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São Paulo, domingo, 03 de agosto de 2003

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O ALVO DOS CORTES

Perguntar à chefia como melhorar no trabalho e mostrar iniciativa pode tirar nome da "lista negra"

Diálogo pode contornar desfecho ruim

FREE-LANCE PARA A FOLHA

Se é certo que vai haver cortes, o que você pode fazer para aumentar sua chance de permanecer na empresa? Pergunte ao seu chefe.
Essa simples questão, afirmam consultores ouvidos pela Folha, demonstra intenção de colaborar com a empresa em uma hora difícil, disponibilidade para buscar soluções alternativas e até disposição para fazer sacrifícios. Em resumo: pode ajudar o empregado a escapar dos desligamentos.
É preciso, no entanto, que toda a disposição demonstrada seja sincera e que venha de alguém já comprometido com o trabalho. Do contrário, o funcionário pode ser visto como um oportunista ou um simples "puxa-saco".
"Não adianta correr na hora em que a coisa está acontecendo, a não ser que você seja um político e saiba fazer conchavos. A saída é mesmo a competência", ensina Neli Barboza, da Manager. Se quem oferece ajuda é um funcionário capacitado e competente, não há empresa que veja isso como negativo, afirma ela.
Sentir-se "ameaçado", por mais incrível que pareça, pode ser uma coisa boa para não se esquecer da carreira e manter-se atualizado. "Quanto mais você se sente seguro no emprego, mais perto da demissão você está", diz Barboza. A sensação de segurança, segundo ela, tem a ver com acomodação. Já o "estresse" pode ser redirecionado para dar mais gás ao trabalho.
Mas, se é bom estar atento aos sinais de que o emprego pode estar ameaçado, também é necessário tomar cuidado para evitar a paranóia. "Achar que está em perigo porque o chefe não sorriu ou porque não deu bom-dia não tem cabimento", afirma Marcelo Mariaca, da Mariaca & Associates.
A análise deve ser mais aprofundada, segundo ele. Avaliar a relação com o superior e com os colegas, descobrir se está satisfazendo as aspirações deles e fazer uma auto-avaliação de desempenho seriam os verdadeiros passos para verificar a estabilidade.
Depois que ocorre a demissão, o conselho é manter o foco na carreira e nos objetivos já traçados. Não abandonar iniciativas como a pós-graduação é outra dica importante. Quem está empregado tem melhores condições de negociar na hora de buscar uma nova colocação, mas quem foi dispensado não deve pensar que tem menos chances de se dar bem.
"Estar desempregado não é uma barreira em si. O importante é não se sentir um coitadinho. Muitas vezes os sinais [da demissão] já estavam claros, e a pessoa não prestou atenção e não tentou evitar", afirma Guilherme Velloso, diretor da consultoria Panelli Motta Cabrera e Associados.

Competição
Pesquisa qualitativa feita pela empresa júnior da ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing) com 40 universitários da escola e de instituições como USP, Faap, PUC-SP e Ibmec, concluiu que graduandos têm como maior preocupação a empregabilidade e vêem os colegas de curso como futuros contatos profissionais ou, então, como concorrentes.
"Os jovens de hoje sabem que têm de ser os melhores para ficar distantes dos cortes", explica a professora Aylza Munhoz, diretora da pós-graduação da ESPM.
Segundo ela, a pesquisa mostra que os alunos conhecem bem as dificuldades do mercado de trabalho. "Eles estão convencidos de que têm de estudar sem parar para não cair fora do jogo. Ninguém vai simplesmente pendurar o diploma", declara a professora.
Ter boa formação, objetivo definido para a carreira e continuar se atualizando constantemente não é garantia de emprego. Apesar disso, quem tem esses atributos tem mais chances de deixar a empresa em melhores condições.
Entre altos executivos, ensinam os consultores, há em geral dois tipos de corte: para reestruturar a empresa e por desgastes de relacionamento. São cortados os que estão desatualizados e aqueles que incomodam -algumas vezes justamente por gerarem melhores resultados que os demais.
Quem faz sucesso na organização e não tem o posto máximo em sua área teria dois destinos no mercado de trabalho: ascender rapidamente e ultrapassar os "desafetos" ou continuar se desgastando e esperar o corte, que nesse caso seria mera questão de tempo.


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