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São Paulo, sábado, 31 de maio de 2003

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VAREJO

Retração contínua das vendas leva redes a cortar pessoal; dispensas sobem 31,5% na capital no primeiro trimestre

Lojas vendem menos, e demissões crescem

ADRIANA MATTOS
MAELI PRADO

DA REPORTAGEM LOCAL

Como se não bastasse a retração histórica do varejo em março -atingiu naquele mês seu pior desempenho no país-, novos dados obtidos pela Folha mostram que a crise no setor se acentuou.
Só no primeiro trimestre foram demitidos quase 11,7 mil comerciários em São Paulo. O número é 31,5% superior ao do mesmo período do ano passado. Em abril, o varejo na capital paulista atingiu seu pior resultado em vendas a prazo desde março de 2002.
Mais do que isso: a fonte de recursos para investimentos no varejo pode secar. O BNDES, banco de fomento do governo, deve reduzir o volume de financiamento aos shopping centers (leia matéria abaixo).
"Estamos indo muito, muito mal mesmo. No primeiro quadrimestre tivemos queda real de 4% no faturamento. Em maio, pouco mudou", diz Valdemir Colleone, diretor da Lojas Cem.
"O consumo responde por 60% do PIB [Produto Interno Bruto]. Se a queda não cessar, vamos comprometer os resultados do PIB do segundo semestre", diz Hugo Penteado, economista do ABN Amro Asset Management.
Dados divulgados neste mês mostram que o total de consultas de lojas à Associação Comercial de São Paulo, para liberação de vendas parceladas, sofreu forte retração. A queda foi de 8,5% em abril em relação a igual mês em 2002.
Até então, o maior tropeço havia ocorrido em março do ano passado, quando a redução atingiu 10,2%. Ou seja, há ainda menos pessoas comprando do que no ano passado.
Com isso, o resultado não pode ser outro: as lojas têm problemas para obter financiamento, para pagar fornecedores, para investir e para manter empregados.
Exemplo: a Brasimac, loja popular de eletrônicos, foi embora de São Paulo, segundo a Folha apurou. As sete lojas que possuía na capital foram fechadas. Concordatária desde 1999, a rede chegou a ter mais de 50 pontos no país. No último ano, com a forte redução nas vendas, teve dificuldades para manter a receita.
A situação se agravou quando a indústria passou a não entregar eletrodomésticos à rede, que permanecia em concordata. A solução paliativa adotada pela cadeia foi vender apenas móveis.

Demissões crescem
O fechamento de lojas eleva o número de pessoas demitidas no setor. Número que cresceu muito em 2003. Segundo dados do Sindicato dos Empregados do Comércio de São Paulo, cerca de 11,7 mil pessoas assinaram rescisão de contrato, de janeiro a março, no sindicato. O total é 31,5% superior ao de igual período de 2002.
Segundo o economista Emílio Alfieri, da ACSP, a atual situação -consequência da fraca demanda, desestimulada por fatores como juros altos, crédito difícil e renda deprimida- sofreu uma piora gradativa a partir de janeiro deste ano.
No primeiro mês de 2003, houve aumento de 1,2% nas consultas ao SCPC em relação a janeiro do ano passado. Em fevereiro, a retração foi de 1,3% e, em março, a queda atingiu 4,2%. "As vendas foram piorando aos poucos, até chegarmos ao número complicado de abril", declarou Alfieri.
Os dados preliminares de maio da ACSP, de acordo com o economista, também mostram uma situação desconfortável: a queda foi de cerca de 4,9% até o dia 27 em relação ao mesmo período do ano passado.
"A política de não baixar juros é um remédio amargo, que tem reflexo imediato e negativo no consumo. O governo precisa definir suas prioridades, que no caso é o combate à inflação, mas o comércio é o primeiro a sentir", analisa o economista.
Os dados do Usecheque -termômetro das vendas à vista- revelam que as compras mais baratas também sofreram o impacto da situação econômica do país.


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