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TERCEIRIZAÇÃO
Mão-de-obra qualificada e localização põem país na mira de empresas que querem tarefas executadas por brasileiros
Brasil é novo alvo de "importação" de serviços
ÉRICA FRAGA
DE LONDRES
Mão-de-obra qualificada e barata, telecomunicações de boa
qualidade, localização estratégica.
Essas e outras características colocarão o Brasil, segundo consultorias estrangeiras, na mira de empresas de fora que querem importar serviços de outros países, fazendo o que os especialistas chamam, em inglês, de "offshore outsourcing" ou "offshoring".
É isso o que apontam estudos
recentes e pesquisas em andamento. A consultoria Gartner estima que, até 2007, empresas estrangeiras injetarão US$ 2,5 bilhões por ano no Brasil para que
suas atividades de tecnologia da
informação (TI) sejam executadas no país por brasileiros.
O crescimento desse volume de
recursos em relação a hoje será
enorme, já que, atualmente, essa
quantia é marginal, segundo Cassio Dreyfuss, vice-presidente de
pesquisas da Gartner.
"Esse número saltará de praticamente zero, hoje em dia, para
US$ 2,5 bilhões, em 2007."
Esses US$ 2,5 bilhões serão
equivalentes a 5% do total de
"offshoring" nas atividades mundiais de TI, que deverá saltar de
uma média global inferior a US$
18 bilhões, hoje, para US$ 50 bilhões, em 2007. Esses dados estarão em relatório que será divulgado pela Gartner no próximo mês.
A consultoria Forrester Research estimou que 60% das 500
maiores empresas listadas pela revista "Fortune" considerem,
atualmente, terceirizar atividades
em outros países. E tudo indica
que o Brasil vai faturar parte dos
recursos dessas operações.
Pesquisa da consultoria AT
Kearney revelou que, entre 25 países, o Brasil é o sétimo mais
atraente para empresas que queiram terceirizar a prestação de determinados serviços fora. Na
América Latina, o país é líder.
Grandes cidades
Segundo analistas, essa atratividade está concentrada principalmente nos grandes centros urbanos do país. Estudo recente da Jones Lang LaSalle -uma das
maiores consultorias do mundo
na área imobiliária- mostra que,
entre 20 cidades de países emergentes, São Paulo é a segunda melhor para "offshoring" quando
consideradas a oferta e a qualidade da mão-de-obra.
Se analisados os custos -de salário a preços de imóveis e serviços de telecomunicações-, São
Paulo aparece em sétimo lugar, e,
no quesito potencial de crescimento do mercado, em nono.
"Ficamos até surpresos com os
resultados de São Paulo. Quando
levamos em conta outros fatores
importantes além de custo, como
mão-de-obra, a cidade aparece
bem. E, mesmo em custos e potencial de mercado, São Paulo ficou entre as dez primeiras", diz
Matthew Keane, analista da Jones
Lang LaSalle.
Keane afirma que a oferta de
mão-de-obra em São Paulo é
muito grande e que há trabalhadores qualificados, o que tende a
atrair empresas interessadas em
terceirizar departamentos como
os de IT e das atividades chamada
de "back office" -de apoio às
operações feitas pelo núcleo principal de uma companhia-, como
contabilidade e atendimento a
clientes por telefone.
Além das características analisadas pela Jones Lang LaSalle
-custos, mão-de-obra e mercado-, Keane também cita a proximidade do Brasil de países como
os EUA, o fuso horário mais próximo e o fato de haver boa estrutura imobiliária em grandes cidades como outros atrativos para
empresas de fora.
Dreyfuss, da Gartner, menciona
o fato de o Brasil ter hábitos comerciais mais parecidos com os
dos EUA, a criatividade e a flexibilidade do trabalhador brasileiro
como pontos que também tornam o país competitivo na área.
Terceirização
Estudos da Gartner e da consultoria britânica Datamonitor indicam que, além do potencial para
exportar serviços, países da América Latina também continuarão
abrigando forte movimento doméstico de terceirização.
Segundo a Gartner, entre 2003 e
2008, a terceirização, ou "outsourcing" -externa e doméstica-, crescerá a uma taxa média
anual de 9,8% na América Latina.
O percentual será menor que a expansão de 13,8% a ser registrada
na Ásia, mas superior à média
mundial, de 7,9%.
Para prestações de serviços em
projetos terceirizados, mas com
tempo determinado para acabar,
a América Latina desponta na
frente em relação a todos as outras sete regiões analisadas, com
possibilidade de crescer 7,1% por
ano até 2008.
Um setor que continuará sendo
alvo de forte movimento de terceirização é o de centros de teleatendimento a clientes, chamado
pelos analistas de call centers.
De acordo com Mark Best, analista da consultoria Datamonitor,
o Brasil já tem o terceiro maior
mercado terceirizado -quando
considerado apenas o "outsourcing" doméstico- de serviços de
atendimento pelo telefone -só
perde para os Estados Unidos e o
Reino Unido.
O país possui hoje cerca de 238
mil pontos de atendimento que
prestam serviços para empresas
brasileiras ou para multinacionais
com sede no país. A consultoria
estima que, até 2008, esse número
terá crescido, para 420 mil.
A quantidade de empregos gerados nos call centers tende a ser,
segundo Best, maior que o número de pontos de atendimento, já
que dois ou mais trabalhadores,
geralmente, revezam-se em turnos. Isso quer dizer que, até 2008,
provavelmente, deverá haver bem
mais de 420 mil pessoas empregadas em call centers no Brasil.
Já os pontos de atendimento em
call centers dedicados a atender a
clientes de empresas de fora deverão saltar de menos de mil, atualmente, para 8.000 em 2008, segundo a Datamonitor.
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