|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
RECEITA ORTODOXA
Integrantes de administrações passadas dizem que gasto baixo atrapalha crescimento e reclamam dos juros
Ex-ministros criticam pouco investimento; Tesouro vê "desafio"
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Os investimentos públicos foram o "patinho feio" de mais de
20 anos de história econômica do
país, concluiu o secretário do Tesouro, Joaquim Levy, em coro
com outros economistas ouvidos
pela Folha e que ocuparam posições de destaque nessa história.
"Os investimentos foram esmagados, pagaram a conta, são o patinho feio", resumiu Levy na sexta-feira sobre os resultados do levantamento feito pelo Tesouro.
"O retrato mostra o tamanho do
desafio", completou o secretário.
Principal arquiteto do aumento
da meta de superávit primário
(economia de gastos destinada ao
pagamento de juros), ele acredita
que o caminho do governo Lula é
melhorar a qualidade dos gastos
de investimento, "um enorme esforço de fazer mais com menos".
Se os investimentos são o "patinho feio", os pagamentos de aposentadorias e pensões são, para
Levy, o elefante no meio da sala
das contas públicas. "As pressões
que vão se refletir no aumento dos
tributos partem não dos juros,
mas de despesas primárias, sobretudo o pagamento de benefícios
do INSS (Instituto Nacional do
Seguro Social)", avaliou.
Para o comandante da economia nos governos militares, Delfim Netto, o retrato de compressão dos investimentos públicos
mostrado pelo Tesouro é "um escândalo, que lamentavelmente reflete uma realidade que dificulta
terrivelmente o nosso crescimento". Deputado pelo PP, Delfim foi
ministro da Fazenda entre 1967 e
1974, época do "milagre econômico", quando o Brasil registrou taxas recordes de crescimento. Nos
primeiros anos da série produzida pelo Tesouro Nacional, já no
governo João Figueiredo, ele ocupou o Ministério do Planejamento, quando a inflação disparava.
Em março de 1987, a inflação
disparava novamente quando
Luiz Carlos Bresser-Pereira assumiu o Ministério da Fazenda no
governo Sarney. Ele deu nome ao
segundo plano de congelamento
de preços no período.
Crítico da política econômica
desde os primeiros anos do governo Fernando Henrique Cardoso, quando comandava o Ministério da Administração, Bresser
avalia que o levantamento do Tesouro, ainda que sujeito a distorções, é um retrato do tamanho da
crise que o país vive. "Os juros são
escandalosos, e os investimentos
são uma penúria", disse.
Ministro do Planejamento durante os dez anos que antecederam a série do Tesouro, o economista João Paulo dos Reis Velloso,
diretor do Inae (Instituto Nacional de Altos Estudos), chama a
atenção para o fato de o aumento
"impressionante" da arrecadação
de tributos no período não contribuir para o desenvolvimento. "Os
investimentos são irrelevantes",
disse. Reduzir outros gastos seria
a saída.
(MARTA SALOMON)
Texto Anterior: País ainda tem obstáculos a acesso Próximo Texto: Frases Índice
|