São Paulo, domingo, 04 de agosto de 2002

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SELEÇÃO GEOGRÁFICA

Mercado cria "perímetro" para vaga

Fernando Moraes/Folha Imagem
Migrante Cansada do trânsito, Sandra Ripamonte Gomes, 35, secretária-executiva, resolveu mudar-se da zona norte para a sul, onde trabalha. "Quando engravidei, precisei organizar minha vida"

VALDETE DE OLIVEIRA
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Boa formação, domínio de idiomas ou noções de informática às vezes não são suficientes para obter uma vaga se falta um requisito: morar próximo do trabalho.
A preferência por quem resida perto da empresa atinge principalmente profissionais das áreas operacional e administrativa, estagiários e trainees.
Dependendo do caso, o local de moradia também é levado em conta para os postos mais altos -mas isso costuma ser remediado com um outro requisito, o da "disponibilidade para mudança".
"Essa condição faz parte da política das empresas contratantes. As consultorias de recursos humanos e as agências de empregos que não oferecem essa logística perdem competitividade", afirma Pedro Scigliano, diretor comercial da consultoria Manpower.
Na avaliação dos consultores, o principal fator para a preferência é a relação custo/rendimento. "Quem fica cerca de três horas no trânsito contribui menos para a produtividade", diz o fundador do Grupo Catho, Thomas Case.
Para Scigliano, a exigência existe tanto nos serviços efetivos como nos temporários. Ele estima que essa condição das empresas representava cerca de 30% das vagas abertas há oito anos. Hoje corresponde a pelo menos 90%.
Na Manpower, a frequência maior dos pedidos vem de lojas de departamentos, do comércio varejista e do setor alimentício.

Fronteira do emprego
A diretora comercial da Gelre (recursos humanos), Adriana Arienti, confirma essa tendência: "Cerca de 80% das ofertas de emprego em cargos operacionais priorizam quem mora perto".
Para Arienti, as empresas não querem arcar com muitas despesas com o transporte de funcionários. "Elas pagam uma média de três conduções por trabalhador, mas quatro já não querem pagar."
A gerente de Divisão de Projetos Especiais da consultoria Adecco Top Services, Denise Zimmermann, concorda e dá alguns exemplos: "Uma rede de supermercados do Nordeste especifica a distância e não contrata pessoas que morem a mais de 32 km do local de trabalho".
Uma indústria mecânica paulista, diz Zimmermann, avisa que tem ônibus fretado para seus funcionários, mas em pontos determinados da cidade. Até o local, o transporte fica por conta deles.

Alto escalão
"O custo do profissional por hora reflete no preço final do produto. Esse cálculo, porém, não é o fator determinante em cargos de alto escalão, embora a questão da qualidade de vida, que é morar mais perto do emprego, influencie na produtividade", avalia.
Uma pesquisa feita pelo Grupo Catho com 9.174 executivos, em dezembro do ano passado, mostra o peso do fator localização da moradia. Do universo pesquisado, 28% já aceitaram trocar de cidade para serem contratados. Uma grande parcela -88% dos profissionais- disse que aceitaria mudar de residência se fosse preciso; 32% fizeram isso por pedido do empregador.



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