit comercial neste
ano e de vender entre 2% e 3%
mais do que no ano passado. "Se
as reformas tributária, trabalhista
e previdenciária caminharem como o governo diz, vai ser possível
crescer", diz Paulo Skaf, presidente da Abit, associação da indústria têxtil.
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