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Teles devem recuperar o "brilho" na Bolsa
Transparência e respeito aos minoritários na fusão entre Oi e Brasil Telecom ditarão como o mercado vai tratar o setor
Papéis dessas empresas já responderam por mais da metade do Ibovespa nos anos 90, mas hoje somam menos de 8% do índice
DA REPORTAGEM LOCAL
Desatado o "nó societário"
para a fusão entre a Oi e a Brasil
Telecom, o setor de telecomunicações pode recuperar parte
do prestígio e da relevância que
já teve no mercado acionário
brasileiro. Na visão de analistas, o sucesso das ações das teles na Bolsa nos próximos meses vai depender do quanto o
negócio hoje for transparente e
de como os acionistas minoritários serão tratados.
Nos anos 90, nenhum papel
era mais importante na Bolsa
do que as ações e depois os recibos da Telebrás, o de maior peso no Ibovespa de setembro de
1991 a maio de 2000. Pouco antes da privatização da empresa,
em agosto de 1998, os papéis de
telecom respondiam por 51%
do Ibovespa. Hoje, as empresas
de telefonia fixa não passam de
5% do índice, enquanto as celulares ficam em 2,8%.
O que aconteceu de errado?
O crescimento do setor de telecomunicações -incluindo a internet- foi sobredimensionado. A teles fixas pouco cresceram nos últimos anos e aumentou a competição na telefonia
móvel, que hoje atinge 124 milhões de unidades num país de
180 milhões de pessoas. O preço de commodities disparou,
aumentando a importância de
empresas ligadas à produção de
matérias-primas, como a Vale e
a Petrobras.
Mas grande parte do ostracismo a que o setor de telecom
foi relegado no mercado acionário brasileiro nos últimos oito anos se deve, na avaliação de
analistas, à pouca transparência, disputas societárias e desrespeito aos minoritários.
E minoritários, no caso, são
bancos e grandes fundos de investimento estrangeiros, responsáveis pelo boom de aberturas de capital e pela enxurrada de recursos que levou o dólar a menos de R$ 2,00.
A Telemar tentou duas vezes
recomprar suas ações preferenciais, mas não chegou a um
acordo com os preferencialistas e teve frustrado seu projeto
de entrar no Novo Mercado da
Bovespa, segmento que zela pelas boas práticas de governança
corporativa.
O negócio envolvendo Oi e
Brasil Telecom, por exemplo,
envolve a análise de nove papéis, não necessariamente com
a liquidez restrita a dois ou três.
Tanto a Oi quanto a Brasil Telecom têm, além das empresas
operacionais, uma holding com
ações em Bolsa e diferentes sócios, que se organizam em outros blocos de acionistas.
"Se para gente é confuso entender os papéis, imagina para
os estrangeiros. O setor perdeu
o charme que tinha", disse Alan
Cardoso, da Prosper Corretora.
O nó de participações cruzadas dificulta o entendimento da
ação como parte de uma empresa. Ou seja, o setor deixou de
responder ao que os analistas
chamam de fundamentos
-vendas, retorno, investimentos e perspectivas de negócio.
A analista Beatriz Batelli, da
Brascan, ressalta que as teles
brasileiras estão com preços
bastante atrás do restante do
mundo. "A dificuldade de negociação e a demora no anúncio
penalizou o setor. A reestruturação vai trazer os fundamentos de volta", disse.
Para Marcos Duarte, vice-presidente da Amec (associação de acionistas minoritários),
é cedo ainda para saber se o desenho da nova estrutura societária respeitará os interesse dos
minoritários e do mercado.
"Desde a última operação voluntária [de recompra de ações
da Oi], já houve uma mudança.
Há demonstrações claras de
melhora na governança e na
transparência. Mas estamos
em alerta. Tem de ver como é
que a pizza [composição dos
novos donos] vai se encaixar."
(TONI SCIARRETTA)
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