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Fiesp acusa "agiotagem oficial" com juros e impostos
JOSÉ ALAN DIAS
DA REPORTAGEM LOCAL
O diretor do Departamento de
Economia da Fiesp, Roberto Faldini, sustentou ontem que o governo pratica ""agiotagem oficial".
A ""agiotagem" decorreria, segundo as palavras de Faldini, proferidas diante do presidente do BC,
Henrique Meirelles, do fato de as
empresas transferirem para o governo, via tributos, e para o setor
financeiro, via juros, ""parcelas
crescentes de seus resultados".
Os comentários constavam no
discurso apresentado em um seminário sobre perspectiva da economia brasileira. No texto, críticas ao sistema tributário que, segundo o representante da Fiesp,
""compete com os juros e a falta de
crédito como inibidor do consumo e da produção". Em um dos
trechos afirmou (repetindo o presidente Lula) que a culpa das mazelas do país ""nunca é nossa", em
referência às sucessivas crises da
economia. Para completar.
""Nesses tempos de Sars, estou
mais preocupado com a síndrome de Gustavo Franco (ex-presidente do BC) que está se espalhando por Brasília (em referência aos juros altos; na verdade, o
choque de juros de 1999 foi promovido por Armínio Fraga, logo
após a derrocada do real)", afirmou Faldini. ""A consequência,
me desculpem, dessa "agiotagem
oficial", é que, além de não investir, não poder crescer, as empresas brasileiras transferem parcelas
crescentes de seus resultados ao
governo, via tributos, e ao sistema
financeiro, via juros", disse.
Acompanhavam o discurso,
além de Meirelles, outros dois palestrantes, o economista-chefe do
Unibanco, Alexandre Schwartsman, e o economista-chefe do
ABN Amro em Nova York, Arturo Porzecanski. Meirelles, que seria o último a fazer sua apresentação, permaneceu impassível.
Não foi a única crítica proferida
pelo integrante da Fiesp. De acordo com Faldini, o BC faz ""eco" às
declarações da Febraban de que o
"spread" (diferença de juros)
bancário é alto por conta da inadimplência e que uma das saídas
seria a melhora do procedimento
jurídico -e de aprovação de novas normas, como o projeto de Lei
de Falência. ""Nossa Justiça é a
mesma há 20 anos e os juros já foram muito mais baixos."
Ainda de acordo com o representante da Fiesp, o BC e o Ministério da Fazenda, ao longo dos últimos anos, "tocam o samba de
uma nota só" -em referência à
política de juros altos. ""No mundo real, juros significam despesas", disse. ""Depois de anos ouvindo que os juros iriam baixar, as
declarações de nossos dirigentes
têm sabor de requentado."
Não foi a primeira vez na semana em que a Fiesp dirigiu críticas
ao governo. Na quarta, a entidade
divulgou uma carta em que expressava ""preocupação com as lacunas" do projeto de reforma tributária. Uma das vozes do governo, o senador Aloizio Mercadante
retrucou afirmando que ""os empresários não gostam da idéia de
que a reforma vai diminuir a evasão, a sonegação e a elisão fiscal".
Ontem, o presidente do BC preferiu não rebater diretamente as
críticas de Faldini. ""Existe uma
tendência quando nos defrontamos com problemas de prepararmos uma lista e depois anunciarmos nossos desejos, de forma enfática e emocional. Mas podemos
escurecer o debate. Não vou me
dedicar a isso", disse Meirelles.
Em vez do embate, apoiou-se
nos comentários dos dois economistas, Schwartsman e Porzecanski, que, em suas apresentações, teceram elogios à política
macroeconômica do governo.
Juros
Ao comentar a política de juros
altos mantida pelo BC, Meirelles
usou o mesmo discurso repetido
à exaustão nos últimos dias.
Segundo ele, a conduta do BC
visa a ""quebra da inércia inflacionária" -de agregar aos preços
futuros a inflação passada.
""É um processo penoso e difícil.
Todos queremos que o país cresça, juros menores e diminuição
do desemprego. Não existe uma
maldade instalada em Brasília",
afirmou o presidente do BC.
Ao comentar as pressões para
queda dos juros, usou de analogia
com a medicina. ""No momento
em que a política monetária começa a fazer efeito, em que a febre
baixa, é normal que cresça a ansiedade para encerrar o tratamento". Para completar: ""O BC que
não tem condições de resistir a essa pressão dos diversos setores da
sociedade vai fracassar".
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