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COMENTÁRIO
Retração atinge serviços, e exportação não salva indústria
DA REPORTAGEM LOCAL
A economia brasileira cresceu menos do que o esperado no segundo trimestre. O desempenho especialmente ruim do setor de serviços surpreendeu tanto quanto o resultado ligeiramente positivo da indústria de transformação.
Mas é natural que o setor de serviços sofra com a crise por que
passa a economia brasileira. Os
juros estão altos, o crédito para
empresas e para consumidores é
menor e a renda está em queda.
Ao contrário de parte da indústria, que tem a válvula de escape
das exportações, os serviços dependem exclusivamente do mercado interno. Daí o resultado, ainda que positivo (mais 1,4%), ter sido muito abaixo do esperado.
Os resultados divulgados ontem
devem fazer muitos analistas reverem suas projeções. A maioria
esperava um resultado pior para a
indústria, que cresceu modesto
0,3%, e melhor para os serviços.
Ainda é cedo para fazer uma
avaliação dos impactos da taxa de
câmbio desvalorizada na indústria, mas o resultado do setor sugere que pelo menos uma parte
das empresas está aumentando
ou mantendo a produção graças
ao mercado externo, já que os
produtos brasileiros, com o dólar
a cerca de R$ 3, ficam mais baratos no mercado internacional.
Ainda assim, as exportações
não deslancharam o suficiente
para impulsionar todo o setor.
Mas, ainda que as vendas externas
cresçam bastante, não são todas
as indústrias brasileiras que conseguem colocar seus produtos no
mercado externo. O mais provável é que a indústria chegue ao final deste ano como começou, ou
seja, que cresça muito pouco ou
mesmo encolha a produção.
Um aumento expressivo das exportações, apesar de positivo para
a indústria e para o resultado das
contas externas brasileiras, será
também sinal de que a economia
do país está se ajustando de forma
recessiva. Com juros altos e pouco
crédito, o consumo interno encolhe, as empresas não conseguem
vender seus produtos no mercado
interno e tentam realocá-los para
outros países.
O expediente funciona para as
indústrias que fazem produtos
com procura no mercado internacional. Para aquelas que fabricam itens que não podem ser exportados, a saída é a retração da
produção.
Os dados do primeiro semestre deste ano sugerem que é esse o caso da maioria das indústrias. Em relação aos seis primeiros meses de 2001, o PIB industrial caiu, no primeiro semestre de 2002, 1,8%.
O resultado da indústria de transformação foi um pouco melhor: menos 0,3%. Assim, mesmo com o câmbio desvalorizado, o setor industrial deve conseguir,
no máximo, manter a produção nos mesmos níveis observados no ano passado. (MARCELO BILLI)
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