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Família não é empresa, reagem patrões
Empregadores questionam possível mudança em lei e dizem que relação com domésticos não é comercial, e sim de 'parceria'
Se encargos ficarem
muito pesados, custos
extras, como alimentação e
telefonemas, deveriam ser
descontados, diz patroa
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DA REPORTAGEM LOCAL
As mudanças na legislação
que trata da relação entre patrões e empregados domésticos, em estudo pelo governo,
provocam reação de empregadores. Para eles, essa relação
não pode ser encarada como a
de um funcionário e uma empresa, até porque uma família,
dizem, não é uma empresa.
Os trabalhadores domésticos
devem ter seus direitos ampliados, dizem os empregadores
ouvidos pela Folha. Mas, se os
encargos trabalhistas ficarem
"muito pesados", eles também
devem ter o direito de descontar custos extras dos empregados -especialmente daqueles
que residem no emprego-, que
hoje não são considerados na
hora de pagar os salários.
Com duas empregadas à disposição, a família Leite Ribeiro
paga R$ 1.000 por mês de salário para uma cozinheira e R$
850 mensais para uma arrumadeira, 8% de contribuição previdenciária, férias, 13º salário,
além de plano de saúde e transporte para fins de semana.
Se aprovada a implantação
de jornada de trabalho para as
empregadas domésticas, o que
permite que elas também recebam hora extra e adicional noturno, já que ambas residem
em seu apartamento, "acho válido. Vamos cumprir, desde
que também cumpram sua
parte, paguem pela hospedagem. Não cobro telefonemas
nem alimentação. Faço gentilezas [como pagar plano de
saúde]. Vamos conversar e fazer acertos", diz Maria Lúcia
Leite Ribeiro, 65, aposentada.
A dona-de-casa Simone Miyuke de Souza Carvalho, 34, já
foi alvo de uma ação trabalhista
de sua primeira empregada doméstica, mesmo tendo pago todos os direitos, segundo ela.
Apesar do processo, emprega
hoje uma doméstica sem registro em carteira, pois, segundo
ela, essa profissional não quer
ser registrada como doméstica.
Eraildes Aparecida dos Santos, 28, mais conhecida como
Idi, confirma que preferia ter o
registro de auxiliar de escritório. "Há muito preconceito no
mercado de trabalho."
Com salário de R$ 500 e
mais R$ 160 para o transporte,
Idi tem jornada flexível de cinco a seis horas por dia e trabalha dois sábados por mês.
"Ela vai completar um ano de
serviço em dezembro e receberá férias, 13º e abono de um terço. Tudo como manda a lei. Só
não pago a contribuição previdenciária", diz a patroa.
Uma mão lava a outra
Ao saber do projeto do governo de tornar o FGTS obrigatório, além de ampliar os direitos
dessa categoria, Carvalho diz:
"Não sou uma empresa que gera lucro. Nossa relação não é
comercial. É uma parceria, uma
mão lava a outra".
A dona-de-casa diz que o empregador não pode ser punido.
"Concordo que todos os abusos
têm de ser combatidos. Conheço pessoas que pedem para a
empregada servir o chá às 23h e
depois acordar às 6h para colocar a mesa do café. A jornada
tem de ser regulamentada, não
vivemos na escravidão."
Com renda acima de R$ 10
mil, a família Souza Carvalho
diz que, se o governo reduzisse
a contribuição previdenciária
(hoje é 12% sobre o salário para
o patrão e 8% para o empregado) e decretasse a não-obrigatoriedade do pagamento do
FGTS e da multa de 40% (no
caso de demissão sem justa
causa), poderia haver maior
formalização no setor.
(FÁTIMA FERNANDES E CLAUDIA ROLLI)
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