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ESCASSO E CARO
Total de dinheiro para empréstimos e financiamentos cai a 23% do PIB, menor nível pelo menos desde 94
Oferta de crédito não pára de cair no país
MARCELO BILLI
DA REPORTAGEM LOCAL
A quantidade de dinheiro destinada a empréstimos e financiamentos na economia brasileira
não pára de cair. Em 1995, as operações de crédito chegaram a representar 36% do PIB (Produto
Interno Bruto). Em abril deste
ano, o total de crédito disponível
na economia foi de apenas 23%
do PIB -em julho de 1994, lançamento do Real, era de 33%.
A disponibilidade de crédito é
um dos pré-requisitos para que a
economia possa crescer de forma
sustentável. O consumo das famílias geralmente corresponde a
mais da metade da economia dos
países e, para manterem níveis de
consumo altos, as famílias necessitam de crédito relativamente
barato. Nos Estados Unidos, onde
a economia nos últimos anos tem
sido "salva" pelos consumidores,
a quantidade de crédito concedida às empresas e famílias corresponde a 145% do PIB.
No Brasil, o crédito tem encolhido porque tanto a procura quanto
a oferta de empréstimos caíram.
A maior parte das carteiras dos
bancos -compostas, por exemplo, pelos recursos arrecadados
em fundos e contas de poupança- é destinada à compra de títulos públicos, operação menos
arriscada do que a concessão de
crédito para famílias e empresas.
Por outro lado, os bancos oferecem crédito à taxas altas. A taxa de
juros básica, definida pelo Banco
Central, está em 26,5%. À taxa básica, as instituições acrescem custos administrativos, custos por
inadimplência, impostos e margem de lucro. Assim, um empréstimo de cheque especial tem juros
não menores do que 150% ao ano.
Confrontados com o alto custo do
crédito e com um cenário econômico adverso, tanto os consumidores quanto os empresários preferem se endividar o mínimo possível e esperar tempos melhores.
"As grandes empresas conseguem até driblar a situação. Mas
as pequenas e médias e os consumidores não", diz Fernando Ferreira, analista da Globalinvest.
A economia brasileira ficou estagnada no primeiro trimestre
deste ano -caiu 0,1% em relação
aos últimos três meses de 2002.
Um dos motivos foi a queda do
consumo das famílias que, na
avaliação dos analistas, tiveram
que retrair os gastos devido à queda da renda e à falta de crédito.
A retração do consumo diminui
a procura por produtos da indústria, que também é obrigada a reduzir a produção. Além disso, o
crédito caro também representa
um custo maior para o setor industrial que, quando não pode recorrer ao mercado de crédito internacional, paga juros altos para
financiar a produção, ou a financia com recursos próprios.
Na avaliação de Ferreira, é preciso "arte por parte do empresariado para sobreviver a um ambiente econômico tão hostil ao investimento produtivo".
A falta de crédito mobiliza os
empresários desde o início do sistema de metas de inflação, em
1999, quando o governo começou
a usar os juros para conter a alta
de preços. Clarice Messer, diretora da Fiesp , critica a falta de crédito e a manutenção de juros elevados praticamente todos os meses
quando divulga o desempenho da
indústria de São Paulo.
Nesta semana, o ministro Guido
Mantega (Planejamento) chegou
a ir à Febraban, federação que representa os bancos, "pedir" que
as instituições reduzam o "spread
bancário", ou seja, a diferença entre a taxa básica de juros definida
pelo BC e as taxas cobradas pelos
bancos nas operações de crédito.
Outro ministro, José Dirceu (Casa
Civil), insinuou que os bancos tinham espaço para reduzir os juros mesmo que o BC não o faça.
Os bancos argumentam que a
redução do spread depende da
melhora das condições macroeconômicas -e, portanto, da redução dos juros básicos. Os banqueiros também dizem que o custo da intermediação financeira é
muito alto -eles apontam para
custos administrativos e para a
chamada cunha fiscal, os impostos que incidem sobre as operações financeiras. Outra dificuldade para reduzir o "spread", na
avaliação do sistema financeiro, é
a dificuldade criada pela atual legislação -a lei de falência, cuja
mudança está em estudo - para
executar dívidas bancárias.
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