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EM TRANSE
Depois de dois trimestres em queda, PIB cresce, mas resultado (0,03%) dos últimos 12 meses ainda indica estagnação
PIB pára de cair, mas economia patina
CHICO SANTOS
DA SUCURSAL DO RIO
A economia brasileira ficou praticamente estagnada no primeiro
semestre deste ano, crescendo
apenas 0,14% em relação ao mesmo período do ano passado. Nos
12 meses entre julho de 2001 e junho deste ano, o crescimento foi
praticamente zero: 0,03%. A agricultura, que cresceu 4,51% no semestre, e os serviços (1,55%) evitaram um resultado pior. A indústria caiu 1,78%. Mas, se consideradas as medidas trimestrais, a
economia parou de cair, por ora,
após dois trimestres no vermelho
(na comparação com o mesmo
período do ano passado).
Para o economista Roberto
Olinto, coordenador da Equipe
Técnica de Contas Nacionais do
IBGE, a economia brasileira está
"indecisa", pressionada por fatores negativos como os juros elevados e a renda real em queda. Mas
ele rejeita o termo estagnação.
A avaliação de Olinto leva em
conta o resultado do segundo trimestre, quando o crescimento do
Produto Interno Bruto foi de
0,99% em relação ao mesmo período do ano passado, após queda
de 0,73% no primeiro trimestre.
Em relação ao primeiro trimestre deste ano, já descontados os
fatores típicos (sazonais) de cada
período, houve crescimento de
0,61%. Economistas ouvidos pela
Folha consideram os resultados
relativos à evolução trimestral os
mais adequados para avaliar a
economia brasileira nesta fase de
volatilidade.
Os resultados semestral e trimestral, em relação ao mesmo período de 2001, ficaram bem abaixo do que havia previsto na quarta-feira desta semana o Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica
Aplicada) que, da mesma forma
que o IBGE, responsável pelo cálculo oficial, é órgão público federal. O Ipea previu que o crescimento de janeiro a junho seria de
0,6%. No segundo trimestre do
ano, haveria crescimento de 1,9%.
Segundo Paulo Levy, coordenador do Grupo de Acompanhamento Conjuntural do Ipea, o erro ocorreu nos dados referentes a
impostos e a serviços. A diferença
teria ocorrido por limitações do
Ipea em termos de disponibilidade de dados. "O resultado mostra
que a desaceleração é maior do
que a gente esperava", disse. Segundo Levy, o número do IBGE já
fez com que o Ipea revisse sua
previsão de crescimento este ano
de 1,7% para 1,5%.
De um modo geral, o resultado
do segundo trimestre do ano, em
relação ao mesmo período do ano
passado, ficou abaixo do que previam os analistas. Um levantamento de 11 previsões mostrou
que, na média, o crescimento esperado era de 1,23% A consultoria
Tendências estimava que o número chegaria a 1,2%.
Para o economista Roberto Padovani, da Tendências, o resultado não ficou muito diferente da
previsão. Ele também não vê necessidade de rever a estimativa
para o ano inteiro, que é de o país
crescer 1,6%, admitindo, no máximo, uma oscilação para 1,5%.
Padovani avalia que, superadas
as incertezas eleitorais, independentemente de quem venha a ser
o novo presidente da República,
haverá uma melhoria do cenário,
permitindo um final de ano de
crescimento. "Estou muito confiante em relação ao discurso dos
candidatos", afirmou.
Zeina Latif, economista-sênior
do BBV, também projeta crescimento de 1,5% para o ano. Para
ela, diante do quadro volátil, ficaram muito complicadas as comparações com o mesmo período
do ano anterior. Nessa comparação, o BBV esperava crescimento
de 0,4% de abril a junho.
Segundo Zeina, a realidade está
melhor refletida na comparação
trimestre a trimestre. Ela disse
que o crescimento menor que o
do primeiro trimestre nessa forma de comparação (0,61 contra
0,86) já era esperado, seja pelos
primeiros efeitos da turbulência
econômica, seja porque o primeiro trimestre deste ano foi um momento de "ajuste" após seis meses
"muito ruins" em 2001.
A economista Simone Saisse,
coordenadora-adjunta da Unidade de Política Econômica da Confederação Nacional da Indústria,
avalia que estará mais próximo da
realidade quem disser que o crescimento do ano será de 1%.
"De onde virá o fôlego para um
crescimento maior? das exportações? Acho que falta combustível", disse. Essa falta, segundo ela,
está nos juros elevados e no crescimento negativo da renda real,
principalmente. Simone também
considera que o número trimestre
a trimestre é mais adequado para
se tirar conclusões e afirma que o
resultado de 0,61% a surpreendeu
favoravelmente.
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