São Paulo, terça-feira, 31 de março de 2009

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Obama rejeita planos de GM e Chrysler e dá ultimato

Montadoras, que pediam mais US$ 21,6 bi ao governo, terão última chance de se ajustarem

Especula-se que empresas poderiam ser divididas em partes "boa" e "ruim'; Chrysler deve fechar parceria com a Fiat

ANDREA MURTA
DE NOVA YORK

O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, afirmou que as gigantes automotivas General Motors e Chrysler fracassaram em apresentar planos de restruturação viáveis e não receberão, por enquanto, US$ 21,6 bilhões requisitados para evitar a bancarrota. A GM terá mais 60 dias, e a Chrysler, mais 30 dias para reformular as estratégias, na última chance de provar que podem sair do buraco.
As duas receberão pequena ajuda de valor não especificado para operar até lá. Foi o mais duro recado do governo ao setor até hoje: a análise é que a GM poderá se reerguer desde que enxugue mais profundamente custos e dívidas, mas que a Chrysler não tem chance de se manter de pé sozinha. Ela deverá usar o novo prazo para fechar parceria em negociação com a italiana Fiat, que permitiria acesso a mais US$ 6 bilhões em verba pública.
"Não podemos, não devemos e não vamos deixar nossa indústria automotiva simplesmente desaparecer", disse Obama. "[Mas] não podemos tornar sua sobrevivência dependente de um fluxo interminável de dólares do contribuinte."
Ele sugeriu que um "processo estruturado e cirúrgico de concordata" pode ser a melhor opção para o setor. Uma possibilidade aventada por pessoas próximas à negociação é que as empresas seriam divididas em componentes "bons" e "ruins". O governo deixaria a "nova GM" avançar sozinha com novos contratos e as marcas Chevrolet e Cadillac, enquanto a "GM velha" manteria a Hummer, a Saturn e os pesados contratos trabalhistas atuais. A "boa Chrysler" seria vendida à Fiat, e o restante passaria por longa falência.
Hoje, as duas gigantes só se mantêm ativas graças ao dinheiro do governo. Desde dezembro último, a GM já recebeu US$ 13,4 bilhões, e a Chrysler, US$ 4 bilhões. Em fevereiro, a GM pediu mais US$ 16,6 bilhões, e a Chrysler, mais US$ 5 bilhões.
Da GM, além de um novo e mais agressivo plano, o governo exigiu também a cabeça do presidente-executivo, Richard Wagoner, que deixou oficialmente o cargo ontem. A força-tarefa federal deverá participar ativamente da reformulação da estratégia de sobrevivência da montadora nos próximos dois meses.
"No curto prazo, as exigências de Obama para a GM são boas", disse à Folha Howard Wial, economista e ex-analista de tecnologia do Departamento do Trabalho dos EUA. "Mas não são suficientes para o longo prazo, pois o problema da GM não é de custo, é de qualidade e inovação."
Wial não concordou, contudo, que a parceria salvará a Chrysler: "Não vejo qual o benefício de fazê-la produzir carros que a Fiat desenhou para a Europa." A empresa afirmou em nota que havia firmado um "quadro geral" de aliança com a italiana, na qual trocará ações por tecnologia para fabricação de carros pequenos.

Intervencionismo
Os anúncios de Obama foram recebidos nos Estados Unidos como uma das maiores amostras de intervencionismo governamental em uma empresa privada desde a Grande Depressão. O presidente se apressou em dizer que "o governo dos EUA não tem interesse em gerenciar a GM". Ele também tentou aumentar a confiança do consumidor nas empresas, afirmando que as garantias de carros novos terão suporte do governo. Também haverá novos incentivos de impostos para compra de carros.
A reação dos mercados foi negativa. As ações da GM caíram 25%, para US$ 2,70. As da Ford, que não pediu dinheiro ao governo, caíram 1,74% e foram a US$ 1,70. A Chrysler tem capital fechado.
Procurada no Brasil, a GM não se pronunciou sobre o assunto ontem. A montadora deverá realizar uma conferência com jornalistas para tratar da questão hoje.


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