São Paulo, sábado, 31 de maio de 2008

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Cenário de juro alto ainda não abala otimismo na indústria

Índice de confiança medido pela FGV fica estável; demanda interna se mantém forte

Para analistas, no entanto, tendência é que haja piora na percepção das empresas nas próximas análises, à medida que BC eleve taxa


PAULO DE ARAUJO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

A expectativa de novo aumento na taxa de juros na próxima reunião do Copom (Comitê de Política Monetária), na semana que vem, ainda não abalou o otimismo dos empresários do setor industrial. O ICI (Índice de Confiança na Indústria), apurado pela FGV (Fundação Getulio Vargas), manteve-se praticamente inalterado neste mês em relação a abril, com ligeira oscilação negativa.
Em maio, o ICI alcançou 119,9 pontos, contra 120,3 pontos em abril, o que representa retração de 0,3%. Na comparação com maio de 2007, no entanto, houve acréscimo de 1,4%. Esse índice procura medir o sentimento do empresariado quanto à situação atual de negócios, bem como com relação a expectativas para os próximos seis meses.
O clima de confiança baseia-se no fato de que a indústria passa por uma situação de "estabilidade em patamar de crescimento", diz o coordenador do Núcleo de Pesquisas e Análises Econômicas do Ibre (Instituto Brasileiro de Economia) da FGV, Aloísio Campelo Júnior. "Aparentemente, o empresariado acredita que o aumento da taxa de juros será algo mais suave. E, por outro lado, há notícias positivas, como a conquista do grau de investimento. Há a impressão de que não é o fim do mundo", afirma.
Um dos fatores que puxaram para cima o ICI, a demanda interna mantém-se em alta. Dos empresários consultados na sondagem da FGV, 34% responderam que o nível de encomendas está forte, enquanto 8% afirmaram que a demanda está fraca.
Para Campelo, porém, a principal conclusão da pesquisa é que a indústria cresce sem os sinais de "superaquecimento" do ano passado. O Nível de Utilização de Capacidade subiu de 85,1% em abril para 85,6% em maio. "Vimos que não teve uma explosão no nível. Isso demonstra que houve maior investimento na indústria", diz. Ele menciona que os setores que antes estavam mais pressionados tiveram redução no nível de capacidade instalada. É o caso da indústria metalúrgica, que passou de 88,6% em abril para 88,2% em maio.

Expectativas
De acordo com Julio Gomes de Almeida, consultor do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial), a tendência é que haja "piora" na confiança nas próximas análises, em razão da alta dos juros. "Por enquanto, prevaleceu a percepção de que o Banco Central deverá proceder com um ajuste fino, nada radical", diz.
Já para o gerente do Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), André Rebelo, a indústria está em fase de "acomodação", após crescimento acelerado em 2007, e agora deve expandir-se em ritmo menor. "O problema é o ciclo de alta dos juros. Essa é uma decisão que pega na veia da indústria porque faz adiar o consumo."
Apesar do novo ciclo de alta da Selic, as condições para o crescimento da indústria ainda não sofreram modificação, diz André Macedo, técnico da Coordenação da Indústria do IBGE. Para ele, a produção industrial deve crescer no segundo trimestre a uma taxa semelhante à verificada entre janeiro e março, de 6,3%.


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