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Sadia terá mais perdas com operações cambiais
Perda adicional é estimada entre R$ 491 milhões e R$ 1 bi, dependendo do dólar
Ações da empresa caem
quase 10%, em dia de alta
na Bolsa; para Sadia, danos
teriam sido maiores com o
resgate total de contratos
CRISTIANE BARBIERI
DA REPORTAGEM LOCAL
As perdas da Sadia com operações financeiras cambiais
irão continuar, mesmo depois
do prejuízo anunciado de R$
777,4 milhões no trimestre.
A empresa ainda tem exposição cambial de US$ 2,4 bilhões.
O valor equivale a um ano de
exportação e não a seis meses,
como fixa política da empresa.
Se todos os contratos tivessem sido quitados em 30 de setembro, eles representariam
perdas adicionais de R$ 630,2
milhões. Porém, a empresa fez
outras projeções. Caso o dólar
feche cotado a R$ 2,20 à época
dos vencimentos dos contratos,
a perda adicional poderá chegar a R$ 1 bilhão. Se o dólar estiver a R$ 1,95, a perda será de
R$ 491 milhões.
A Sadia tem registrado grandes prejuízos porque usou um
instrumento financeiro, comum a exportadores, para se
proteger contra a oscilação da
moeda. A empresa apostava
que o real continuaria valorizado, mas, com o fortalecimento
repentino do dólar, teve perdas.
A notícia de que a Sadia continua descumprindo as regras
de sua política financeira -e
que tampouco há prazo fixado
para voltar a atendê-la- irritou
os analistas presentes ontem à
reunião da Apimec (Associação
dos Analistas e Profissionais de
Investimento do Mercado de
Capitais) com a empresa.
"Queria entender quando vamos ver da Sadia uma política
de exposição a risco em que
possamos confiar", afirmou Juliana Rozenbaum, analista do
Unibanco. "Se [a exposição
cambial] será de seis meses, de
três meses ou menos. Quando
vamos ter uma coisa escrita em
pedra, que vai ser observada e
exercida?"
Luiz Fernando Furlan, presidente do conselho de administração, afirmou que a redução
da exposição cambial é uma
meta sólida e perseguida. Segundo ele, levará até dez meses
-o prazo do vencimento dos
contratos- para que toda a dívida seja quitada.
Welson Teixeira Júnior, diretor de relações com investidores, no entanto, informou
que hoje venceriam US$ 500
milhões em contratos, reduzindo consideravelmente o tamanho da exposição.
"O não-pagamento ocorreu
porque quando a alta administração tomou conhecimento do
desenquadramento [da exposição a seis meses das exportações], ele era tão grave que pontos mais ameaçadores obrigaram sua liquidação", disse Furlan. "Ajuste instantâneo, na
turbulência, teria resultado em
prejuízos definitivos e no sangramento do caixa."
De acordo com Furlan, com a
estratégia adotada, a empresa
permaneceu com caixa líquido,
adimplente e os danos foram
menores. "Estamos desfazendo
posições e abertos à negociação", diz ele. "Conforme o comportamento do mercado, muitas vezes o lado mais forte se
enfraquece."
De todo modo, segundo Teixeira, a empresa já resolveu que
não fará mais esse tipo de operação alavancada de câmbio.
A Sadia prevê que suas exportações gerem caixa, no período de vencimento dos contratos cambiais, de R$ 1,5 bilhão se o dólar ficar cotado a R$
2,20 ou de R$ 750 milhões, se
cotado a R$ 1,95. Descontadas
as perdas, a empresa teria lucro
de R$ 418 milhões ou de R$ 259
milhões, de acordo com a taxa
usada. "Se não fosse a alavancagem agressiva, o impacto positivo da receita maior com exportações seria muito mais forte", afirmou Rozenbaum.
As operações da Sadia também resultaram em endividamento maior. Ontem, as ações
com direito a voto caíram quase 10%.
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