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No mesmo degrau
Profissionais descartam atividades gerenciais
Falta de habilidades de gestão é uma das razões para recusar posto
RAQUEL BOCATO
DA REPORTAGEM LOCAL
MARIANA IWAKURA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
A trajetória na empresa sempre foi ascendente. Os caminhos que passam pelas áreas
técnicas foram todos percorridos. Porém há uma outra trilha
que ainda não foi desvendada
-a que leva a cargos de chefia.
Tudo leva a crer que um profissional que se destaque em
sua função migre para postos
mais altos, o que inclui gerenciamento de equipes. Seguir
por essa carreira parece o mais
lógico. No entanto, há quem rejeite os cargos de chefia.
Mas o que leva um profissional a recusar uma promoção?
O coordenador de projetos da
FIA (Fundação Instituto de
Administração), Joel Dutra, esclarece: "Alguns têm mais prazer com desafios técnicos".
As tarefas que o novo cargo
pode exigir, como lidar com orçamentos e salários e gerenciar
aspectos políticos, também podem não ser um atrativo.
Segundo Dutra, esse movimento de migração para outra
função pode ser um risco. "A
pessoa perde a identidade técnica. Dependendo da área, essa
é a sua segurança no mercado."
Esse foi um dos fatores que
fizeram com que o vendedor
José Cesaroni Jr., 68, recusasse
promoções -ele diz ter perdido
as contas de quantas propostas
lhe foram feitas. Rejeitou o cargo de gerente todas as vezes.
"Não quero tomar conta de
ninguém, de nenhuma equipe."
O aumento proposto não foi
suficiente para fazer com que
mudasse de idéia. "Faço o que
gosto e tenho um bom salário."
Razões
Ursula Wetzel, professora de
novas relações do trabalho do
Instituto Coppead de Administração, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, elenca
outros fatores que podem afastar o funcionário da chefia, como mais preocupação e pressão
de superiores e subordinados.
"Ter de simular algo que não é
de verdade gera estresse. O esforço emocional é grande."
É o que atesta a matemática
K.E.C., 36. Há pouco mais de
um ano -e depois de passar
quatro anos como analista de
folha de pagamento em uma
firma-, foi promovida a chefe
do departamento de pessoal.
"Aceitei o desafio, mas me arrependi." Apesar de ganhar
25% a mais do que no cargo anterior, ela se diz insatisfeita. "A
compensação financeira não
vale a pena, em face da dimensão das dificuldades", diz.
A maior delas, afirma, é ser
aceita pelos colegas como chefe. "Trabalho em um clima em
que qualquer deslize pode ser
usado contra mim", conjectura.
Enquanto procura outro emprego, a matemática está decidida quanto ao seu futuro: "Esperava ter dificuldades quanto
às competências que teria que
desenvolver, mas não com relacionamento humano. Nunca
mais quero ser chefe".
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