|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Consumo e confiança caem nos EUA e afetam Bolsas
Recuo de gasto de famílias após 5 meses expõe fragilidade da recuperação da economia
Dúvida é se empresas e
consumidores conseguirão
sustentar a retomada
quando estímulos do
setor público cessarem
FERNANDO CANZIAN
DE NOVA YORK
Um dia depois de divulgar
que a economia norte-americana saiu da recessão no terceiro
trimestre, o Departamento do
Comércio dos EUA revelou que
os gastos das famílias no país
em setembro sofreram a primeira queda em cinco meses.
O recuo foi de 0,5%, o mais
acentuado em nove meses. Em
agosto, a alta havia sido de 1,4%.
Combinada a uma queda no
índice de confiança dos consumidores (de 73,5 pontos em
agosto para 70,6), a notícia azedou o mercado e levou o índice
Dow Jones da Bolsa de Nova
York a recuar 2,51%. O S&P 500
caiu 2,81%, e a Nasdaq, 2,50%
(outubro foi o primeiro mês de
baixa para os dois índices após
sete de altas). No Brasil, a Bolsa
de Valores de São Paulo caiu
3,41%.
Juntos, os indicadores ressaltaram a fragilidade da recuperação e sugerem que dificilmente o consumo será o carro-chefe do crescimento dos EUA.
Os gastos das famílias respondem nos EUA por cerca de
um terço da formação do PIB. A
economia americana cresceu
3,5% entre julho e setembro sobre o trimestre anterior.
Embora a alta tenha colocado fim a uma recessão iniciada
em dezembro de 2007, ela esteve apoiada principalmente nos
gastos governamentais.
Além de o Fed (o banco central dos EUA) ter injetado trilhões de dólares no mercado financeiro emprestando dinheiro aos bancos a custo praticamente zero, há uma série de
gastos federais sustentando o
crescimento econômico.
Uma das principais fontes de
estímulo são os gastos do pacote de US$ 787 bilhões aprovado
no início do ano para obras
obras de infraestrutura e repasses de dinheiro a Estados.
Setembro mostrou que essa
ajuda estatal ainda é fundamental e que os consumidores
continuam relutantes em abrir
suas carteiras para gastar mais.
Ao contrário, eles continuam
tendendo a poupar mais.
As vendas de bens duráveis
no país, por exemplo, recuaram
7,2% em setembro, com forte
influência do setor de automóveis. Até 24 de agosto, o governo empenhou quase US$ 3 bilhões para estimular motoristas a trocar veículos "bebedores" por modelos mais econômicos. Com o fim do programa,
as vendas despencaram.
Ontem, o governo também
anunciou que cerca de 650 mil
empregos teriam sido salvos ou
criados desde que o pacote de
US$ 787 bilhões entrou em vigor. É outro indicativo de que é
o dinheiro estatal o principal
"motor" da recuperação.
A grande dúvida entre economistas e analistas (que alimentaram a queda da Bolsa ontem)
é se empresas e consumidores
privados conseguirão sustentar
a recuperação quando o setor
público tiver de "passar o bastão" para eles.
Para o economista e professor da Universidade Harvard
Martin Feldstein, "o grande perigo continua sendo um novo e
sério recuo da atividade ao longo de 2010".
Já a Casa Branca disse ontem
acreditar, por meio do porta-voz Robert Gibbs, "que a economia está no início de uma fase melhor".
Outro indicador do Departamento do Comércio mostrou
que a renda real disponível entre as famílias no país caiu 0,1%
em setembro.
Apesar da queda, os americanos voltaram a elevar seu nível
de poupança. Ele subiu de 2,8%
do total da renda disponível em
agosto para 3,3% em setembro.
Em termos anualizados, o total da poupança acumulada até
setembro pelos norte-americanos chegou a US$ 355 bilhões.
O valor (retirado, portanto, do
consumo) equivale a cerca de
45% do total que o governo está
gastando em seu principal pacote de estímulo.
Texto Anterior: Inverno rigoroso aumenta despesas da população Próximo Texto: BC do Japão inicia retirada de estímulo Índice
|