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São Paulo, sábado, 31 de maio de 2003

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Fiesp acusa "agiotagem oficial" com juros e impostos

JOSÉ ALAN DIAS
DA REPORTAGEM LOCAL

O diretor do Departamento de Economia da Fiesp, Roberto Faldini, sustentou ontem que o governo pratica ""agiotagem oficial". A ""agiotagem" decorreria, segundo as palavras de Faldini, proferidas diante do presidente do BC, Henrique Meirelles, do fato de as empresas transferirem para o governo, via tributos, e para o setor financeiro, via juros, ""parcelas crescentes de seus resultados".
Os comentários constavam no discurso apresentado em um seminário sobre perspectiva da economia brasileira. No texto, críticas ao sistema tributário que, segundo o representante da Fiesp, ""compete com os juros e a falta de crédito como inibidor do consumo e da produção". Em um dos trechos afirmou (repetindo o presidente Lula) que a culpa das mazelas do país ""nunca é nossa", em referência às sucessivas crises da economia. Para completar.
""Nesses tempos de Sars, estou mais preocupado com a síndrome de Gustavo Franco (ex-presidente do BC) que está se espalhando por Brasília (em referência aos juros altos; na verdade, o choque de juros de 1999 foi promovido por Armínio Fraga, logo após a derrocada do real)", afirmou Faldini. ""A consequência, me desculpem, dessa "agiotagem oficial", é que, além de não investir, não poder crescer, as empresas brasileiras transferem parcelas crescentes de seus resultados ao governo, via tributos, e ao sistema financeiro, via juros", disse.
Acompanhavam o discurso, além de Meirelles, outros dois palestrantes, o economista-chefe do Unibanco, Alexandre Schwartsman, e o economista-chefe do ABN Amro em Nova York, Arturo Porzecanski. Meirelles, que seria o último a fazer sua apresentação, permaneceu impassível.
Não foi a única crítica proferida pelo integrante da Fiesp. De acordo com Faldini, o BC faz ""eco" às declarações da Febraban de que o "spread" (diferença de juros) bancário é alto por conta da inadimplência e que uma das saídas seria a melhora do procedimento jurídico -e de aprovação de novas normas, como o projeto de Lei de Falência. ""Nossa Justiça é a mesma há 20 anos e os juros já foram muito mais baixos."
Ainda de acordo com o representante da Fiesp, o BC e o Ministério da Fazenda, ao longo dos últimos anos, "tocam o samba de uma nota só" -em referência à política de juros altos. ""No mundo real, juros significam despesas", disse. ""Depois de anos ouvindo que os juros iriam baixar, as declarações de nossos dirigentes têm sabor de requentado."
Não foi a primeira vez na semana em que a Fiesp dirigiu críticas ao governo. Na quarta, a entidade divulgou uma carta em que expressava ""preocupação com as lacunas" do projeto de reforma tributária. Uma das vozes do governo, o senador Aloizio Mercadante retrucou afirmando que ""os empresários não gostam da idéia de que a reforma vai diminuir a evasão, a sonegação e a elisão fiscal".
Ontem, o presidente do BC preferiu não rebater diretamente as críticas de Faldini. ""Existe uma tendência quando nos defrontamos com problemas de prepararmos uma lista e depois anunciarmos nossos desejos, de forma enfática e emocional. Mas podemos escurecer o debate. Não vou me dedicar a isso", disse Meirelles.
Em vez do embate, apoiou-se nos comentários dos dois economistas, Schwartsman e Porzecanski, que, em suas apresentações, teceram elogios à política macroeconômica do governo.

Juros
Ao comentar a política de juros altos mantida pelo BC, Meirelles usou o mesmo discurso repetido à exaustão nos últimos dias.
Segundo ele, a conduta do BC visa a ""quebra da inércia inflacionária" -de agregar aos preços futuros a inflação passada.
""É um processo penoso e difícil. Todos queremos que o país cresça, juros menores e diminuição do desemprego. Não existe uma maldade instalada em Brasília", afirmou o presidente do BC.
Ao comentar as pressões para queda dos juros, usou de analogia com a medicina. ""No momento em que a política monetária começa a fazer efeito, em que a febre baixa, é normal que cresça a ansiedade para encerrar o tratamento". Para completar: ""O BC que não tem condições de resistir a essa pressão dos diversos setores da sociedade vai fracassar".


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