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LUIZ CARLOS BRESSER-PEREIRA
Desenvolvimento econômico sustentável
É um equívoco colocar em conflito dois objetivos fundamentais, que podem ser combinados
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OS RESULTADOS da conferência
de Bali sobre o aquecimento
global deixaram a desejar. O
que se discutia era o futuro da humanidade e o que se viu foi uma luta
mesquinha entre os países para saber como dividir os custos de um
problema que é de todos nós enquanto participantes da sociedade
global. Os países mais resistentes a
um acordo eram os Estados Unidos,
a China e a Índia. O primeiro sem
nada poder alegar em seu benefício,
os dois últimos exigindo para o novo
acordo a mesma idéia que o Brasil
tornou vitoriosa no Protocolo de
Kyoto -a idéia, que precisa ser revista, que os danos históricos feitos
pelos países ricos no ambiente justificam que os países em desenvolvimento não sejam obrigados a contribuir para a diminuição da emissão de carbono.
Conforme relatou "The Economist", quem salvou a conferência foi
um representante da Papua-Nova
Guiné, condenada a submergir pelas
águas se os grandes países não agirem, que, indignado com a resistência dos Estados Unidos em colaborar, aproximou-se do microfone e
bradou emocionado, "se por alguma
razão vocês não estão querendo liderar, deixem o problema para nós,
por favor, apenas não atrapalhem".
O aplauso foi enorme. Alguns minutos depois, vencida, a representante
americana: "nós iremos adiante e
participaremos do consenso". Este,
entretanto, foi modesto. O principal
resultado, em parte graças à proposta do Brasil de se criar um fundo internacional para proteger a floresta amazônica, resumiu-se a um projeto sobre como interromper o desmatamento global. No mais, como a própria "Economist" reconhece, o
que se produziu foi "uma declaração
de boas intenções, da qual os Estados Unidos lograram que todo conteúdo substantivo fosse eliminado"
(texto completo em meu site).
Por trás dessa resistência existe o
pressuposto de que o crescimento
econômico -com o qual todos os
governos estão comprometidos-
não é compatível com o desenvolvimento sustentável ou, em outras palavras, que os custos do combate ao
aquecimento global são muito altos.
Desde que, há 15 anos, orientei uma
tese de doutoramento sobre o controle da poluição na cidade de São
Paulo, estou convencido de que esse
pressuposto é equivocado: esses
custos são menores do que geralmente se pensa. Os custos serão elevados em duas condições: se quisermos eliminar todos os efeitos negativos da poluição e se estabelecermos objetivos de curto prazo. No
primeiro caso, porque os custos de
eliminá-la crescem inicialmente
pouco, mas se tornam muito altos
quando nos aproximamos de níveis
elevados de neutralização da poluição. No segundo, porque as mudanças nas empresas, nos veículos e no
desmatamento só podem ser realizadas de forma econômica se forem
graduais -no caso dos automóveis,
por exemplo, definindo regras duras
para os novos veículos, como está fazendo a União Européia.
Portanto, desde que todos concordem com essas duas condições, não
há razão para tanta resistência a um
acordo global sobre o efeito estufa. O
desenvolvimento econômico é necessário, mas deve e pode ser também sustentável. É um equívoco colocar em conflito dois objetivos fundamentais, que, se forem buscados
de forma razoável e inteligente, podem ser combinados.
LUIZ CARLOS BRESSER-PEREIRA , 73, professor emérito
da Fundação Getulio Vargas, ex-ministro da Fazenda, da
Reforma do Estado e da Ciência e Tecnologia, é autor de
"Macroeconomia da Estagnação: Crítica da Ortodoxia Convencional no Brasil pós-1994".
Internet: www.bresserpereira.org.br
lcbresser@uol.com.br
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