São Paulo, domingo, 31 de outubro de 2004

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País ainda tem obstáculos a acesso

DE LONDRES

O Brasil deverá iniciar uma temporada de exportações de serviços, principalmente para países desenvolvidos. Mas, dizem analistas, o país ainda enfrenta limitações que o impedem de alcançar os patamares atingidos por nações como Índia e China nesse mercado.
Alguns dos obstáculos à terceirização de serviços por empresas de fora citados por especialistas são o nível de educação da população e o fato de que a parcela de trabalhadores brasileiros fluente em inglês é baixa.
Geralmente, a Argentina -país com nível educacional bem melhor que o do Brasil- é citada como contraponto nesses casos.
Cassio Dreyfuss, da Gartner, diz que outra desvantagem do Brasil é que, como lideram essa tendência de atrair "offshoring" há muitos anos, os países asiáticos têm maior experiência.
"As empresas e trabalhadores nesses países têm ótima capacidade de planejamento, de desenvolver metodologia. Já o Brasil apresenta deficiências clássicas nesses quesitos", diz Dreyfuss.
Além disso, por mais que os salários no Brasil, por exemplo, sejam baixos ainda ganham da remuneração paga na Ásia.
Mark Best, da Datamonitor, diz, por exemplo, que os salários de um funcionário de call center para empresas estrangeiras na Índia é de US$ 1,20 por hora. Já no Brasil, um funcionário bilíngue de um centro de teleatendimento pode receber entre US$ 3,50 e US$ 4,00 por hora (entre R$ 10 e R$ 11,45, aproximadamente). O salário mínimo no Brasil é de cerca de US$ 90 por mês.

Boa posição
Apesar desses limites, o Brasil deve continuar bem posicionado -embora não nas primeiras colocações dos rankings gerais das consultorias- para exportar serviços.
"Acho que o Brasil pode ter determinadas características em escala menor que os asiáticos, mas, como se trata de um país grande, com grande contingente de mão-de-obra, já é o suficiente para atender parte dessa demanda de terceirização por empresas estrangeiras", diz Mariano Laplane, economista e professor da Unicamp, que está passando uma temporada como pesquisador no Centro de Estudos Brasileiros em Oxford, no Reino Unido.
Laplane afirma que o potencial de geração de empregos nesse processo de "offshoring" está longe de ser o suficiente para mudar o quadro de desemprego no país -segundo o IBGE, a taxa de desemprego em setembro ficou em 10,9% da PEA (População Economicamente Ativa).
Mas, afirma ele, a tendência é positiva, principalmente porque pode ajudar a criar uma boa imagem do país entre empresas estrangeiras.
Pressões políticas em países desenvolvidos contra a tendência de "offshoring", no entanto, tendem a continuar fortes.
Embora estudos recentes, como um divulgado há duas semanas pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), revelem que o número de empregos e investimentos "exportados" para outros países nesses processos ainda seja relativamente pequeno, trabalhadores em nações, como Estados Unidos e Reino Unido, têm feito barulho contra o movimento.
Nos EUA, o tema chegou a ser bastante debatido pelos candidatos à Presidência do país George W. Bush (republicano, atual presidente) e John Kerry (democrata, de oposição). O ponto central era a hipótese de as empresas americanas estarem terceirizando empregos para países em desenvolvimento.
Mas, apesar das pressões e dos discursos políticos, especialistas dizem ser inevitável que a tendência de exportação de serviços continue aumentando. (EF)


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