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VAREJO
Retração contínua das vendas leva redes a cortar pessoal; dispensas sobem 31,5% na capital no primeiro trimestre
Lojas vendem menos, e demissões crescem
ADRIANA MATTOS
MAELI PRADO
DA REPORTAGEM LOCAL
Como se não bastasse a retração
histórica do varejo em março
-atingiu naquele mês seu pior
desempenho no país-, novos
dados obtidos pela Folha mostram que a crise no setor se acentuou.
Só no primeiro trimestre foram
demitidos quase 11,7 mil comerciários em São Paulo. O número é
31,5% superior ao do mesmo período do ano passado. Em abril, o
varejo na capital paulista atingiu
seu pior resultado em vendas a
prazo desde março de 2002.
Mais do que isso: a fonte de recursos para investimentos no varejo pode secar. O BNDES, banco
de fomento do governo, deve reduzir o volume de financiamento
aos shopping centers (leia matéria
abaixo).
"Estamos indo muito, muito
mal mesmo. No primeiro quadrimestre tivemos queda real de 4%
no faturamento. Em maio, pouco
mudou", diz Valdemir Colleone,
diretor da Lojas Cem.
"O consumo responde por 60%
do PIB [Produto Interno Bruto].
Se a queda não cessar, vamos
comprometer os resultados do
PIB do segundo semestre", diz
Hugo Penteado, economista do
ABN Amro Asset Management.
Dados divulgados neste mês
mostram que o total de consultas
de lojas à Associação Comercial
de São Paulo, para liberação de
vendas parceladas, sofreu forte
retração. A queda foi de 8,5% em
abril em relação a igual mês em
2002.
Até então, o maior tropeço havia ocorrido em março do ano
passado, quando a redução atingiu 10,2%. Ou seja, há ainda menos pessoas comprando do que
no ano passado.
Com isso, o resultado não pode
ser outro: as lojas têm problemas
para obter financiamento, para
pagar fornecedores, para investir
e para manter empregados.
Exemplo: a Brasimac, loja popular de eletrônicos, foi embora
de São Paulo, segundo a Folha
apurou. As sete lojas que possuía
na capital foram fechadas. Concordatária desde 1999, a rede chegou a ter mais de 50 pontos no
país. No último ano, com a forte
redução nas vendas, teve dificuldades para manter a receita.
A situação se agravou quando a
indústria passou a não entregar
eletrodomésticos à rede, que permanecia em concordata. A solução paliativa adotada pela cadeia
foi vender apenas móveis.
Demissões crescem
O fechamento de lojas eleva o
número de pessoas demitidas no
setor. Número que cresceu muito
em 2003. Segundo dados do Sindicato dos Empregados do Comércio de São Paulo, cerca de 11,7
mil pessoas assinaram rescisão de
contrato, de janeiro a março, no
sindicato. O total é 31,5% superior
ao de igual período de 2002.
Segundo o economista Emílio
Alfieri, da ACSP, a atual situação
-consequência da fraca demanda, desestimulada por fatores como juros altos, crédito difícil e
renda deprimida- sofreu uma
piora gradativa a partir de janeiro
deste ano.
No primeiro mês de 2003, houve aumento de 1,2% nas consultas
ao SCPC em relação a janeiro do
ano passado. Em fevereiro, a retração foi de 1,3% e, em março, a
queda atingiu 4,2%. "As vendas
foram piorando aos poucos, até
chegarmos ao número complicado de abril", declarou Alfieri.
Os dados preliminares de maio
da ACSP, de acordo com o economista, também mostram uma situação desconfortável: a queda foi
de cerca de 4,9% até o dia 27 em
relação ao mesmo período do ano
passado.
"A política de não baixar juros é
um remédio amargo, que tem reflexo imediato e negativo no consumo. O governo precisa definir
suas prioridades, que no caso é o
combate à inflação, mas o comércio é o primeiro a sentir", analisa
o economista.
Os dados do Usecheque -termômetro das vendas à vista- revelam que as compras mais baratas também sofreram o impacto
da situação econômica do país.
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