São Paulo, sexta-feira, 31 de outubro de 2008

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Lula agora diz que governo não vai diminuir os gastos

Presidente chama de "conservadores" os críticos que defendem corte dos investimentos

Para Mantega, o pior da crise internacional no mundo já passou; segundo o ministro, atual momento é "uma fase mais amena"

SIMONE IGLESIAS
ENVIADA ESPECIAL A EL SALVADOR

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva mandou ontem um recado a empresários que defendem a redução dos investimentos do governo como forma de minimizar os efeitos da crise econômica no Brasil. Ele chamou de "conservadores" os que palpitam pelo corte de despesas e afirmou que não vai reduzir gastos, como chegou a cogitar na semana passada.
"Não vou aceitar a tese de conservadores que acham que é preciso diminuir os gastos do Estado. Não vamos diminuir, porque todos aqueles que, na década de 80 e 90, diziam que o Estado não podia ser forte, que atrapalhava, que gastava demais, na hora em que o sistema entra em crise, quem vai salvá-lo é o Estado que eles diziam que não prestava para nada", afirmou o presidente ao discursar na 28ª Cúpula Ibero-americana ontem em São Salvador.
Lula contradisse declaração dada no último dia 21, quando participou da comemoração dos 60 anos da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso das Ciência). Após ser questionado se a crise afetaria a destinação de recursos públicos para a ciência, ele respondeu que, para não vender ilusões, não poderia "assumir o compromisso com vocês de que, se houver uma crise econômica que abale o Brasil, a gente vai manter todo o dinheiro de todos os ministérios como está". "Até porque, se a União arrecadar menos, vai ter menos dinheiro para todo mundo", afirmou Lula. Aos cientistas, ele falou que não há ministério "menos importante" e comparou o governo a uma casa em que os pais têm quatro ou cinco filhos.
Ontem, Lula voltou a criticar a atuação de banqueiros que ainda hoje buscam interferir nas decisões dos governos. "Conheço bancos que na década de 80 e 90 e ainda hoje continuam dando palpite na economia na América Latina, o que o Evo [Morales, presidente da Bolívia] tem que fazer e o que Lugo tem que fazer e o que Lula tem que fazer. Mas eles não tomaram conta deles próprios, não cuidaram sequer de fazer do sistema financeiro uma alavanca do setor produtivo", criticou.

Mudança de discurso
Depois de um discurso mais pessimista no início da semana, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, fez ontem uma avaliação de que o pior da crise financeira internacional já passou. Ele classificou o momento como "uma fase mais amena". "Acredito que podemos estar entrando em uma fase mais amena da crise. Não que tenha perdido a gravidade, mas não estamos na fase mais aguda deste último um mês e meio", afirmou o ministro em audiência pública na CAE (Comissão de Assuntos Econômicos) do Senado, da qual participou também o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles.
Mantega aproveitou a audiência para reiterar a previsão de crescimento econômico de 4,5% para o ano que vem, embora alguns integrantes do governo já admitam que o desempenho do PIB (Produto Interno Bruto) possa ser pior. Ele admitiu, porém, que as projeções para 2009 ainda podem ser revisadas. A intenção do governo é revisar essas projeções até o final de novembro. "Prefiro aguardar o desenrolar da crise para fazer uma previsão mais firme. Mas podemos perseguir esses índices de crescimento [de 4,5%]", disse o ministro. "Acredito em desaceleração do consumo e do nível de atividade, mas não teremos recessão no Brasil", enfatizou. O diagnóstico apresentado pelo ministro é o de que o consumo e o crédito no Brasil estavam crescendo em níveis "elevados demais" até o final do primeiro semestre. Por isso, ele acredita que uma desaceleração não será maléfica para a economia brasileira.
"Se o crédito crescer 15% ou 10% ao ano já é suficiente para manter o crescimento econômico brasileiro", disse.

Colaboraram JULIANA ROCHA e NEY HAYASHI DA CRUZ , da Sucursal de Brasília


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