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São Paulo, sábado, 31 de maio de 2003

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BNDES deve restringir financiamento para comércio

ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

O BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) deve fechar a torneira de recursos para a expansão do comércio, especialmente dos shoppings, nos próximos anos. Esta é a única forma de financiamento usada pelo setor -que não é visto como prioridade pelo banco no momento. A Abrasce, entidade que representa os shoppings, diz que irá tentar reverter a situação.
Com a entrada do novo governo, está sendo reexaminada a política de distribuição de recursos do banco. Além da geração de empregos e da necessidade de financiamento, o BNDES leva em conta o retorno da aplicação.
No caso do varejo, as expectativas são ruins. Não há previsão de aumento na renda e no consumo da população. Com isso, reduz-se a capacidade de geração de caixa dos shoppings e, portanto, de pagamento das dívidas.
Até porque só o aluguel de lojas e as luvas (espécie de comissão paga ao empreendedor pelo ponto) não contribuem de forma considerável para a receita no início da operação dos shoppings.
Por conta desse cenário delicado, e da necessidade de o banco liberar recursos para outros setores (como petroquímica e automobilístico), o varejo será atingido.
"Os novos projetos de shoppings devem levar em conta o peso do endividamento no início da operação, de modo que o encargo decorrente do endividamento não comprometa o fluxo de caixa", informa relatório do banco sobre o setor obtido pela Folha.
"Não há má administração, o que há é uma dificuldade de geração de caixa que existe por causa da competição acirrada e da estagnação do comércio", diz Sérgio Eduardo da Rosa, gerente da área industrial do BNDES.
A Folha apurou que houve casos em que a geração de recursos de shoppings lançados não teria coberto os custos de financiamento de algumas obras.
O shopping Internacional Guarulhos teve dificuldade de arcar com as parcelas de financiamento do BNDES em 2001. Foi preciso que o banco alongasse os prazos de financiamento e reduzisse o spread (diferença entre os juros pagos pelo banco ao captar recursos no mercado, e o que ele recebe ao emprestar dinheiro).
A Abrasce informa saber do interesse do banco em reduzir a sua disposição para empréstimos. "Eles são a nossa única fonte de recursos. E já emprestam muito pouco", diz Reinaldo Feitosa Rique, da Abrasce. O setor responde por 0,6% da carteira de operações de crédito do banco.
Para Rique, o problema está na forma com que o BNDES "arquiteta" as operações. "A instituição dá dois anos de carência e seis anos de prazo de pagamento. É um período muito curto."
Segundo a Alshop, associação dos lojistas, em 2002, o setor cresceu 4%, mas, ao tirar dessa conta os lançamentos, a taxa cai para 2%. Para 2003, o setor espera 6% de expansão em termos reais.


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