São Paulo, quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

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VINICIUS TORRES FREIRE

Ano Bom: vamos tentar, ao menos


Expectativas das empresas indicam queda da indústria até o início de 2009, mas ainda dá para "virar" o jogo

OS INDUSTRIAIS brasileiros ficaram ainda mais pessimistas em dezembro, segundo pesquisa da FGV (Sondagem Conjuntural da Indústria). Dadas a brevidade e a escassez das séries de dados econômicos brasileiros, para não mencionar esquisitices e a volatilidade nacionais, não somos muito inclinados a prestar atenção a indicadores antecedentes de atividade econômica. Mas as informações sobre as expectativas dos industriais recolhidas pela sondagem da FGV costumam indicar com razoável precisão a tendência da indústria para um período de um a três meses adiante. As notícias da pesquisa divulgada ontem não são alentadoras, para não dizer nada de mais chocante num dia que é de renovação de esperanças, como reza a tradição. O Índice de Expectativas da FGV despenca desde a explosão catastrófica da crise americana, em setembro. Caiu 11% em outubro (contra o mês anterior), 17% em novembro e, agora, em dezembro, mais 11%, para chegar ao nível mais baixo da série da FGV, desde 1998.
O dado mais recente do IBGE sobre a indústria é de outubro: a produção industrial cresceu então apenas 0,8% sobre outubro de 2007 e encolheu 1,7% em relação a setembro. A previsão do Ipea para novembro é de queda de 6,7% em relação a novembro de 2007 e baixa de 7,2% em relação a outubro deste ano.
A julgar pelos dados do Índice de Expectativas da FGV, tanto o último trimestre deste ano como o primeiro de 2009 serão muito negativos para a indústria. Literalmente: a produção industrial deve encolher.
Na primeira metade de dezembro, a venda de carros caiu 31% em relação a novembro. As condições de crédito em novembro não melhoraram em nada em dezembro. Houve parada brusca na até agora admirável expansão do emprego formal. Com empresas estocadas e emprego crescendo menos, os bancos não devem relaxar o crédito.
As empresas não devem, pois, se animar muito. De 1.086 empresas consultadas pela FGV, 24,7% projetam ampliar a produção de dezembro a fevereiro; 33,8% dizem que vão reduzi-la. É o pior resultado desde janeiro de 1991, nos horríveis anos Collor (naquele mês, 43,7% das empresas previam reduzir a produção).
Mas o futuro não está dado. Parte relevante do tombo na economia brasileira neste trimestre deveu-se a um brutal choque de confiança: consumidores e empresas ficaram mais cautelosos diante do noticiário chocante e, claro, de realidades como juros mais altos, crédito mais escasso e mais caro (e perda de riqueza devido à queda da Bolsa, por exemplo, que já tem certa relevância no Brasil). A pesquisa da FGV foi respondida antes de que fossem divulgadas medidas de estímulo pelo governo. Talvez o medo se dissipe um pouco no início do ano. Talvez não seja possível "virar o jogo" no primeiro trimestre de 2009. Mas a economia do Brasil está em sua melhor forma nos últimos 30 anos. E ainda dá tempo de ajeitar o resto do ano que vem.
Apesar de tudo, o colunista espera sinceramente descobrir em 2009 que seus piores temores não tinham enfim lá muito fundamento e que o ano que vem seja o melhor possível para todos nós, que temos filhos para criar e empregos para manter, os nossos ou os de nossas empresas.

vinit@uol.com.br



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