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Para especialistas, Bolívia manteve quase tudo o que pediu, mas gás não deve subir
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
A Petrobras cedeu à pressão
do governo da Bolívia e acabou
por aceitar, no acordo sobre
produção e operação dos campos de gás, a maior parte das
condições impostas no decreto
de nacionalização do petróleo e
do gás, assinado em maio deste
ano pelo presidente boliviano,
Evo Morales. É o que afirmam
especialistas ouvidos pela Folha.
Apesar das condições desfavoráveis do acordo, dizem, a
Petrobras sinalizou que o novo
cenário não resultará em aumento de preço para os consumidores. O presidente da Abegás (Associação Brasileira das
Empresas Distribuidoras de
Gás Canalizado), Romero Oliveira, afirmou que, ao dizer que
o "aumento tributário é suportável", a estatal indica que tem
margem para cortar antes de
reajustar os preços.
"Embora não haja nada muito claro sobre essa ótica, entendo que não há necessidade de
que preço seja reajustado", afirmou Oliveira, ressaltando que a
íntegra do acordo não foi divulgada. Segundo ele, a estatal brasileira não procurou as distribuidoras de gás para comunicar sobre uma eventual mudança de preço.
Para Luiz Antonio Mesquita,
coordenador da Abrace (Associação Brasileira dos Grandes
Consumidores Industriais de
Energia), o acordo foi positivo
para "esfriar os ânimos" e trazer "tranqüilidade parcial".
Segundo o executivo, o entendimento não soluciona, porém, a questão do preço, que será definida pela negociação em
curso sobre o pleito boliviano
de corrigir o preço firmado no
contrato de suprimento de gás,
assinado entre a YPFB (que
compra o gás produzido na Bolívia pela Petrobras e outras
empresas). O desfecho dessa
outra negociação deve ser conhecido no próximo dia 10.
Mesquita não crê que a negociação do contrato de suprimento de gás culmine com reajuste do preço do produto.
"O gás já subiu muito. Já houve aumento de 270% desde o
início do contrato, mais do que
a alta do petróleo. A fórmula de
reajuste é justa e está muito
bem definida."
O especialista Adriano Pires,
da consultoria CBIE (Centro
Brasileiro de Infra-Estrutura),
disse que "é possível concluir
que o governo da Bolívia conseguiu quase tudo o que queria"
no acordo sobre a produção do
gás. Citou o imposto de 82% sobre a produção, previsto no decreto de nacionalização.
Para Pires, a Petrobras não
tinha, porém, outra alternativa.
"Não havia outra possibilidade
diante da escassez de gás que já
existe e que tende a se agravar."
Falta, no entanto, conhecer
detalhes do contrato, diz. Não
está claro ainda se os contratos
representam um compartilhamento de produção entre a Petrobras e a YPFB ou se a companhias brasileira será apenas
uma prestadora de serviços, segundo Pires.
Também não está esclarecido se a estatal boliviana YPFB
irá ressarcir a Petrobras pelos
custos de produção -ou seja, se
os 82% de impostos cobrirão
essas despesas, ou se elas serão
pagas com a receita que ficará
com as operadoras.
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