São Paulo, domingo, 06 de agosto de 2006

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No mesmo degrau

Profissionais descartam atividades gerenciais

Falta de habilidades de gestão é uma das razões para recusar posto

RAQUEL BOCATO
DA REPORTAGEM LOCAL

MARIANA IWAKURA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

A trajetória na empresa sempre foi ascendente. Os caminhos que passam pelas áreas técnicas foram todos percorridos. Porém há uma outra trilha que ainda não foi desvendada -a que leva a cargos de chefia.
Tudo leva a crer que um profissional que se destaque em sua função migre para postos mais altos, o que inclui gerenciamento de equipes. Seguir por essa carreira parece o mais lógico. No entanto, há quem rejeite os cargos de chefia.
Mas o que leva um profissional a recusar uma promoção? O coordenador de projetos da FIA (Fundação Instituto de Administração), Joel Dutra, esclarece: "Alguns têm mais prazer com desafios técnicos".
As tarefas que o novo cargo pode exigir, como lidar com orçamentos e salários e gerenciar aspectos políticos, também podem não ser um atrativo.
Segundo Dutra, esse movimento de migração para outra função pode ser um risco. "A pessoa perde a identidade técnica. Dependendo da área, essa é a sua segurança no mercado."
Esse foi um dos fatores que fizeram com que o vendedor José Cesaroni Jr., 68, recusasse promoções -ele diz ter perdido as contas de quantas propostas lhe foram feitas. Rejeitou o cargo de gerente todas as vezes. "Não quero tomar conta de ninguém, de nenhuma equipe."
O aumento proposto não foi suficiente para fazer com que mudasse de idéia. "Faço o que gosto e tenho um bom salário."

Razões
Ursula Wetzel, professora de novas relações do trabalho do Instituto Coppead de Administração, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, elenca outros fatores que podem afastar o funcionário da chefia, como mais preocupação e pressão de superiores e subordinados. "Ter de simular algo que não é de verdade gera estresse. O esforço emocional é grande."
É o que atesta a matemática K.E.C., 36. Há pouco mais de um ano -e depois de passar quatro anos como analista de folha de pagamento em uma firma-, foi promovida a chefe do departamento de pessoal.
"Aceitei o desafio, mas me arrependi." Apesar de ganhar 25% a mais do que no cargo anterior, ela se diz insatisfeita. "A compensação financeira não vale a pena, em face da dimensão das dificuldades", diz.
A maior delas, afirma, é ser aceita pelos colegas como chefe. "Trabalho em um clima em que qualquer deslize pode ser usado contra mim", conjectura.
Enquanto procura outro emprego, a matemática está decidida quanto ao seu futuro: "Esperava ter dificuldades quanto às competências que teria que desenvolver, mas não com relacionamento humano. Nunca mais quero ser chefe".


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