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Obama rejeita planos de GM e Chrysler e dá ultimato
Montadoras, que pediam mais US$ 21,6 bi ao governo, terão última chance de se ajustarem
Especula-se que empresas poderiam ser divididas
em partes "boa" e "ruim'; Chrysler deve fechar parceria com a Fiat
ANDREA MURTA
DE NOVA YORK
O presidente dos Estados
Unidos, Barack Obama, afirmou que as gigantes automotivas General Motors e Chrysler
fracassaram em apresentar
planos de restruturação viáveis
e não receberão, por enquanto,
US$ 21,6 bilhões requisitados
para evitar a bancarrota. A GM
terá mais 60 dias, e a Chrysler,
mais 30 dias para reformular as
estratégias, na última chance
de provar que podem sair do
buraco.
As duas receberão pequena
ajuda de valor não especificado
para operar até lá. Foi o mais
duro recado do governo ao setor até hoje: a análise é que a
GM poderá se reerguer desde
que enxugue mais profundamente custos e dívidas, mas
que a Chrysler não tem chance
de se manter de pé sozinha. Ela
deverá usar o novo prazo para
fechar parceria em negociação
com a italiana Fiat, que permitiria acesso a mais US$ 6 bilhões em verba pública.
"Não podemos, não devemos
e não vamos deixar nossa indústria automotiva simplesmente desaparecer", disse Obama. "[Mas] não podemos tornar sua sobrevivência dependente de um fluxo interminável
de dólares do contribuinte."
Ele sugeriu que um "processo estruturado e cirúrgico de
concordata" pode ser a melhor
opção para o setor. Uma possibilidade aventada por pessoas
próximas à negociação é que as
empresas seriam divididas em
componentes "bons" e "ruins".
O governo deixaria a "nova
GM" avançar sozinha com novos contratos e as marcas Chevrolet e Cadillac, enquanto a
"GM velha" manteria a Hummer, a Saturn e os pesados contratos trabalhistas atuais. A
"boa Chrysler" seria vendida à
Fiat, e o restante passaria por
longa falência.
Hoje, as duas gigantes só se
mantêm ativas graças ao dinheiro do governo. Desde dezembro último, a GM já recebeu US$ 13,4 bilhões, e a
Chrysler, US$ 4 bilhões. Em fevereiro, a GM pediu mais US$
16,6 bilhões, e a Chrysler, mais
US$ 5 bilhões.
Da GM, além de um novo e
mais agressivo plano, o governo
exigiu também a cabeça do presidente-executivo, Richard
Wagoner, que deixou oficialmente o cargo ontem. A força-tarefa federal deverá participar
ativamente da reformulação da
estratégia de sobrevivência da
montadora nos próximos dois
meses.
"No curto prazo, as exigências de Obama para a GM são
boas", disse à Folha Howard
Wial, economista e ex-analista
de tecnologia do Departamento do Trabalho dos EUA. "Mas
não são suficientes para o longo prazo, pois o problema da
GM não é de custo, é de qualidade e inovação."
Wial não concordou, contudo, que a parceria salvará a
Chrysler: "Não vejo qual o benefício de fazê-la produzir carros que a Fiat desenhou para a
Europa." A empresa afirmou
em nota que havia firmado um
"quadro geral" de aliança com a
italiana, na qual trocará ações
por tecnologia para fabricação
de carros pequenos.
Intervencionismo
Os anúncios de Obama foram
recebidos nos Estados Unidos
como uma das maiores amostras de intervencionismo governamental em uma empresa
privada desde a Grande Depressão. O presidente se apressou em dizer que "o governo
dos EUA não tem interesse em
gerenciar a GM". Ele também
tentou aumentar a confiança
do consumidor nas empresas,
afirmando que as garantias de
carros novos terão suporte do
governo. Também haverá novos incentivos de impostos para compra de carros.
A reação dos mercados foi
negativa. As ações da GM caíram 25%, para US$ 2,70. As da
Ford, que não pediu dinheiro
ao governo, caíram 1,74% e foram a US$ 1,70. A Chrysler tem
capital fechado.
Procurada no Brasil, a GM
não se pronunciou sobre o assunto ontem. A montadora deverá realizar uma conferência
com jornalistas para tratar da
questão hoje.
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