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São Paulo, sábado, 31 de maio de 2003

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LUÍS NASSIF

Ataque de nervos

O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, já foi alvo de críticas e acusações variadas -geralmente, infundadas. O que o teria levado a envolver a própria diretoria do Banco Central em uma carta coletiva de protesto contra "insinuações levianas" que teriam sido cometidas pela coluna de quarta-feira passada?
Li e reli a coluna. Não havia nenhuma acusação nem sequer uma insinuação de ordem pessoal contra membros da atual e de antigas diretorias do BC. Havia, sim, a crítica a essa distorção de entregar o comando do BC a homens de mercado, criando esse paradoxo de o agente regulador ser o fiscal de seu futuro empregador ou contratante. E a afirmação de que o BC vem servindo de trampolim para alavancar a carreira de seus diretores no mercado -fato sabido pelo mercado e pela torcida do Corinthians.
A reação de Meirelles foi desproporcional. Pela carta coletiva publicada ontem pela Folha, todos os diretores presentes e passados do banco são brasileiros absolutamente desprendidos, sem nenhum interesse de ordem pessoal ou profissional ao aceitar o cargo, a não ser o de servir a sua pátria. Só faltou equipará-los a voluntários sociais.
O que está por trás desse ataque de nervos é outra coisa. É o fato de aqui, nesta coluna, se terem desmontado versões fantasiosas sobre a carreira internacional de Meirelles -como o fato de jamais ter sido o CEO do BankBoston, como a imprensa inteira supunha. Também de se ter criticado sua intenção de induzir a uma queda maior do dólar e não se ter levado a sério sua explicação de que, ao afirmar que havia espaço para maior queda da cotação da moeda, não pretendia influenciar o mercado.
Meirelles tem uma personalidade exuberante, com sonhos grandiosos. Fez carreira bem-sucedida no exterior, mas as versões que circulavam por aqui sempre foram maiores que a realidade. De volta ao Brasil, anunciou seu ingresso na política, sonhando com a Presidência da República. Como este é um país provinciano, essa conversa impressionou de eleitores do interior de Goiás a dois presidentes da República.
Cometi, aqui, o atrevimento de reduzir Meirelles ao seu devido tamanho -que é relevante, mas muito menor do que ele gostaria. Para não passar recibo em relação a críticas específicas a ele, vale-se de uma crítica geral e institucional ao modelo de indicação de diretores do BC para ir à forra. A carta é boa para mostrar aspectos da personalidade de um homem que ocupa cargo institucionalmente relevante.
É pena que outros diretores do BC tenham se deixado envolver por esse clima de chiliques e exposto a instituição a um episódio ridículo.

E-mail - Luisnassif@uol.com.br


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