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Lula agora diz que governo não vai diminuir os gastos
Presidente chama de "conservadores" os críticos que defendem corte dos investimentos
Para Mantega, o pior da crise internacional no mundo já passou; segundo o ministro, atual momento é "uma fase mais amena"
SIMONE IGLESIAS
ENVIADA ESPECIAL A EL SALVADOR
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva mandou ontem um
recado a empresários que defendem a redução dos investimentos do governo como forma de minimizar os efeitos da
crise econômica no Brasil. Ele
chamou de "conservadores" os
que palpitam pelo corte de despesas e afirmou que não vai reduzir gastos, como chegou a cogitar na semana passada.
"Não vou aceitar a tese de
conservadores que acham que
é preciso diminuir os gastos do
Estado. Não vamos diminuir,
porque todos aqueles que, na
década de 80 e 90, diziam que o
Estado não podia ser forte, que
atrapalhava, que gastava demais, na hora em que o sistema
entra em crise, quem vai salvá-lo é o Estado que eles diziam
que não prestava para nada",
afirmou o presidente ao discursar na 28ª Cúpula Ibero-americana ontem em São Salvador.
Lula contradisse declaração
dada no último dia 21, quando
participou da comemoração
dos 60 anos da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso
das Ciência). Após ser questionado se a crise afetaria a destinação de recursos públicos para a ciência, ele respondeu que,
para não vender ilusões, não
poderia "assumir o compromisso com vocês de que, se
houver uma crise econômica
que abale o Brasil, a gente vai
manter todo o dinheiro de todos os ministérios como está".
"Até porque, se a União arrecadar menos, vai ter menos dinheiro para todo mundo", afirmou Lula. Aos cientistas, ele falou que não há ministério "menos importante" e comparou o
governo a uma casa em que os
pais têm quatro ou cinco filhos.
Ontem, Lula voltou a criticar
a atuação de banqueiros que
ainda hoje buscam interferir
nas decisões dos governos. "Conheço bancos que na década de
80 e 90 e ainda hoje continuam
dando palpite na economia na
América Latina, o que o Evo
[Morales, presidente da Bolívia] tem que fazer e o que Lugo
tem que fazer e o que Lula tem
que fazer. Mas eles não tomaram conta deles próprios, não
cuidaram sequer de fazer do
sistema financeiro uma alavanca do setor produtivo", criticou.
Mudança de discurso
Depois de um discurso mais
pessimista no início da semana,
o ministro da Fazenda, Guido
Mantega, fez ontem uma avaliação de que o pior da crise financeira internacional já passou. Ele classificou o momento
como "uma fase mais amena".
"Acredito que podemos estar
entrando em uma fase mais
amena da crise. Não que tenha
perdido a gravidade, mas não
estamos na fase mais aguda
deste último um mês e meio",
afirmou o ministro em audiência pública na CAE (Comissão
de Assuntos Econômicos) do
Senado, da qual participou
também o presidente do Banco
Central, Henrique Meirelles.
Mantega aproveitou a audiência para reiterar a previsão
de crescimento econômico de
4,5% para o ano que vem, embora alguns integrantes do governo já admitam que o desempenho do PIB (Produto Interno
Bruto) possa ser pior. Ele admitiu, porém, que as projeções para 2009 ainda podem ser revisadas. A intenção do governo é
revisar essas projeções até o final de novembro.
"Prefiro aguardar o desenrolar da crise para fazer uma previsão mais firme. Mas podemos
perseguir esses índices de crescimento [de 4,5%]", disse o ministro. "Acredito em desaceleração do consumo e do nível de
atividade, mas não teremos recessão no Brasil", enfatizou.
O diagnóstico apresentado
pelo ministro é o de que o consumo e o crédito no Brasil estavam crescendo em níveis "elevados demais" até o final do
primeiro semestre. Por isso, ele
acredita que uma desaceleração não será maléfica para a
economia brasileira.
"Se o crédito crescer 15% ou
10% ao ano já é suficiente para
manter o crescimento econômico brasileiro", disse.
Colaboraram JULIANA ROCHA e NEY HAYASHI
DA CRUZ , da Sucursal de Brasília
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