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China copia marcas do Brasil e exporta para outros países
Pirataria vai de tesouras a biquínis; governo chinês já começa a decidir favoravelmente às marcas
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
Comum no comércio popular de rua das grandes cidades
do país, a pirataria de artigos de
grifes internacionais -como
Nike, Adidas, Gucci, Versace,
Montblanc e tantas outras-
atinge também marcas brasileiras, copiadas especialmente
na China e até exportadas para
outros países.
Existem casos de pirataria de
tesouras, biquínis, cadeados,
fechaduras, calçados e bebidas,
entre outros artigos.
Em julho deste ano, a aduana
do Peru apreendeu um carregamento de 13,5 mil tesouras com
a marca brasileira Mundial, pirateadas na China, conforme
comprovaram notas fiscais. Em
2005, outra carga com 17 mil
unidades do produto também
foi confiscada, diz Rafael Lima,
sócio do escritório de advocacia
Dannemann Siemsen, que cuida da marca Mundial e de outras empresas.
O escritório, diz, teve informações, pela filial da Mundial
na China, de que havia a possibilidade de uma exportação irregular para o Peru. Contatou,
então, a aduana e o órgão de
marcas e patentes local (o Inpi
de lá) e fez as apreensões.
Diferentemente do Brasil,
não é necessária ação da polícia
ou da Justiça para realizar as
apreensões, ordenadas pelo órgão de marcas e patentes do Peru. O mesmo ocorre na China.
Por conta disso, diz, foi possível apreender um lote de 960
mil tesouras "clonadas" da
Mundial numa fábrica chinesa
em 2005. "Conseguimos infiltrar um funcionário na fábrica,
que fez fotos e colheu provas",
afirma Lima.
Ousadia maior foi a de uma
empresa de bebidas da China
que pirateou uma marca líder
brasileira, cujo fabricante não
permite a divulgação do nome.
Os produtos eram vendidos
com o rótulo da marca nacional
em churrascarias em Xangai e
Pequim. Foram apreendidos,
na época, 600 mil vasilhames.
Em junho, a fabricante gaúcha de fechaduras e cadeados
Soprano conseguiu reaver sua
marca na China, que havia sido
registrada irregularmente por
uma empresa local. O início da
disputa pela propriedade da
marca ocorreu após o fim do
contrato de licença entre a Soprano e a chinesa Gold God.
Gustavo Miotti, diretor da
Soprano, diz que os produtos
eram distribuídos no mercado
chinês. "Achamos nossas fechaduras em lojas do Carrefour
de lá. A situação está mudando,
mas era muito comum ver produtos pirateados em saldões
dos supermercados chineses."
Perda de tempo e dinheiro
A reportagem também ouviu
o relato de uma marca famosa
de sandálias de dedo e calçados
pirateados na China e exportados para outros mercados. Procurada pela Folha, a empresa
não se manifestou até a conclusão desta edição.
Uma das marcas mais famosas de moda praia do país, a carioca Salinas também foi alvo
de pirataria. Biquínis, estampas e marca da empresa foram
copiados em vários mercados,
como EUA, México e Coreia.
No México, a Salinas, que
vende seus produtos para 42
países, acionou uma firma local
que produzia biquínis idênticos aos de suas coleções. A disputa levou três anos e só há
pouco tempo a empresa conseguiu exportar para o México.
Recentemente, também conseguiu tirar do ar um site da
Coreia que usava sua logomarca e vendia produtos similares
aos seus.
"Manter uma marca é um
custo muito alto. Gastamos
US$ 35 mil em cada uma dessas
disputas e mais de US$ 2.000
em cada país para registrar a
marca. Muitas vezes nem vale a
pena exportar", diz Antonio de
Biasi, sócio da empresa.
Michael Ceitlin, presidente
da Mundial, afirma que a marca já foi diversas vezes pirateada no Brasil e no exterior. "É
uma prática muito mais comum do que se imagina. A pirataria de marcas brasileiras está
crescendo porque as empresas
do país estão se destacando em
muitos mercados."
Mas a situação já foi pior. "A
China já começa a dar decisões
favoráveis às empresas internacionais. Desde que o país entrou para a OMC, ocorreram
revisões de leis e regulamentações", diz Gustavo Rabello, do
Noronha Advogados, que cuidou do caso da Soprano.
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