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País ainda tem obstáculos a acesso
DE LONDRES
O Brasil deverá iniciar uma
temporada de exportações de serviços, principalmente para países
desenvolvidos. Mas, dizem analistas, o país ainda enfrenta limitações que o impedem de alcançar
os patamares atingidos por nações como Índia e China nesse
mercado.
Alguns dos obstáculos à terceirização de serviços por empresas
de fora citados por especialistas
são o nível de educação da população e o fato de que a parcela de
trabalhadores brasileiros fluente
em inglês é baixa.
Geralmente, a Argentina -país
com nível educacional bem melhor que o do Brasil- é citada como contraponto nesses casos.
Cassio Dreyfuss, da Gartner, diz
que outra desvantagem do Brasil
é que, como lideram essa tendência de atrair "offshoring" há muitos anos, os países asiáticos têm
maior experiência.
"As empresas e trabalhadores
nesses países têm ótima capacidade de planejamento, de desenvolver metodologia. Já o Brasil apresenta deficiências clássicas nesses
quesitos", diz Dreyfuss.
Além disso, por mais que os salários no Brasil, por exemplo, sejam baixos ainda ganham da remuneração paga na Ásia.
Mark Best, da Datamonitor, diz,
por exemplo, que os salários de
um funcionário de call center para empresas estrangeiras na Índia
é de US$ 1,20 por hora. Já no Brasil, um funcionário bilíngue de
um centro de teleatendimento
pode receber entre US$ 3,50 e US$
4,00 por hora (entre R$ 10 e R$
11,45, aproximadamente). O salário mínimo no Brasil é de cerca de
US$ 90 por mês.
Boa posição
Apesar desses limites, o Brasil
deve continuar bem posicionado
-embora não nas primeiras colocações dos rankings gerais das
consultorias- para exportar serviços.
"Acho que o Brasil pode ter determinadas características em escala menor que os asiáticos, mas,
como se trata de um país grande,
com grande contingente de mão-de-obra, já é o suficiente para
atender parte dessa demanda de
terceirização por empresas estrangeiras", diz Mariano Laplane,
economista e professor da Unicamp, que está passando uma
temporada como pesquisador no
Centro de Estudos Brasileiros em
Oxford, no Reino Unido.
Laplane afirma que o potencial
de geração de empregos nesse
processo de "offshoring" está longe de ser o suficiente para mudar
o quadro de desemprego no país
-segundo o IBGE, a taxa de desemprego em setembro ficou em
10,9% da PEA (População Economicamente Ativa).
Mas, afirma ele, a tendência é
positiva, principalmente porque
pode ajudar a criar uma boa imagem do país entre empresas estrangeiras.
Pressões políticas em países desenvolvidos contra a tendência de
"offshoring", no entanto, tendem
a continuar fortes.
Embora estudos recentes, como
um divulgado há duas semanas
pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), revelem que o número de empregos e investimentos "exportados" para outros países nesses processos ainda seja relativamente pequeno, trabalhadores em nações, como Estados
Unidos e Reino Unido, têm feito
barulho contra o movimento.
Nos EUA, o tema chegou a ser
bastante debatido pelos candidatos à Presidência do país George
W. Bush (republicano, atual presidente) e John Kerry (democrata,
de oposição). O ponto central era
a hipótese de as empresas americanas estarem terceirizando empregos para países em desenvolvimento.
Mas, apesar das pressões e dos
discursos políticos, especialistas
dizem ser inevitável que a tendência de exportação de serviços continue aumentando.
(EF)
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