São Paulo, sábado, 31 de agosto de 2002

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COMENTÁRIO

Retração atinge serviços, e exportação não salva indústria

DA REPORTAGEM LOCAL

A economia brasileira cresceu menos do que o esperado no segundo trimestre. O desempenho especialmente ruim do setor de serviços surpreendeu tanto quanto o resultado ligeiramente positivo da indústria de transformação.
Mas é natural que o setor de serviços sofra com a crise por que passa a economia brasileira. Os juros estão altos, o crédito para empresas e para consumidores é menor e a renda está em queda.
Ao contrário de parte da indústria, que tem a válvula de escape das exportações, os serviços dependem exclusivamente do mercado interno. Daí o resultado, ainda que positivo (mais 1,4%), ter sido muito abaixo do esperado.
Os resultados divulgados ontem devem fazer muitos analistas reverem suas projeções. A maioria esperava um resultado pior para a indústria, que cresceu modesto 0,3%, e melhor para os serviços.
Ainda é cedo para fazer uma avaliação dos impactos da taxa de câmbio desvalorizada na indústria, mas o resultado do setor sugere que pelo menos uma parte das empresas está aumentando ou mantendo a produção graças ao mercado externo, já que os produtos brasileiros, com o dólar a cerca de R$ 3, ficam mais baratos no mercado internacional.
Ainda assim, as exportações não deslancharam o suficiente para impulsionar todo o setor. Mas, ainda que as vendas externas cresçam bastante, não são todas as indústrias brasileiras que conseguem colocar seus produtos no mercado externo. O mais provável é que a indústria chegue ao final deste ano como começou, ou seja, que cresça muito pouco ou mesmo encolha a produção.
Um aumento expressivo das exportações, apesar de positivo para a indústria e para o resultado das contas externas brasileiras, será também sinal de que a economia do país está se ajustando de forma recessiva. Com juros altos e pouco crédito, o consumo interno encolhe, as empresas não conseguem vender seus produtos no mercado interno e tentam realocá-los para outros países.
O expediente funciona para as indústrias que fazem produtos com procura no mercado internacional. Para aquelas que fabricam itens que não podem ser exportados, a saída é a retração da produção.
Os dados do primeiro semestre deste ano sugerem que é esse o caso da maioria das indústrias. Em relação aos seis primeiros meses de 2001, o PIB industrial caiu, no primeiro semestre de 2002, 1,8%.
O resultado da indústria de transformação foi um pouco melhor: menos 0,3%. Assim, mesmo com o câmbio desvalorizado, o setor industrial deve conseguir, no máximo, manter a produção nos mesmos níveis observados no ano passado. (MARCELO BILLI)


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