São Paulo, sábado, 31 de outubro de 2009

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Consumo e confiança caem nos EUA e afetam Bolsas

Recuo de gasto de famílias após 5 meses expõe fragilidade da recuperação da economia

Dúvida é se empresas e consumidores conseguirão sustentar a retomada quando estímulos do setor público cessarem

FERNANDO CANZIAN
DE NOVA YORK

Um dia depois de divulgar que a economia norte-americana saiu da recessão no terceiro trimestre, o Departamento do Comércio dos EUA revelou que os gastos das famílias no país em setembro sofreram a primeira queda em cinco meses.
O recuo foi de 0,5%, o mais acentuado em nove meses. Em agosto, a alta havia sido de 1,4%.
Combinada a uma queda no índice de confiança dos consumidores (de 73,5 pontos em agosto para 70,6), a notícia azedou o mercado e levou o índice Dow Jones da Bolsa de Nova York a recuar 2,51%. O S&P 500 caiu 2,81%, e a Nasdaq, 2,50% (outubro foi o primeiro mês de baixa para os dois índices após sete de altas). No Brasil, a Bolsa de Valores de São Paulo caiu 3,41%.
Juntos, os indicadores ressaltaram a fragilidade da recuperação e sugerem que dificilmente o consumo será o carro-chefe do crescimento dos EUA.
Os gastos das famílias respondem nos EUA por cerca de um terço da formação do PIB. A economia americana cresceu 3,5% entre julho e setembro sobre o trimestre anterior.
Embora a alta tenha colocado fim a uma recessão iniciada em dezembro de 2007, ela esteve apoiada principalmente nos gastos governamentais.
Além de o Fed (o banco central dos EUA) ter injetado trilhões de dólares no mercado financeiro emprestando dinheiro aos bancos a custo praticamente zero, há uma série de gastos federais sustentando o crescimento econômico.
Uma das principais fontes de estímulo são os gastos do pacote de US$ 787 bilhões aprovado no início do ano para obras obras de infraestrutura e repasses de dinheiro a Estados.
Setembro mostrou que essa ajuda estatal ainda é fundamental e que os consumidores continuam relutantes em abrir suas carteiras para gastar mais. Ao contrário, eles continuam tendendo a poupar mais.
As vendas de bens duráveis no país, por exemplo, recuaram 7,2% em setembro, com forte influência do setor de automóveis. Até 24 de agosto, o governo empenhou quase US$ 3 bilhões para estimular motoristas a trocar veículos "bebedores" por modelos mais econômicos. Com o fim do programa, as vendas despencaram.
Ontem, o governo também anunciou que cerca de 650 mil empregos teriam sido salvos ou criados desde que o pacote de US$ 787 bilhões entrou em vigor. É outro indicativo de que é o dinheiro estatal o principal "motor" da recuperação.
A grande dúvida entre economistas e analistas (que alimentaram a queda da Bolsa ontem) é se empresas e consumidores privados conseguirão sustentar a recuperação quando o setor público tiver de "passar o bastão" para eles.
Para o economista e professor da Universidade Harvard Martin Feldstein, "o grande perigo continua sendo um novo e sério recuo da atividade ao longo de 2010".
Já a Casa Branca disse ontem acreditar, por meio do porta-voz Robert Gibbs, "que a economia está no início de uma fase melhor".
Outro indicador do Departamento do Comércio mostrou que a renda real disponível entre as famílias no país caiu 0,1% em setembro.
Apesar da queda, os americanos voltaram a elevar seu nível de poupança. Ele subiu de 2,8% do total da renda disponível em agosto para 3,3% em setembro.
Em termos anualizados, o total da poupança acumulada até setembro pelos norte-americanos chegou a US$ 355 bilhões. O valor (retirado, portanto, do consumo) equivale a cerca de 45% do total que o governo está gastando em seu principal pacote de estímulo.


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