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ENERGIA
Físico diz que irá assumir Eletrobrás e alerta para risco de racionamento caso não sejam revistos compromissos com o FMI
País pode ter apagão em 2005, diz Pinguelli
Folha Imagem
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O físico Luiz Pinguelli Rosa, que diz ter sido convidado e aceitado ser presidente da Eletrobrás |
MURILO FIUZA DE MELO
DA SUCURSAL DO RIO
O físico Luiz Pinguelli Rosa, 60,
diretor da Coppe (Coordenação
dos Programas de Pós-Graduação em Engenharia), da UFRJ,
disse ontem que aceitou o convite
para ser presidente da Eletrobrás.
A estatal não é uma empresa
produtiva, mas uma holding financeira, que agrupa as estatais
federais geradoras de energia
(Furnas, Eletronorte, Eletronuclear e Chesf) e é vinculada ao Ministério das Minas e Energia. A escolha de Pinguelli foi feita pela futura ministra, Dilma Rousseff.
Pinguelli defendeu que sejam
desvinculados os investimentos
do setor elétrico estatal dos compromissos com o superávit primário, acordado com o FMI. Segundo ele, se isso não acontecer,
poderá haver novos apagões no
país a partir de 2005.
Pinguelli disse ainda que não teme trombar com a futura equipe
econômica por causa disso. Leia a
entrevista telefônica concedida
ontem à Folha:
Folha - O senhor sempre foi um
forte crítico da política do atual governo para o setor elétrico. Qual é a
herança que o senhor recebe ao assumir a presidência da Eletrobrás?
Luiz Pinguelli Rosa - No fundo,
todo o setor elétrico sofreu muito
com a equivocada política de privatização, que não deu o resultado prometido. O setor não expandiu, as tarifas subiram e a qualidade, obviamente, não melhorou,
tanto que houve um colapso em
2001. Essa é a nossa herança e deve ser revertida.
Folha - O sistema Eletrobrás é responsável por 60% da geração de
energia elétrica do país. Qual é a
sua principal meta ao assumir a
presidência da estatal?
Pinguelli - Nós vamos trabalhar
em comum acordo com o ministério. A equipe é coesa. No meu
caso, a intenção é tornar a Eletrobrás uma empresa dinâmica, que
articule as suas controladas e que
promova investimentos, não só
com recursos próprios, mas
atraindo parcerias com o capital
privado, dentro de uma política
de expansão do setor, para que
daqui a dois, três, quatro anos o
Brasil não sofra um novo apagão.
É preciso também revitalizar o
Cepel [Centro de Pesquisas da
Eletrobrás], intensificar as parcerias com as universidades e institutos de pesquisa do exterior.
Folha - Há um estudo recente da Eletrobrás mostrando que até 2012 o país não sofre risco de racionamento...
Pinguelli - Isso está errado. Não
sei que estudo é esse. Nós podemos garantir apenas dois anos,
provavelmente, sem risco de apagão. Daí em diante, não.
Folha - No programa de campanha do PT para o setor de energia,
do qual o senhor foi um dos coordenadores, havia uma previsão de R$
8 bilhões de investimentos por ano
provenientes do caixa das empresas públicas de energia. Será possível alcançar essa meta em 2003?
Pinguelli - Nós queremos chegar
a essa meta, que é perfeitamente
razoável pela receita do setor. Naturalmente, isso não quer dizer
que possamos atingi-la em 2003,
porque estamos pegando um Orçamento feito pelo governo anterior e uma dificuldade econômica
gigantesca.
Agora, é preciso também que as
obras dadas ao setor privado sejam feitas. Muitas concessões de
termoelétricas e hidroelétricas estão andando, outras não.
Folha - Como expandir a oferta de
energia, se as estatais também estão proibidas de investir em função
do compromisso com o superávit
primário?
Pinguelli - Obviamente que isso
é um problema que nos afeta muito. Na Eletrobrás, vai ser, talvez,
uma das primeiras tarefas nossas.
Ou seja, teremos que advogar para o setor elétrico o mesmo status
que a Petrobras já conseguiu. Pode ser que em 2003 os fatos consumados e a enorme dívida acumulada não permitam resolver esse
problema. Mas, certamente, em
2004, nós vamos fazer o possível
para que seja resolvido. É preciso
que o setor elétrico seja desembaraçado dessa restrição imposta
pelo FMI, para investir e evitar os
apagões em 2005.
Folha - Essa desvinculação com o
superávit primário não pode levá-lo a trombar com a futura equipe
econômica?
Pinguelli - Não desejo nenhuma trombada com a equipe econômica do futuro governo, mas a
nossa posição, e eu entendo que a
da ministra Dilma também, é de
permitir que o setor elétrico se expanda. Logicamente, isso vai levar
a necessidade de renegociar metas de investimentos das empresas elétricas estatais. Acho que
não se trata de trombada, mas
apenas de uma discussão salutar.
Se todos tivessem o mesmo gosto,
ninguém comeria quiabo.
Folha - Como base no IGP-M, o Copom prevê um aumento de 30,3%
nos preços da energia em 2003. O
senhor defendeu durante a campanha que o novo governo convocasse todas as concessionárias para repactuar as tarifas. Como presidente da Eletrobrás, como pretende influir na política tarifária?
Pinguelli - Esse é um assunto a
cargo da [futura] ministra [das
Minas e Energia] Dilma [Rousseff]. Pelo o que eu sei, ela já está
em contato com o próprio ministro da Fazenda para uma redefinição da política tarifária, tanto para
combustíveis quanto para energia
elétrica. Naturalmente, nessa revisão temos que rediscutir o que
possa ser repactuado, para que o
consumidor não pague tudo.
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