São Paulo, sexta-feira, 31 de outubro de 2008

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Boicote da China contra Vale agora se torna oficial

Indústria anuncia suspensão de compra do minério de ferro da empresa brasileira

Reportagem de agência estatal diz que uma das maiores siderúrgicas do país não importa mais da Vale por "escalada de preços"

RAUL JUSTE LORES
DE PEQUIM

O boicote chinês ao minério de ferro da Vale agora é oficial. A agência estatal de notícias Xinhua publicou texto sobre a suspensão da importação de ferro por uma das maiores siderúrgicas locais, a Jinan, "depois da escalada de preços do fornecedor brasileiro".
Na quarta-feira, a empresa disse que suas reservas são abundantes para a demanda e que estava importando da Austrália, da Índia e do Chile.
A Vale quis reajustar em 11% o preço do minério de ferro vendido à China. Segundo a empresa, os chineses pagam 11% menos que os europeus pelo mesmo minério. A Associação de Ferro e Aço da China alega que os contratos já estavam assinados e que o reajuste é ilegal, e decidiu pelo boicote.
"A negociação já acabou e não haverá renegociação de preços tão cedo", disse à Folha o analista Hu Kai, do site Umetal.com, especialista em siderurgia chinesa. "A demanda está em queda por causa da desaceleração, há incertezas pelo mundo e há um enorme estoque; então os empresários querem renegociar e colocar o preço lá embaixo", diz.
A China tem 200 milhões de toneladas de minério de ferro em estoque. A Baosteel, maior produtora de aço do país, reduziu o preço em 40%. Além da desaceleração da construção civil, há queda nas vendas de produtos que usam o material, como automóveis (3,3%), geladeiras (6%) e aparelhos de ar-condicionado (18,2%).
Dezenas de siderúrgicas na Província de Hebei, vizinha de Pequim, reduziram de 20% a 70% suas produções de ferro. Várias fecharam as portas neste mês. Muitas compraram ferro com o preço recorde de junho (US$ 870 por tonelada), que já caiu 40% em média.

Recuo
A queda é tão vertiginosa como o crescimento nos últimos anos -a China produz 40% do aço do mundo e consome 33% de toda a produção do planeta. Produção e demanda duplicaram entre 2000 e 2007.
Dezenas de siderúrgicas, a maioria estatais, foram abertas nos últimos anos e agora brecaram a produção, que caiu 7% em setembro em relação ao mesmo mês no ano passado, e deve cair 11% em novembro.
"Brasil e China deveriam chegar a um acordo. Os dois precisam um do outro. Empresas como a Baosteel precisam importar minério de ferro do Brasil para ajustar a taxa de seu material", diz Hu Kai.
Apenas de 20% a 31% do minério extraído na China é ferro, o que faz com que a extração seja mais cara e de menor qualidade que a do Brasil, onde o minério pode chegar a 67%/68%.
A batalha das empresas chinesas com a Vale se tornou pública em setembro, quando o secretário-geral da Associação de Ferro e Aço da China, Shan Shanghua, disse à revista de negócios "Caijing" que a Vale "tinha perdido a oportunidade de conversar com a China sobre as exportações do próximo ano".
Shan acusou a Vale de ter paralisado o embarque do minério em navios chineses, resultando em dramáticas perdas a vários navios chineses atracados no Brasil. Procurada, a Vale não se manifestou.


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