São Paulo, sábado, 31 de agosto de 2002

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EM TRANSE

Depois de dois trimestres em queda, PIB cresce, mas resultado (0,03%) dos últimos 12 meses ainda indica estagnação

PIB pára de cair, mas economia patina

CHICO SANTOS
DA SUCURSAL DO RIO

A economia brasileira ficou praticamente estagnada no primeiro semestre deste ano, crescendo apenas 0,14% em relação ao mesmo período do ano passado. Nos 12 meses entre julho de 2001 e junho deste ano, o crescimento foi praticamente zero: 0,03%. A agricultura, que cresceu 4,51% no semestre, e os serviços (1,55%) evitaram um resultado pior. A indústria caiu 1,78%. Mas, se consideradas as medidas trimestrais, a economia parou de cair, por ora, após dois trimestres no vermelho (na comparação com o mesmo período do ano passado).
Para o economista Roberto Olinto, coordenador da Equipe Técnica de Contas Nacionais do IBGE, a economia brasileira está "indecisa", pressionada por fatores negativos como os juros elevados e a renda real em queda. Mas ele rejeita o termo estagnação.
A avaliação de Olinto leva em conta o resultado do segundo trimestre, quando o crescimento do Produto Interno Bruto foi de 0,99% em relação ao mesmo período do ano passado, após queda de 0,73% no primeiro trimestre.
Em relação ao primeiro trimestre deste ano, já descontados os fatores típicos (sazonais) de cada período, houve crescimento de 0,61%. Economistas ouvidos pela Folha consideram os resultados relativos à evolução trimestral os mais adequados para avaliar a economia brasileira nesta fase de volatilidade.
Os resultados semestral e trimestral, em relação ao mesmo período de 2001, ficaram bem abaixo do que havia previsto na quarta-feira desta semana o Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) que, da mesma forma que o IBGE, responsável pelo cálculo oficial, é órgão público federal. O Ipea previu que o crescimento de janeiro a junho seria de 0,6%. No segundo trimestre do ano, haveria crescimento de 1,9%.
Segundo Paulo Levy, coordenador do Grupo de Acompanhamento Conjuntural do Ipea, o erro ocorreu nos dados referentes a impostos e a serviços. A diferença teria ocorrido por limitações do Ipea em termos de disponibilidade de dados. "O resultado mostra que a desaceleração é maior do que a gente esperava", disse. Segundo Levy, o número do IBGE já fez com que o Ipea revisse sua previsão de crescimento este ano de 1,7% para 1,5%.
De um modo geral, o resultado do segundo trimestre do ano, em relação ao mesmo período do ano passado, ficou abaixo do que previam os analistas. Um levantamento de 11 previsões mostrou que, na média, o crescimento esperado era de 1,23% A consultoria Tendências estimava que o número chegaria a 1,2%.
Para o economista Roberto Padovani, da Tendências, o resultado não ficou muito diferente da previsão. Ele também não vê necessidade de rever a estimativa para o ano inteiro, que é de o país crescer 1,6%, admitindo, no máximo, uma oscilação para 1,5%.
Padovani avalia que, superadas as incertezas eleitorais, independentemente de quem venha a ser o novo presidente da República, haverá uma melhoria do cenário, permitindo um final de ano de crescimento. "Estou muito confiante em relação ao discurso dos candidatos", afirmou.
Zeina Latif, economista-sênior do BBV, também projeta crescimento de 1,5% para o ano. Para ela, diante do quadro volátil, ficaram muito complicadas as comparações com o mesmo período do ano anterior. Nessa comparação, o BBV esperava crescimento de 0,4% de abril a junho.
Segundo Zeina, a realidade está melhor refletida na comparação trimestre a trimestre. Ela disse que o crescimento menor que o do primeiro trimestre nessa forma de comparação (0,61 contra 0,86) já era esperado, seja pelos primeiros efeitos da turbulência econômica, seja porque o primeiro trimestre deste ano foi um momento de "ajuste" após seis meses "muito ruins" em 2001.
A economista Simone Saisse, coordenadora-adjunta da Unidade de Política Econômica da Confederação Nacional da Indústria, avalia que estará mais próximo da realidade quem disser que o crescimento do ano será de 1%.
"De onde virá o fôlego para um crescimento maior? das exportações? Acho que falta combustível", disse. Essa falta, segundo ela, está nos juros elevados e no crescimento negativo da renda real, principalmente. Simone também considera que o número trimestre a trimestre é mais adequado para se tirar conclusões e afirma que o resultado de 0,61% a surpreendeu favoravelmente.


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