São Paulo, domingo, 31 de outubro de 2004

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TERCEIRIZAÇÃO

Mão-de-obra qualificada e localização põem país na mira de empresas que querem tarefas executadas por brasileiros

Brasil é novo alvo de "importação" de serviços

ÉRICA FRAGA
DE LONDRES

Mão-de-obra qualificada e barata, telecomunicações de boa qualidade, localização estratégica. Essas e outras características colocarão o Brasil, segundo consultorias estrangeiras, na mira de empresas de fora que querem importar serviços de outros países, fazendo o que os especialistas chamam, em inglês, de "offshore outsourcing" ou "offshoring".
É isso o que apontam estudos recentes e pesquisas em andamento. A consultoria Gartner estima que, até 2007, empresas estrangeiras injetarão US$ 2,5 bilhões por ano no Brasil para que suas atividades de tecnologia da informação (TI) sejam executadas no país por brasileiros.
O crescimento desse volume de recursos em relação a hoje será enorme, já que, atualmente, essa quantia é marginal, segundo Cassio Dreyfuss, vice-presidente de pesquisas da Gartner.
"Esse número saltará de praticamente zero, hoje em dia, para US$ 2,5 bilhões, em 2007."
Esses US$ 2,5 bilhões serão equivalentes a 5% do total de "offshoring" nas atividades mundiais de TI, que deverá saltar de uma média global inferior a US$ 18 bilhões, hoje, para US$ 50 bilhões, em 2007. Esses dados estarão em relatório que será divulgado pela Gartner no próximo mês.
A consultoria Forrester Research estimou que 60% das 500 maiores empresas listadas pela revista "Fortune" considerem, atualmente, terceirizar atividades em outros países. E tudo indica que o Brasil vai faturar parte dos recursos dessas operações.
Pesquisa da consultoria AT Kearney revelou que, entre 25 países, o Brasil é o sétimo mais atraente para empresas que queiram terceirizar a prestação de determinados serviços fora. Na América Latina, o país é líder.

Grandes cidades
Segundo analistas, essa atratividade está concentrada principalmente nos grandes centros urbanos do país. Estudo recente da Jones Lang LaSalle -uma das maiores consultorias do mundo na área imobiliária- mostra que, entre 20 cidades de países emergentes, São Paulo é a segunda melhor para "offshoring" quando consideradas a oferta e a qualidade da mão-de-obra.
Se analisados os custos -de salário a preços de imóveis e serviços de telecomunicações-, São Paulo aparece em sétimo lugar, e, no quesito potencial de crescimento do mercado, em nono.
"Ficamos até surpresos com os resultados de São Paulo. Quando levamos em conta outros fatores importantes além de custo, como mão-de-obra, a cidade aparece bem. E, mesmo em custos e potencial de mercado, São Paulo ficou entre as dez primeiras", diz Matthew Keane, analista da Jones Lang LaSalle.
Keane afirma que a oferta de mão-de-obra em São Paulo é muito grande e que há trabalhadores qualificados, o que tende a atrair empresas interessadas em terceirizar departamentos como os de IT e das atividades chamada de "back office" -de apoio às operações feitas pelo núcleo principal de uma companhia-, como contabilidade e atendimento a clientes por telefone.
Além das características analisadas pela Jones Lang LaSalle -custos, mão-de-obra e mercado-, Keane também cita a proximidade do Brasil de países como os EUA, o fuso horário mais próximo e o fato de haver boa estrutura imobiliária em grandes cidades como outros atrativos para empresas de fora.
Dreyfuss, da Gartner, menciona o fato de o Brasil ter hábitos comerciais mais parecidos com os dos EUA, a criatividade e a flexibilidade do trabalhador brasileiro como pontos que também tornam o país competitivo na área.

Terceirização
Estudos da Gartner e da consultoria britânica Datamonitor indicam que, além do potencial para exportar serviços, países da América Latina também continuarão abrigando forte movimento doméstico de terceirização.
Segundo a Gartner, entre 2003 e 2008, a terceirização, ou "outsourcing" -externa e doméstica-, crescerá a uma taxa média anual de 9,8% na América Latina. O percentual será menor que a expansão de 13,8% a ser registrada na Ásia, mas superior à média mundial, de 7,9%.
Para prestações de serviços em projetos terceirizados, mas com tempo determinado para acabar, a América Latina desponta na frente em relação a todos as outras sete regiões analisadas, com possibilidade de crescer 7,1% por ano até 2008.
Um setor que continuará sendo alvo de forte movimento de terceirização é o de centros de teleatendimento a clientes, chamado pelos analistas de call centers.
De acordo com Mark Best, analista da consultoria Datamonitor, o Brasil já tem o terceiro maior mercado terceirizado -quando considerado apenas o "outsourcing" doméstico- de serviços de atendimento pelo telefone -só perde para os Estados Unidos e o Reino Unido.
O país possui hoje cerca de 238 mil pontos de atendimento que prestam serviços para empresas brasileiras ou para multinacionais com sede no país. A consultoria estima que, até 2008, esse número terá crescido, para 420 mil.
A quantidade de empregos gerados nos call centers tende a ser, segundo Best, maior que o número de pontos de atendimento, já que dois ou mais trabalhadores, geralmente, revezam-se em turnos. Isso quer dizer que, até 2008, provavelmente, deverá haver bem mais de 420 mil pessoas empregadas em call centers no Brasil.
Já os pontos de atendimento em call centers dedicados a atender a clientes de empresas de fora deverão saltar de menos de mil, atualmente, para 8.000 em 2008, segundo a Datamonitor.


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