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sociais&cias.
Ação pró-diversidade foca em educação
Proporção de mulheres em posição de gerência aumenta, mas participação de negros em cargos de chefia muda pouco
Empresas ainda resistem a informar a quantidade de afrodescendentes em seus quadros até na publicação de seus balanços sociais
JULIANA GARÇON
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Um número crescente de
grandes empresas, especialmente subsidiárias de multinacionais, está adotando ações
afirmativas -a principal aposta
é em incentivos à capacitação-
para ampliar a diversidade racial e de gênero em seus quadros. Os resultados, porém, ainda são pouco visíveis.
Pesquisa do Instituto Ethos e
do Ibope, realizada no segundo
semestre de 2005 com 119 das
500 maiores empresas do Brasil e publicada neste ano, aponta o "afunilamento hierárquico" para mulheres e negros
-há menos indivíduos desses
grupos quanto mais alta é a instância do poder.
Em comparação com 2003, a
presença delas subiu de 18%
para 31% em cargos de gerência
e de 6% para 9% nos níveis executivos. As mulheres representam 42,7% da população economicamente ativa do país.
Os negros, que compõem
46% dos trabalhadores, continuam com a mesma fatia de
cargos de gerência (alta de 8,8%
para 9%) e quase a mesma em
posições executivas (de 1,8%
para 3,4%). Mas 24% das empresas se abstiveram de dar informações sobre a proporção
de negros em posições funcionais, o que revela dificuldade
em lidar com o tema.
O Ibase (Instituto Brasileiro
de Análises Sociais e Econômicas), que tem um banco de dados com 1.200 balanços sociais,
verificou que mais de 35% das
empresas deixaram de responder à questão sobre o contingente de negros (em 2000, cerca de 70% fugiam do assunto).
"E olha que esses números são
divulgados por empresas que
adotam a prática do balanço social e se dizem socialmente responsáveis", diz Claudia Mansur, coordenadora do Ibase.
"O problema não seria a cor,
mas a falta de qualificação",
avalia o analista de crédito Fabiano Wanderley de Miranda,
24, selecionado para um programa da multinacional DuPont no fim do colegial. "Fui escolhido pelo desempenho escolar e pela afrodescendência",
conta o jovem, que se declara
pardo. Fez estágio durante a faculdade, paga pela companhia.
Formado, enfrentou o processo
de seleção tradicional e foi contratado como analista de sistemas. Depois, conseguiu vaga na
área financeira. "Ganho 12 vezes mais do que há seis anos."
A DuPont conseguiu elevar a
população de negros em seu escritório central de 2% em 2002
para 7% hoje. "Há negros em
posições iniciais de gerência",
diz Regina Burt, diretora de
RH. "É só uma questão de tempo para haver na diretoria."
A "pedra" que o jovem contornou foi mensurada no mês
passado pelo Ipea: a média de
estudos de brasileiros brancos
é de 7,7 anos, contra 5,8 para os
negros. Daí o foco em programas de qualificação para estimular a carreira de negros.
"A atenção para esse tema
evoluiu em todo o Brasil, mas a
questão ainda está muito no
discurso e muito pouco na prática", afirma Mansur.
"O número de empresas
preocupadas com o tema cresceu, mas poucas têm ações afirmativas e muitas alimentam
práticas tradicionais no recrutamento", diz Oded Grajew,
presidente do conselho executivo do Ethos. As multinacionais foram pioneiras nessa
abordagem, diz Grajew, por influência das matrizes, principalmente nos EUA, onde essa
agenda já foi estabelecida.
Na marra
O esforço para ampliar a diversidade nos quadros das empresas também surge como
conseqüência de um puxão de
orelha dos órgãos públicos.
O MPT criou, em 2002, uma
coordenadoria para combater a
discriminação no trabalho.
Desde então, foram instaurados cerca de 2.000 representações e inquéritos sobre discriminações por raça, cor, gênero
e idade. O MPT estima que
20.772 trabalhadores foram
beneficiados. Como o aperto da
fiscalização favoreceu a situação de pessoas com deficiência
-a inserção desse grupo saiu
de 3,5% (2003) para 13,6%
(2005)-, a controvérsia sobre
as cotas ganhou relevo.
Para Maria Tereza Leme
Fleury, socióloga e professora
da FEA-USP, o mecanismo não
é a solução. "Introduzir uma
política de cotas nas empresas
brasileiras traria resultados limitados. É preciso alinhar a diversidade às demais políticas e
à estratégia da empresa para
que os resultados sejam positivos para todos."
É o caminho seguido na DuPont, conforme Burt: "Espelhando melhor a sociedade,
conseguimos entendê-la e
atendê-la melhor".
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