São Paulo, segunda-feira, 31 de março de 2008

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Exportação de manufaturados sente a crise

EUA compraram menos calçados, motores para carros e autopeças do Brasil, segundo números de 2007

FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL

As indústrias que exportam produtos manufaturados, especialmente para os EUA, devem ficar mais atentas e acompanhar "de perto" a intensidade da crise econômica norte-americana. Isso significa até colocar o "pé no freio" da produção e dos investimentos, segundo economistas e especialistas em comércio exterior.
A crise na maior economia do mundo, que pode durar de dois trimestres a dois anos, como prevêem os economistas, já tem efeito no país: os EUA compraram menos do Brasil calçados, motores para carros e autopeças, como mostram números de 2007 ante 2006.
"Quem exporta produtos manufaturados já sente, sim, os efeitos da crise nos Estados Unidos, como é o caso das indústrias de calçados, de motores para carros e de autopeças. Mas há também o efeito indireto. A crise atinge ainda os exportadores de commodities, que vão do Brasil para os Estados Unidos e para o mundo. Todos os exportadores devem ficar atentos neste momento", diz José Augusto de Castro, vice-presidente da AEB, associação de exportadores do país.
"Com a taxa de câmbio do jeito que está, desfavorável às exportações, e com cotações de commodities em queda, vai ficar cada vez mais difícil exportar. Essa crise deve durar no mínimo até 2009. Por isso, as empresas precisam sempre rever seus planos", diz.
Caio Megale, economista da consultoria Mauá, prevê que o PIB norte-americano deve registrar queda no primeiro e segundo trimestres deste ano -na comparação com os trimestres anteriores- sem os efeitos sazonais. Neste ano, porém, o PIB deve crescer 1% sobre 2007. "O PIB não crescerá mais do que 2,5% antes do final de 2009, mas deve haver recuperação gradual a partir do segundo semestre deste ano."
Ele diz que o impacto direto e indireto nas empresas brasileiras depende da intensidade da crise e que é possível dizer que nos últimos 12 meses o volume das exportações brasileiras para os EUA caiu cerca de 10%.
"Existe ainda a possibilidade de direcionar as exportações para outros mercados. A redução de compra dos EUA está sendo suprida pelo comércio entre outros países. Mas, se o empresário entender que a crise é intensa, pode colocar um pé no freio dos investimentos."
Francisco Pessoa Faria, economista da LCA Consultores, também prevê recuperação da economia norte-americana a partir do segundo semestre deste ano. No cenário que ele chama de básico, o PIB dos EUA deve crescer 1,3% neste ano e 2% em 2009. Se a crise for mais acentuada, os números são 0,5% e zero, respectivamente. "O PIB pode ser negativo em algum trimestre, mas não no ano. A recessão deverá ser branda e a recuperação da economia não será demorada."
Para ele, "os preços das commodities não vão derreter". A queda nos cotações já era esperada, "pois os preços tão elevados das commodities nos últimos meses estavam fora do normal." A LCA não alterou a projeção de crescimento do PIB para o Brasil -5%, considerando o cenário básico, e de 3,7%, considerando uma crise mais acentuada nos EUA.
Quanto ao efeito nas empresas, diz: "Quem exporta para os EUA sofrerá mais. Já a indústria de construção civil e de bens de consumo duráveis podem não sentir tanto. Ninguém está imune em relação ao que acontece nos EUA, mas o fato de os mercados estarem mais diversificados, haver aumento da demanda interna e reservas internacionais maiores diminui o impacto de uma crise maior no Brasil".


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