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São Paulo, sábado, 31 de maio de 2003

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RECEITA ORTODOXA

Presidente leva ao G8 "contradição" entre taxa do BC e a do mercado

Lula minimiza taxa Selic e faz crítica a juros bancários

JOSÉ ALBERTO BOMBIG
DA REPORTAGEM LOCAL

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva "descobriu" ontem os juros reais da economia para defender a política praticada pelo BC (Banco Central) e esquivar-se das críticas recebidas nos últimos dias em razão do fraco desempenho produtivo do país neste ano.
Com um relatório do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) em mãos, ao deixar seu apartamento em São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo, Lula citou várias taxas para dizer que a Selic, de 26,5% ao ano, estipulada pelo BC, está muito abaixo dos juros impostos pelo mercado.
"Se todos os juros no Brasil tivessem o percentual da Selic, nós teríamos uma fila que daria a volta no planeta de gente querendo dinheiro a 26,5% ao ano. Qual é o problema do Brasil? Isto aqui [mostrando o relatório] é minha leitura de cabeceira no avião hoje", disse o presidente, que se encaminhava para o Aeroporto Internacional de Guarulhos, onde, à noite, embarcaria para a França.
Em seguida, Lula comentou trechos do estudo: "Vamos ver o juro para pessoa física no Brasil. Você tem o crédito direto ao consumidor, 2,27% ao mês e 66% ao ano, você tem o empréstimo pessoal, que é 6,12% ao mês e 92,9% ao ano, você tem no comércio 6,70% ao mês, 115% ao ano. O cheque especial paga 9,77% ao mês e 209% ao ano. Vamos ver pessoa jurídica agora. Desconto de cheque paga 4,68% ao mês, 73% ao ano; capital de giro, uma empresa que precisa de R$ 100 mil para seu capital de giro paga 4,73% ao mês e 74% ao ano; desconto de duplicatas, 4,89% ao mês, 77,3% ano. A taxa média para a pessoa jurídica é 5,12% ao mês, 78,15% ao ano. Para a pessoa física, a taxa média é 8,36% ao mês, 158% ao ano", disse Lula.
A Selic é a taxa básica de juros da economia. Para emprestar aos clientes, os bancos acrescem a ela custos administrativos, impostos, margem de lucro, taxa de risco.
"Agora, veja a contradição, veja que no mesmo período de 12 meses, de abril do ano passado até agora, o IGP-DI foi 32,37%, o IGP-M, 32,97%, o IPCA, 16,77%, e a taxa básica do BC, 26,5%. Você percebe que todos os índices estão muito abaixo do juros reais que as pessoas pagam e muitas vezes não se dão conta de que estão pagando", completou Lula.
Ele disse que iria demonstrar essa contradição no encontro do G8, na cidade francesa de Evian. Segundo Lula, uma de suas tarefas na França também será lutar pela diminuição das barreiras comerciais. "Não é uma conversa fácil, é difícil. Eu não sou o primeiro a tentar, outros já tentaram antes de mim, mas, como a política é muito dinâmica, eu estou convencido de que a ordem econômica mundial começa a pensar melhor em como resolver os problemas dos países emergentes."

Regime radical
Ao deixar o apartamento, Lula comemorou sua boa forma -perdeu quase cinco quilos-, mas disse que está "louco para voltar a comer guloseimas quando acabar a dieta".
O presidente está sob rigorosa dieta. Lula disse que não iria "dar a receita de seu regime". "Não me peso, sei que estou bem", disse, para depois afirmar que acorda às 6h para caminhar ou correr.


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