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São Paulo, sábado, 31 de maio de 2003

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ESCASSO E CARO

Total de dinheiro para empréstimos e financiamentos cai a 23% do PIB, menor nível pelo menos desde 94

Oferta de crédito não pára de cair no país

MARCELO BILLI
DA REPORTAGEM LOCAL

A quantidade de dinheiro destinada a empréstimos e financiamentos na economia brasileira não pára de cair. Em 1995, as operações de crédito chegaram a representar 36% do PIB (Produto Interno Bruto). Em abril deste ano, o total de crédito disponível na economia foi de apenas 23% do PIB -em julho de 1994, lançamento do Real, era de 33%.
A disponibilidade de crédito é um dos pré-requisitos para que a economia possa crescer de forma sustentável. O consumo das famílias geralmente corresponde a mais da metade da economia dos países e, para manterem níveis de consumo altos, as famílias necessitam de crédito relativamente barato. Nos Estados Unidos, onde a economia nos últimos anos tem sido "salva" pelos consumidores, a quantidade de crédito concedida às empresas e famílias corresponde a 145% do PIB.
No Brasil, o crédito tem encolhido porque tanto a procura quanto a oferta de empréstimos caíram. A maior parte das carteiras dos bancos -compostas, por exemplo, pelos recursos arrecadados em fundos e contas de poupança- é destinada à compra de títulos públicos, operação menos arriscada do que a concessão de crédito para famílias e empresas.
Por outro lado, os bancos oferecem crédito à taxas altas. A taxa de juros básica, definida pelo Banco Central, está em 26,5%. À taxa básica, as instituições acrescem custos administrativos, custos por inadimplência, impostos e margem de lucro. Assim, um empréstimo de cheque especial tem juros não menores do que 150% ao ano. Confrontados com o alto custo do crédito e com um cenário econômico adverso, tanto os consumidores quanto os empresários preferem se endividar o mínimo possível e esperar tempos melhores.
"As grandes empresas conseguem até driblar a situação. Mas as pequenas e médias e os consumidores não", diz Fernando Ferreira, analista da Globalinvest.
A economia brasileira ficou estagnada no primeiro trimestre deste ano -caiu 0,1% em relação aos últimos três meses de 2002. Um dos motivos foi a queda do consumo das famílias que, na avaliação dos analistas, tiveram que retrair os gastos devido à queda da renda e à falta de crédito.
A retração do consumo diminui a procura por produtos da indústria, que também é obrigada a reduzir a produção. Além disso, o crédito caro também representa um custo maior para o setor industrial que, quando não pode recorrer ao mercado de crédito internacional, paga juros altos para financiar a produção, ou a financia com recursos próprios.
Na avaliação de Ferreira, é preciso "arte por parte do empresariado para sobreviver a um ambiente econômico tão hostil ao investimento produtivo".
A falta de crédito mobiliza os empresários desde o início do sistema de metas de inflação, em 1999, quando o governo começou a usar os juros para conter a alta de preços. Clarice Messer, diretora da Fiesp , critica a falta de crédito e a manutenção de juros elevados praticamente todos os meses quando divulga o desempenho da indústria de São Paulo.
Nesta semana, o ministro Guido Mantega (Planejamento) chegou a ir à Febraban, federação que representa os bancos, "pedir" que as instituições reduzam o "spread bancário", ou seja, a diferença entre a taxa básica de juros definida pelo BC e as taxas cobradas pelos bancos nas operações de crédito. Outro ministro, José Dirceu (Casa Civil), insinuou que os bancos tinham espaço para reduzir os juros mesmo que o BC não o faça.
Os bancos argumentam que a redução do spread depende da melhora das condições macroeconômicas -e, portanto, da redução dos juros básicos. Os banqueiros também dizem que o custo da intermediação financeira é muito alto -eles apontam para custos administrativos e para a chamada cunha fiscal, os impostos que incidem sobre as operações financeiras. Outra dificuldade para reduzir o "spread", na avaliação do sistema financeiro, é a dificuldade criada pela atual legislação -a lei de falência, cuja mudança está em estudo - para executar dívidas bancárias.


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