São Paulo, domingo, 04 de abril de 2004
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XÔ, PESSIMISMO Pesquisa inédita relaciona tensão muscular com maneira de lidar com afetividade negativa Mau humor é doença e prejudica a carreira
PAULA LAGO EDITORA-ASSISTENTE DE EMPREGOS E NEGÓCIOS Lidar com mal-humorados dá trabalho. Essas pessoas tendem a encarar o mundo como um ambiente hostil, não se relacionam com os colegas na empresa, só enxergam problemas e reclamam de tudo. Segundo o psiquiatra e consultor organizacional Isaac Efraim, 47, o mau humor é uma doença e requer tratamento. "É uma manifestação dos estados de ânimo de quem sofre de depressão e de estresse, e, com essa atuação, o ambiente passa a ser visto como negativo e hostil." E completa: "Sua classificação como doença é recente, ocorreu há cerca de cinco anos. Estima-se que 30% da população mundial tenha crises de mau humor". Mas calma. Se você é um dos que ficam irritados com o trânsito, não será obrigatoriamente diagnosticado como um mal-humorado crônico. Esse grupo, sim, é objeto de pesquisas científicas, pois as conseqüências da irritação acima do normal afetam a saúde, a vida pessoal e até a carreira. Dor Pesquisa inédita realizada por um grupo de brasileiros da Isma-BR (International Stress Management Association), entidade internacional voltada para o estudo do estresse, mostra que há relação entre tensão muscular, estilo político ("jeitinho" para lidar com as situações) e afetividade negativa (predisposição para sentir o mundo como uma ameaça). O estudo, feito com 230 profissionais de três grandes empresas nacionais, levou 15 meses para ficar pronto e será apresentado hoje nos EUA, em conferência da Siop, organização norte-americana de psicologia organizacional. Dentre as conclusões (veja quadro ao lado), chama mais a atenção o grau de tensão dos pesquisados. Os profissionais estavam em descanso (leia-se fora do ambiente do trabalho) quando foram submetidos a um eletromiograma, exame feito por meio de um EMG (eletromiógrafo), que quantifica o nível de eletricidade no músculo, isto é, a tensão. O resultado médio foi de 8,3 microvolts, enquanto o normal é 1,5. "Quando alta, a tensão, que leva ao mau humor, provoca dor. Avalio que os pesquisados estavam tão preocupados com o trabalho e com o seu desempenho que nem se deram conta de que sentiam dor", diz Ana Maria Rossi, presidente da Isma-BR e coordenadora do estudo. "Pelo contrário: acostumaram-se com ela. Mas a tensão está lá, e indica que estão atuando com baixa concentração, o que reduz a produtividade." Alto astral Cientes dos riscos que o mau humor causa à produtividade, as empresas estão de olho no astral dos funcionários. A equipe de medicina preventiva da Central Nacional Unimed, por exemplo, tem, entre suas palestras, uma sobre os benefícios do bom humor. Para as empresas clientes solicitarem a apresentação há um motivo matemático: aliada a outros fatores, queda de mais de 15% na produtividade, em seis meses, sem que esta se justifique por fatores externos ou internos explícitos, é sinal de que o ambiente não anda bem. O advogado Rodrigo Mourão Medeiros, 25, já teve crises nervosas, oscilações na pressão arterial e chegou a sair de um emprego por discordar da empresa. Ele mesmo se diz "muito crítico, o que me leva a ser mal-humorado e inflexível". "Sou assim em todas as situações e assumo isso. Mas tenho amigos e vou começar a praticar esporte para relaxar." Luciane Vicente, 28, empresária, admite ser mal-humorada no trabalho. "Gerenciar pessoas é difícil. Se não aceito os meus erros, vou aceitar os dos outros?" "Faço terapia há três anos, sei que o mau humor tem um lado positivo, o senso crítico." Mas o estresse continua: "Sinto muita tensão na área do pescoço e vou à fisioterapia após dias agitados". 4º CONGRESSO DE STRESS DA ISMA-BR. Quando: 22 e 23 de junho. Onde: Centro de Eventos Plaza São Rafael, Porto Alegre, RS. Informações: 0/xx/ 51/3222-2441 ou www.ismabrasil.com.br Próximo Texto: Bom humor no trabalho não é unanimidade Índice |
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