São Paulo, sábado, 31 de agosto de 2002

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EM TRANSE

Cenário político mais tranquilo ajudou a derrubar a moeda norte-americana; risco-país também teve queda

Dólar cai 2% e fecha a semana em R$ 3,01

ANA PAULA RAGAZZI
DA REPORTAGEM LOCAL

Um cenário político-econômico mais tranquilo para os negócios levou o dólar a encerrar a semana com desvalorização de 3,22%.
A moeda norte-americana caiu 2,02% ontem, vendida a R$ 3,01. Durante o dia, chegou a ser negociada a R$ 2,99, abaixo dos R$ 3, portanto.
O risco-país brasileiro, calculado pelo JP Morgan, caiu mais 1,7% ontem, para 1.633 pontos. Na semana, a queda foi de 11,49%.
Mais do que boas notícias, o fluxo positivo definiu o dólar mais barato ontem. Segundo operadores do mercado financeiro, houve um ingresso de recursos de cerca de US$ 400 milhões vindos, de acordo com as informações desses profissionais, do Citibank.
Também colaborou para a calmaria o anúncio da Goldman Sachs, que elevou a sua classificação para o Brasil.
As mudanças nas regras dos leilões de linha de crédito também agradaram aos analistas.
O BC vai permitir o acesso de instituições financeiras não-cadastradas com a autoridade monetária às linhas de crédito para exportação por meio dos "dealers" (bancos autorizados a operar com o BC). A medida vigora a partir da terça-feira.
"As mudanças que o BC fez hoje [ontem" nos critérios de distribuição das linhas de crédito para exportação mostraram que o governo está atento às reclamações do mercado, o que melhorou o clima e favoreceu a baixa do dólar hoje [ontem"", afirma Clive Botelho, diretor de investimentos do banco Santos.
Pelo segundo dia consecutivo houve fracasso no leilão de linhas de crédito para a exportação.
Prosseguiu no mercado ontem a especulação com o resultado de pesquisas eleitorais que serão divulgadas no final de semana.
O mercado espera que as sondagens tragam nova melhora no desempenho do candidato do governo, José Serra (PSDB). Os boatos falavam que Serra empataria com Ciro Gomes (PPS) ou assumiria o segundo lugar.
O candidato do PSDB é o preferido dos investidores por representar, em sua visão, a continuidade da atual política econômica. Há dias, o mercado chegou a considerá-lo fora da disputa.

Mudança de rumo
A notícia desta semana, de que Serra cresceu nas pesquisas com a propaganda na TV, já faz com que alguns analistas acreditem que as perspectivas para o Brasil possam voltar a ser otimistas.
"Se o cenário eleitoral continuar tranquilo para o mercado, poderemos ter um cenário menos nebuloso, com o dólar acentuando a queda", afirma Wilson Ramião, economista do Lloyds TSB.
Ele avalia que é sempre mais fácil o mercado comprar uma expectativa negativa do que uma positiva. "O dólar sobe de elevador, mas desce de escada."
O fato de o BC ter rolado 91% da dívida cambial que vence na segunda-feira também foi fundamental para que o dólar perdesse sua força de alta na semana.
Segundo analistas, a moeda poderá cair mais nos próximos dias com a perspectiva da volta do crédito internacional ao Brasil, o melhor desempenho de Serra e também pelo fato de que em setembro os vencimentos dos setores público e privado são bastante reduzidos. Desde que começou a vender dólares tirados das reservas internacionais do país para financiar os exportadores, o BC já gastou US$ 438,5 milhões.
Somados com as intervenções feitas no mercado de câmbio, os gastos do BC neste mês chegam a cerca de US$ 2,2 bilhões.


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