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São Paulo, domingo, 03 de agosto de 2003

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NO ALVO DOS CORTES

Enxugamento contínuo nas empresas ameaça até mesmo quem é considerado bom profissional

Critérios para demitir são pouco claros

Fernando Moraes/Folha Imagem
O operador Carlos José da Cruz, que saiu da Phillips sem entender o motivo do desligamento


BRUNO LIMA
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Corre aquele burburinho pelos corredores da empresa: "Vão demitir, vão demitir". E só o que o empregado quer saber é se está ou não está na mira dos cortes.
Descobrir e entender esse processo está mais complicado do que antes, dizem consultores.
Os cortes já não se resumem em separar o joio do trigo. Entre o "joio" (profissionais considerados não-satisfatórios, que certamente deixarão a empresa) e o "trigo" (profissionais excelentes, que certamente serão mantidos), surge uma massa de profissionais que fica no meio do caminho e que vai sendo atingida pelos cortes em níveis que se aproximam cada vez mais do "trigo".
Consultores ensinam que todas as empresas, mesmo as de pequeno porte, sabem quem serão as primeiras vítimas em caso de cortes. Seria esse o "joio" -representado por demissões que já deveriam ter ocorrido e que teriam sido adiadas por razões como o receio dos chefes em demitir.
Os alvos são sobretudo profissionais que foram considerados aptos em rigorosas seleções de recrutamento, mas que não atendem mais às metas e ao perfil da empresa. Incluem desde quem não tem bom relacionamento com a chefia e com os colegas até quem simplesmente deixou de se atualizar e de cuidar da carreira.
Se cortar a cabeça dessa categoria não for o bastante para atingir a redução de custo estipulada, a guilhotina passa a cair sobre a cabeça de quem até ficaria na empresa, caso a situação fosse outra.

Motivos
De acordo com a análise dos consultores, nas grandes empresas a maioria das decisões é baseada em avaliações periódicas de desempenho e de comportamento dos funcionários. Já as pequenas utilizariam com mais frequência os critérios subjetivos.
O motivo que leva um ou outro nome à lista dos que recebem o bilhete azul é quase sempre uma incógnita para o demitido.
Saber a razão de ter sido dispensado, cuidado visto pelos consultores como importante para não repetir erros, pode ser muito difícil, segundo essa lógica. "Muitas vezes não há nenhum [motivo]", afirma Neussymar Magalhães, diretora da RHMC, unidade de negócios de consultoria da Madia Mundo Marketing.
A BCP, por exemplo, que há cerca de um mês realizou corte de cem profissionais motivado pelo fechamento e pela venda de lojas, informou à Folha, por meio de sua assessoria, que não gostaria de deixar a impressão de que os funcionários que saíram da empresa são piores do que os que permaneceram trabalhando.
"O ideal é escolher aqueles que vão impactar menos os resultados da empresa", diz Matilde Berna, gerente da unidade de transição de carreira da RightSaadFellipelli. Mesmo quando adotam critérios objetivos ligados a desempenho ou produtividade, muitas empresas evitam divulgá-los aos próprios funcionários. Procuradas pela Folha, companhias que fizeram cortes no primeiro semestre deste ano, entre elas a Telefônica, a Philips e a Deca, não responderam que critérios utilizam para decidir quem fica e quem sai quando são feitos cortes.
A razão do silêncio, segundo especialistas, é que, na hora de fechar a lista, as empresas em geral incluem entre os cortados funcionários que atendem aos requisitos técnicos, mas que incomodam quando entram em campo as avaliações pessoais e subjetivas.
"No mesmo pacote, um ou outro vai embora por problemas pessoais. Daí o medo de falar", diz Neli Barbosa, da Manager Assessoria em Recursos Humanos.


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