São Paulo, sexta-feira, 31 de março de 2006

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ENERGIA

Ministro afirma que Brasil obteve "extraordinários benefícios" no passado e quer que a Petrobras pague mais impostos

Bolívia diz ter "outras opções" para vender gás

FABIANO MAISONNAVE
DA REPORTAGEM LOCAL

Ao demonstrar irritação com declarações feitas anteontem pelo presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, o ministro dos Hidrocarbonetos da Bolívia, Andrés Solíz, voltou a defender um aumento da tributação sobre o gás vendido ao Brasil e disse que seu país tem outras opções para comercializar o produto. Negou, no entanto, que as negociações entre os países estejam paralisadas.
Solíz deixou claro qual será a linha do governo boliviano com a Petrobras ao dizer que a prioridade é resolver "tudo o que está pendente" e afirmar que o Brasil obteve "extraordinários benefícios" dos governos anteriores ao do socialista Evo Morales.
"Quero começar dizendo que temos uma primeira grande coincidência: o Brasil precisa da Bolívia, em matéria energética, e a Bolívia precisa do Brasil", disse Solíz, em entrevista coletiva em La Paz, convocada apenas para responder às declarações de Gabrielli.
Em entrevista à agência de notícias EFE, Gabrielli disse que está "preocupado" com a falta de "diálogo" com a Bolívia e que "as negociações estão paralisadas".
"Não vou mencionar a importância que o Brasil tem para a Bolívia, mas a importância da Bolívia para o Brasil. Neste momento, cerca de 80% do gás consumido em São Paulo é boliviano", disse Solíz, tido como um dos ministros mais radicais de Morales.
O boliviano pediu que o Brasil "leve em conta os extraordinários benefícios que recebeu nestes últimos anos". Como exemplo, disse estar "absolutamente seguro de que, no campo de San Alberto, o maior do país, a Petrobras já terminou de recuperar seus investimentos. Tudo o que vier no futuro é lucro. Assim, é correto que a Bolívia defenda elevar os benefícios que recebe via tributação".
"Sobre o tema da suspensão das negociações, creio que essa informação não é exata. Neste momento, estão sendo organizadas reuniões entre os chamados Comitês de Gerência, que são organismos técnicos de ambos os países, nos quais se começa a discutir a agenda que temos", afirmou.
Solíz disse, no entanto, que, "antes de entrar nos novos cenários, temos de resolver tudo o que está pendente". Segundo o ministro boliviano, a principal divergência se refere ao gás não utilizado, sob o regime contratual do "take or pay". Ele diz que a estatal quer comprar esse montante acumulado desde 2001 pagando os preços anteriores, enquanto a Bolívia quer cobrar os preços atuais. De acordo com Solíz, "a diferença conceitual gera um montante de cerca de US$ 450 milhões".
Solíz ressaltou também que o Brasil não é a única opção da Bolívia e citou "várias possibilidades", como um suposto interesse da gigante russa Gazprom. "Assim como o Brasil tem opções(...), nós também temos as nossas."
Procurada pela Folha, a Petrobras disse que não se pronunciaria baseada em declarações.


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