|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
LUÍS NASSIF
Ataque de nervos
O presidente do Banco
Central, Henrique Meirelles, já foi alvo de críticas e acusações variadas -geralmente,
infundadas. O que o teria levado a envolver a própria diretoria do Banco Central em uma
carta coletiva de protesto contra
"insinuações levianas" que teriam sido cometidas pela coluna
de quarta-feira passada?
Li e reli a coluna. Não havia
nenhuma acusação nem sequer
uma insinuação de ordem pessoal contra membros da atual e
de antigas diretorias do BC. Havia, sim, a crítica a essa distorção de entregar o comando do
BC a homens de mercado,
criando esse paradoxo de o
agente regulador ser o fiscal de
seu futuro empregador ou contratante. E a afirmação de que o
BC vem servindo de trampolim
para alavancar a carreira de
seus diretores no mercado -fato sabido pelo mercado e pela
torcida do Corinthians.
A reação de Meirelles foi desproporcional. Pela carta coletiva publicada ontem pela Folha,
todos os diretores presentes e
passados do banco são brasileiros absolutamente desprendidos, sem nenhum interesse de
ordem pessoal ou profissional
ao aceitar o cargo, a não ser o de
servir a sua pátria. Só faltou
equipará-los a voluntários sociais.
O que está por trás desse ataque de nervos é outra coisa. É o
fato de aqui, nesta coluna, se terem desmontado versões fantasiosas sobre a carreira internacional de Meirelles -como o fato de jamais ter sido o CEO do
BankBoston, como a imprensa
inteira supunha. Também de se
ter criticado sua intenção de induzir a uma queda maior do
dólar e não se ter levado a sério
sua explicação de que, ao afirmar que havia espaço para
maior queda da cotação da
moeda, não pretendia influenciar o mercado.
Meirelles tem uma personalidade exuberante, com sonhos
grandiosos. Fez carreira bem-sucedida no exterior, mas as
versões que circulavam por aqui
sempre foram maiores que a
realidade. De volta ao Brasil,
anunciou seu ingresso na política, sonhando com a Presidência
da República. Como este é um
país provinciano, essa conversa
impressionou de eleitores do interior de Goiás a dois presidentes da República.
Cometi, aqui, o atrevimento
de reduzir Meirelles ao seu devido tamanho -que é relevante,
mas muito menor do que ele
gostaria. Para não passar recibo
em relação a críticas específicas
a ele, vale-se de uma crítica geral e institucional ao modelo de
indicação de diretores do BC
para ir à forra. A carta é boa para mostrar aspectos da personalidade de um homem que ocupa
cargo institucionalmente relevante.
É pena que outros diretores do
BC tenham se deixado envolver
por esse clima de chiliques e exposto a instituição a um episódio ridículo.
E-mail - Luisnassif@uol.com.br
Texto Anterior: Escasso e caro: Oferta de crédito não pára de cair no país Próximo Texto: Colarinho branco: Justiça condena ex-diretores da CEF Índice
|