São Paulo, segunda-feira, 31 de dezembro de 2007

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Ações de bancos sobem menos que Ibovespa

Apesar de bons resultados financeiros, instituições tiveram valorização inferior à do principal índice da Bolsa de São Paulo

No ano da crise do crédito imobiliário, dos 50 maiores bancos dos EUA e da AL, só 12 tiveram ganhos nas Bolsas em que estão listados

MARIA CRISTINA FRIAS
DA REPORTAGEM LOCAL

No fechamento do ano da crise do crédito imobiliário nos EUA, ações de instituições financeiras americanas continuam a registrar perdas acentuadas. No Brasil, papéis do setor bancário encerraram 2007 com bons resultados, mas os maiores bancos privados não conseguiram ultrapassar o Ibovespa (principal índice da Bolsa de São Paulo), como em 2006.
Dentre os 50 maiores bancos por ativos dos Estados Unidos e da América Latina, apenas 12 instituições encerraram o ano com ganhos nas Bolsas em que estão listados, sendo que cinco desses bancos são brasileiros.
O levantamento feito pela consultoria Economática, a pedido da Folha, mostra que, dos 44 maiores bancos americanos, 37 viram suas ações no vermelho no acumulado do ano, até o dia 27 passado.
Papéis do Citigroup, o maior banco americano em ativos, caíram 42,9% no mesmo período. Ações da corretora Merrill Lynch, por sua vez, perderam 43,2%. Somando o JP Morgan Chase, as três instituições financeiras podem ter prejuízo de mais de US$ 34 bilhões no quarto trimestre, em decorrência da crise do crédito imobiliário de alto risco, o "subprime", segundo o Goldman Sachs.
Papéis do JP Morgan Chase, porém, recuaram 4,1% neste ano, uma perda comparativamente pequena à de outros grandes bancos norte-americanos. Ações do Bank of America caíram 17%, do Wachovia, 28,6%, e do Wells Fargo, 9,1%.

Bancos brasileiros
Com a crise do "subprime", ações de bancos no mundo todo sentiram num primeiro momento seus reflexos. "Fundos globais que investem em setor financeiro passam uma faca na horizontal", diz Jorge Simino, da Fundação Cesp. "Um conhecido estrangeiro queria saber a quantas ia o "subprime" no Brasil. Mal temos o "prime", quanto mais o "subprime", e o derivativo do "subprime"...", afirma.
Dentre os 50 maiores bancos por ativos dos EUA e da América Latina listados em Bolsa, seis são brasileiros, segundo a Economática: Banco do Brasil, Bradesco, Itaú, Unibanco, Santander Brasil e Nossa Caixa. Destes, apenas os papéis da Nossa Caixa não fecharam o ano no azul, recuando 46,7%.
A maior rentabilidade acumulada dentre as ações dos 50 maiores bancos das Américas, conforme a relação da Economática, foi do Santander Brasil, com alta de 87,9% na Bovespa.
Puxada pela operação de colocação de ações, a cotação do Banco do Brasil subiu 51,3%.
Apesar dos grandes lucros das instituições bancárias, as ações dos demais bancos não fecharam o ano tão brilhantemente como em 2006, quando bateram o Ibovespa.
No acumulado deste ano, o Itaú subiu 24,2%, o Bradesco, 31,9%, e o Unibanco, 23,7%, enquanto o Ibovespa fechou com alta de 43,65%. Em 2006, as altas foram de, respectivamente, 40,4%, 33% e 45,3%. O índice teve elevação de 32,9%.
Como investidores já tinham comprado muitas ações de segunda linha nos IPOs (oferta pública inicial, na sigla em inglês), quando o mercado começou a se recuperar, o foco foi na Vale do Rio Doce e na Petrobras, ações com grande peso no Ibovespa.
"Ainda que a comparação com o Ibovespa seja pertinente, é covardia comparar com Vale e Petrobras, cujos resultados foram surpreendentes e puxaram o índice, que fechou com alta de 43,65%, contra 32,9% de 2006", afirma Aloisio Lemos, da Ágora Corretora. Para ele, a expansão do crédito, de ao menos 20% em 2008, deve continuar a impulsionar o desempenho de bancos.
"O crescimento do setor neste ano foi menos expressivo do que em outros", diz Simino.
Os resultados dos bancos foram beneficiados por ganhos não recorrentes, eventos que não vão mais se repetir, como a abertura de capital da Redecard, da Bovespa e da BM&F e a venda da Serasa. Simino espera um primeiro semestre com a Bolsa "andando de lado", sem subir ou cair tanto.
"Houve temor de alta da inadimplência no crédito ao consumidor, o que levou os bancos de volta ao risco, depois de décadas de tranqüilidade", afirma o consultor Luiz Antonio Vaz das Neves.


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