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Boicote da China contra Vale agora se torna oficial
Indústria anuncia suspensão de compra do minério de ferro da empresa brasileira
Reportagem de agência estatal diz que uma das maiores siderúrgicas do país não importa mais da Vale por "escalada de preços"
RAUL JUSTE LORES
DE PEQUIM
O boicote chinês ao minério
de ferro da Vale agora é oficial.
A agência estatal de notícias
Xinhua publicou texto sobre a
suspensão da importação de
ferro por uma das maiores siderúrgicas locais, a Jinan, "depois
da escalada de preços do fornecedor brasileiro".
Na quarta-feira, a empresa
disse que suas reservas são
abundantes para a demanda e
que estava importando da Austrália, da Índia e do Chile.
A Vale quis reajustar em 11%
o preço do minério de ferro
vendido à China. Segundo a
empresa, os chineses pagam
11% menos que os europeus pelo mesmo minério. A Associação de Ferro e Aço da China
alega que os contratos já estavam assinados e que o reajuste
é ilegal, e decidiu pelo boicote.
"A negociação já acabou e
não haverá renegociação de
preços tão cedo", disse à Folha
o analista Hu Kai, do site Umetal.com, especialista em siderurgia chinesa. "A demanda está em queda por causa da desaceleração, há incertezas pelo
mundo e há um enorme estoque; então os empresários querem renegociar e colocar o preço lá embaixo", diz.
A China tem 200 milhões de
toneladas de minério de ferro
em estoque. A Baosteel, maior
produtora de aço do país, reduziu o preço em 40%. Além da
desaceleração da construção
civil, há queda nas vendas de
produtos que usam o material,
como automóveis (3,3%), geladeiras (6%) e aparelhos de ar-condicionado (18,2%).
Dezenas de siderúrgicas na
Província de Hebei, vizinha de
Pequim, reduziram de 20% a
70% suas produções de ferro.
Várias fecharam as portas neste mês. Muitas compraram ferro com o preço recorde de junho (US$ 870 por tonelada),
que já caiu 40% em média.
Recuo
A queda é tão vertiginosa como o crescimento nos últimos
anos -a China produz 40% do
aço do mundo e consome 33%
de toda a produção do planeta.
Produção e demanda duplicaram entre 2000 e 2007.
Dezenas de siderúrgicas, a
maioria estatais, foram abertas
nos últimos anos e agora brecaram a produção, que caiu 7%
em setembro em relação ao
mesmo mês no ano passado, e
deve cair 11% em novembro.
"Brasil e China deveriam
chegar a um acordo. Os dois
precisam um do outro. Empresas como a Baosteel precisam
importar minério de ferro do
Brasil para ajustar a taxa de seu
material", diz Hu Kai.
Apenas de 20% a 31% do minério extraído na China é ferro,
o que faz com que a extração seja mais cara e de menor qualidade que a do Brasil, onde o minério pode chegar a 67%/68%.
A batalha das empresas chinesas com a Vale se tornou pública em setembro, quando o
secretário-geral da Associação
de Ferro e Aço da China, Shan
Shanghua, disse à revista de negócios "Caijing" que a Vale "tinha perdido a oportunidade de
conversar com a China sobre as
exportações do próximo ano".
Shan acusou a Vale de ter paralisado o embarque do minério em navios chineses, resultando em dramáticas perdas a
vários navios chineses atracados no Brasil. Procurada, a Vale
não se manifestou.
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