São Paulo, terça-feira, 31 de outubro de 2006

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Agrofolha

Agricultor espera que Lula resolva velhos problemas

Estradas, logística, seguro e crédito são alguns dos temas reclamados pelo setor

Produtores de soja, café e laranja pedem câmbio mais "próximo da realidade'; já setor de açúcar e álcool espera "continuidade"

ROBERTO SAMORA
DA REUTERS

Os produtores de grãos se viram diante de uma grave crise no governo Luiz Inácio Lula da Silva e agora integrantes do agronegócio esperam que o presidente reeleito tenha aprendido lições que o levem a agir para devolver competitividade e crescimento ao setor.
"A nossa expectativa é que o governo tenha entendido. Obviamente que com a crise foi dada visibilidade. Mostramos as razões da crise. Quem sabe nossas angústias possam ter se incorporado à equipe do governo", afirmou Homero Pereira, presidente da Famato (Federação da Agricultura de Mato Grosso).
Com o fortalecimento do real diante do dólar durante o governo Lula, o setor agrícola de Mato Grosso passou do céu ao inferno, pois o câmbio desfavorável às exportações expôs graves ineficiências como os problemas de infra-estrutura e logística do Centro-Oeste.
"Queremos que o governo olhe para a agricultura de maneira definitiva, que termine a BR-163 e a BR-158, que amplie as ferrovias", disse Rui Prado, presidente da Aprosoja-MT (Associação dos Produtores de Soja de Mato Grosso).
O governo socorreu o setor com medidas "paliativas", segundo Pereira, como a renegociação de dívidas e o apoio à comercialização da soja. Mas muito ainda precisa ser feito para resolver o endividamento, como a agilização da liberação de recursos do FAT Giro-Rural, acrescentou o dirigente.
"Precisamos que as medidas estruturantes sejam concluídas, que o governo resolva com obras o problema de logística", ressaltou Prado, observando que a "diminuição de custos" com melhora na infra-estrutura é fundamental para o setor.
Ainda na linha de aumentar a competitividade, os agricultores afirmaram que o governo deveria reduzir a burocracia para a aprovação de agroquímicos, diminuir a carga tributária sobre combustíveis, implantar um seguro rural que possa "assegurar a renda" e melhorar as condições de financiamento a juros controlados dos grandes produtores.
"No financiamento, os recursos só cobrem 20% da demanda; 80% da safra tem de ser financiada no mercado, onde o produtor fica à mercê de juros desleais", acrescentou Pereira.
Mesmo os setores a que a crise não chegou com tanta força por causa da alta de preços internacionais querem medidas do governo para ampliar os mercados e a competitividade do agronegócio.
"Esperamos que as negociações internacionais para a Alca [Área de Livre Comércio das Américas], com a União Européia, que as conversas para a (retomada da) Rodada Doha sejam levadas mais com ênfase na área comercial do que na política", disse Ademerval Garcia, presidente da Abecitrus (Associação Brasileira dos Exportadores de Cítricos).
Garcia, assim como o diretor-executivo do Conselho Nacional do Café, Alberto Portugal, querem um câmbio mais favorável ao exportador. "Os agricultores dão alimento barato ao país. Eles deveriam ser recompensados", disse Portugal.
"O que se espera é que seja estabelecida uma verdade cambial, o que existe hoje é algo fora da realidade", acrescentou o presidente da Abecitrus.
Entretanto, com o boom do açúcar e do álcool, o presidente da Unica (União da Agroindústria Canavieira de São Paulo), Eduardo Pereira da Carvalho, afirmou que o setor busca por continuidade da política governamental.
"A reeleição do presidente Lula é um renovado voto de confiança no álcool", afirmou Carvalho, que está otimista sobre o aumento da mistura do combustível derivado da cana na gasolina, um ato que ajudaria a sustentar os preços.
"Nós tivemos uma boa relação com o governo nos últimos quatro anos e esperamos que ela continue", disse ele, notando que Lula tem ajudado a promover o álcool no exterior.


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