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São Paulo, sábado, 31 de maio de 2003

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Para conselheiros de Lula, é cedo para julgar crescimento

VINICIUS ALBUQUERQUE
DA REPORTAGEM LOCAL

Conselheiros do CDES (Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social) ouvidos pela Folha entre quinta-feira e ontem dizem que a queda de 0,1% do PIB no primeiro trimestre deste ano em relação ao trimestre anterior era esperada, mas que ainda é cedo para julgar esse resultado. A Folha ouviu o ministro Tarso Genro e 10 dos 82 membros do conselho, entre representantes tanto do setor econômico (da indústria, do comércio e do setor financeiro), quanto personalidades da cultura, das entidades de classe e até do setor religioso. Seguem abaixo trechos das entrevistas.
 
JOSEPH COURI, presidente do Simpi (Sindicato da Micro e Pequena Indústria): "Os patamares de juros aplicados hoje no Brasil só são viáveis para quem produz e vende cocaína. O único jeito de termos mais emprego e produção é com crescimento do mercado interno, aumento do poder aquisitivo. Estamos esquecendo nosso mercado interno, o que é um crime."

COSETTE ALVES, presidente da Sociedade Amigos da Cinemateca Brasileira: "O governo diz que está rearrumando a casa para poder implantar a política de crescimento. É uma pena, mas com essa taxa de juros eu não esperava coisa diferente. É preocupante, mas é o que se esperava diante da taxa de juros."

DRÁUZIO VARELLA, médico: "A variação não foi tão brusca. Se as reformas forem bem encaminhadas no Congresso, poderemos esperar recuperação. Mas leva tempo para surtir efeito."

JOÃO RESENDE LIMA, presidente da Cobap (Confederação Brasileira de Aposentados e Pensionistas): "Seria preciso abrir a economia, baixar os juros, mas o governo fica nessa situação de "não é agora, não é agora...". É preciso gerar empregos. Não adianta ter uma inflação baixa com o povo morrendo de fome."

LUIZ GONZAGA BELLUZZO, economista: "Com a política macroeconômica que está aí, só pode haver recessão. No conselho, teremos que discutir essa questão [do crescimento] de maneira diferente. Teremos que ter clareza de que o prosseguimento dessa política não é capaz de fazer com que o país cresça."

ALCEU NIECKARZ, bispo evangélico: "Embora haja esses altos e baixo, comuns em qualquer sistema de governo, minha visão é otimista. O governo não está caminhando como um barco à deriva. No momento tem dificuldades, mas é possível uma reação. Creio que as reformas da Previdência e tributária precisam ser aprovadas."

CLÁUDIO SOARES DE OLIVEIRA FERREIRA, representante da Ordem dos Advogados do Brasil em Pernambuco: "Era o esperado. Mas ficou praticamente estável, não dá pra dizer que foi uma queda expressiva. Espantoso seria se tivesse havido algum crescimento. Mas acho que serve de meio de fiscalização para que se faça o país retomar o crescimento, que é o que todo mundo quer."

LUIS OTÁVIO GOMES, presidente da Confederação Nacional das Associações Comerciais: "Entendemos que o BC tem que cuidar da nossa moeda, mas os índices de inflação indicam queda. É hora de o BC ser menos conservador e começar a sinalizar para o mercado uma queda na taxa de juros. Ou se muda essa política econômica conservadora exagerada do Banco Central ou não vamos ter nem crescimento econômico nem desenvolvimento social, o que é grave."

GLACI THEREZINHA ZANCAN, presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência: "Em ciência e tecnologia, os investimentos só dão retorno cinco anos depois. As variações do primeiro trimestre deste ano ainda são reflexo do trimestre anterior."

TARSO GENRO, ministro coordenador do conselho de Desenvolvimento Econômico e Social: "A avaliação que eu faço é que nós vivemos em uma situação herdada. O país não pode ser jogado em um processo recessivo. Não é esta a intenção do presidente Lula, não é esta a intenção do ministro da Fazenda. O governo tem que agir com sobriedade e parcimônia para não fazer uma transição com taxas de crescimento que não sejam sustentáveis."

JOÃO FELÍCIO, presidente da CUT:
"Se o Produto Interno Bruto não cresce, mais gente entra na linha da miséria. É necessário rapidamente uma redução dos juros. A redução não pode ficar para agosto ou setembro. Se ficar, o ano acabou, porque é preciso um prazo para que a taxa de juros reduzida reflita na economia.


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