São Paulo, domingo, 07 de março de 2004

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"Culpa" dos problemas ou daausência de resultados geralmente recai sobre lado mais fraco do elo

Antagonismo gera perseguições na equipe

DA REPORTAGEM LOCAL

Se os choques entre personalidades incompatíveis não são evitados, a tendência é que "a corda arrebente do lado mais fraco", isto é, que o funcionário em posição hierárquica inferior seja o mais prejudicado. É para esse lado que quem está no topo costuma empurrar a "culpa" dos problemas e da ausência de resultados.
Depois de ser promovida duas vezes dentro da empresa em que começou como recepcionista, P.M., 30, perdeu o emprego seis meses depois que um novo chefe assumiu. A postura de intolerância foi adotada por ambos.
"Enquanto ele fazia o tipo cordial com todos, era desorganizado e evitava pensar em soluções reais para os problemas da firma. Eu deixava claro que não gostava daquilo e não devolvia o tratamento falso dele. Pouco tempo depois, ele me pôs na rua", relata.
A demissão também foi o ponto final no emprego da auxiliar de enfermagem A.O., 24. "A chefe de enfermagem era linha-dura, e eu sempre fui carinhosa com os pacientes. Ela começou a implicar com isso e daí pra reclamar até dos meus sapatos foi um pulo."

Padrão
Neusa Miguel, psicóloga da consultoria Arquitetura Humana, aponta a chefia como um fator de interferência determinante nos padrões de comportamento e de atitudes de um funcionário.
Ela explica que o PI (Predictive Index), método aplicado pela consultoria em empresas como Zoomp, Vivara e GM, permite que se chegue a referências de "como a pessoa é, como tenta ser e como está sendo, considerando a influência do cargo que ocupa e da chefia a quem está submetida".
"Um erro comum dos gestores é achar que o [padrão] bom para eles é bom para todos. Aí reside o dever maior de quem supervisiona. É preciso enxergar o potencial do profissional de forma isolada do conflito interpessoal", diz.
Na Natura, um método de avaliação minimiza o risco de julgamento tendencioso. Uma das etapas de análise do desempenho dos colaboradores é feita em conjunto por mais de um superior que tem contato com o analisado.
"As avaliações são cruzadas, e uma impressão coletiva é construída. Se é percebida maior insistência de um chefe, tanto em elogiar quanto em criticar alguém, isso é investigado", diz Flavio Pesiguelo, 33, gerente de planejamento e desenvolvimento de RH. Com isso, vários colaboradores já foram transferidos para posições em que seu perfil pode ser mais bem aproveitado.
Considerar a personalidade do funcionário para direcionar sua carreira, em geral, resulta em bem-estar. Um exemplo é Jorge Macioni, 45, que atuava como gerente-geral numa loja de música.
"Tinha a sensação de que estava preso ali." Durante uma consultoria, sua afinidade com vendas personalizadas foi detectada, e a empresa criou um cargo para ele: gerente de clientes especiais. "Ganhei liberdade e a chance de criar, que é o que mais prezo."



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