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De olho no Copom, anúncio foi antecipado com o aval de Lula
SHEILA D'AMORIM
VALDO CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A decisão de antecipar o
anúncio do comprometimento
do governo com um esforço fiscal maior e o envio ao Congresso de um projeto de lei criando
o fundo soberano têm como pano de fundo a queda-de-braço
dentro da equipe econômica
por causa do controle da inflação. Previstas para a próxima
terça-feira, após reunião do
Conselho Político - que reúne
líderes do governo no Congresso e presidente de partidos aliados-, as medidas foram oficializadas, ontem, após uma conversa telefônica entre o ministro Guido Mantega (Fazenda) e
o presidente Lula.
De olho na reunião do Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central) na semana que vem, Mantega enfatizou que o excesso de arrecadação não se transformará em
mais gastos públicos, ajudando
o BC no controle da inflação.
Chegou a dizer que a política
econômica conduzida pela Fazenda anda "de mãos dadas"
com a política monetária do BC
para conter os preços.
Com isso, na prática, o ministro tenta retirar das suas costas
as críticas do mercado de que a
política fiscal atua em descompasso com a política monetária,
sobrecarregando as decisões de
elevação dos juros e empurrando para o BC o custo de medidas impopulares, como novos
aumentos da taxa Selic.
E faz isso na hora em que os
analistas elevaram as expectativas em relação à decisão do
Copom. As apostas em torno de
0,5 ponto percentual subiram
para até 0,75 ponto percentual.
O presidente do BC, Henrique Meirelles, divulgou uma
nota em que elogia a iniciativa
de incrementar a poupança pública, mas não faz nenhuma
menção à contribuição do esforço fiscal maior para o combate à inflação. Ao contrário, se
limita a dizer que "tal iniciativa
tende a contribuir para acelerar a redução da razão dívida/
PIB e a salvaguardar o equilíbrio financeiro do Estado ao
longo do ciclo econômico".
Meirelles se reuniu com
Mantega na noite de quarta-feira, tratou do tema e sabe que,
se o fundo soberano for aprovado pelo Congresso e consumir
os R$ 13 bilhões de excesso de
arrecadação, como anunciado,
não haverá redução da dívida
pública porque o dinheiro será
apartado da contabilidade oficial e funcionará como uma reserva técnica para momentos
de queda de arrecadação.
Telefone
Mantega tomou a decisão de
antecipar o anúncio das medidas após se reunir com o ex-ministro Antonio Palocci e o senador Aloizio Mercadante (PT-SP). Eles acertaram que nesta
primeira fase o fundo teria só
um objetivo fiscal. Faltava falar
com o presidente Lula.
Na conversa, o ministro foi
aconselhado a aguardar a volta
de Lula, em viagem ao exterior
até a próxima semana. Mantega, porém, disse que preferia falar com Lula naquele mesmo
dia por considerar importante
divulgar a decisão de fazer um
ajuste fiscal adicional antes da
reunião do Copom. Ganhou o
sinal verde de Lula por telefone. O presidente ainda estava
em dúvida se deveria autorizar
o anúncio oficial de que o governo faria um esforço fiscal
adicional. Acabou cedendo.
Colaborou JULIANA ROCHA ,
da Sucursal de Brasília
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