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São Paulo, segunda-feira, 31 de março de 2003

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FREIO PUXADO

Desemprego, juro alto, guerra e capacidade no limite reduzem previsão de crescimento do setor de 4% para 1,4%

Sufocada, indústria já teme "perder" 2003

FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL

Desemprego, crédito escasso, inflação, juros altos, capacidade de produção no limite e guerra mais prolongada vão estrangular a expansão da indústria brasileira neste ano. A previsão é que esse setor, que representa cerca de 35% do PIB, não cresça mais do que 1,4%, em média, em 2003.
Isto é, a indústria, que no passado produziu 1,1% menos do que em 2001, segundo levantamento do IBGE, vai enfrentar mais um ano de fraco ritmo de atividade. Por ora, ninguém fala em produção ainda menor do que a de 2002, já que o ano está no início.
Mas há entre os empresários um forte temor de que 2003 poderá ser um ano perdido.
Tudo começa com o comportamento do consumidor. Com o poder aquisitivo corroído pela inflação, o brasileiro está cauteloso nas compras, especialmente naquelas a prazo por causa dos juros altos. Sem vendas, as indústrias reduzem a produção e, como consequência, demitem.
O Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial), que representa 45 setores da indústria, reviu as projeções para o setor neste ano. Em vez de 4%, a expectativa agora é um crescimento de 1,4%.
As exportações, que mantêm a expansão de alguns setores, podem não ser mais a salvação do país neste ano. Isso porque muitas indústrias consideradas competitivas no mercado internacional já estão com a capacidade produtiva comprometida, como é o caso dos fabricantes de papel e celulose. Isso quer dizer que, para elevar a produção, as companhias têm de investir, e o resultado disso não aparece do dia para a noite.

Os otimistas
Dez setores consultados pela Folha na última semana sugerem, porém, um cenário mais cor-de-rosa para o Brasil. Isso mesmo depois de os EUA admitirem que a guerra poderá ser mais longa do que o previsto, o que aumenta a possibilidade de o petróleo subir e elevar os preços dos produtos.
A indústria de celulose, por exemplo, deve elevar em 12% a produção neste ano -de 8 milhões de toneladas (em 2002) para 9 milhões de toneladas. A produção de papel deve subir 3,1%, de 7,6 milhões de toneladas para 7,9 milhões de toneladas, informa a Bracelpa, associação dos fabricantes de papel e celulose.
Mas há uma explicação. Esse crescimento se deve basicamente à entrada em operação de novas fábricas, especialmente de celulose. "Seremos favorecidos também pelo movimento de alta de preços no mercado internacional", diz Boris Tabacof, presidente do conselho deliberativo da Bracelpa.
Os fabricantes de plásticos preferem manter, por enquanto, a previsão de crescimento de 7% na produção neste ano apesar de esse ser um setor que sofre o impacto de uma disparada no petróleo.
A indústria de máquinas, termômetro dos investimentos, estima crescimento de vendas da ordem de 5% a 6% neste ano. Para fazer essa estimativa, os fabricantes contam com uma retomada nos investimentos das empresas a partir do final deste semestre.
As indústrias do setor de bens de consumo (têxtil, alimentos e eletroeletrônica) estimam crescimento de produção entre 2% e 3% para este ano, o que não é pouco, segundo economistas, considerado o ambiente econômico interno e externo.
As exportações de alimentos, diz, estão indo bem até agora, já que muitos países do Oriente Médio fizeram estoque antes do início da guerra, o que favoreceu o Brasil. "Mas, se a guerra for longa, as projeções poderão ser bem diferentes para este ano", afirma.
A indústria têxtil também mantém a previsão de dobrar de US$ 150 milhões para US$ 300 milhões o superávit comercial neste ano e de vender entre 2% e 3% mais do que no ano passado. "Se as reformas tributária, trabalhista e previdenciária caminharem como o governo diz, vai ser possível crescer", diz Paulo Skaf, presidente da Abit, associação da indústria têxtil.

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