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CRER SEM VER
Espiritualidade ameniza a tensão
Profissionais recorrem a práticas religiosas para superar dificuldades com que se deparam
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
A mesa de A.B., 33, funcionária de uma empresa do setor
automobilístico, virou um altar
hinduísta. Na divisória do lado
esquerdo, ela colocou pequenos pôsteres de divindades.
Dentre eles, está a imagem de
Ganesh, "o removedor de
obstáculos".
Outra imagem do deus destaca-se no apoio do computador.
"Ganhei de meu gerente. Eu lhe
expliquei o sentido e ele me deu
a estátua de presente", conta.
Ainda há uma terceira imagem de Ganesh do lado direito
da mesa, com uma base onde os
companheiros de trabalho costumam depositar moedas.
Segundo ela, as pessoas demonstram uma grande curiosidade, mas também respeito.
"Uma vez, um dos gerentes
brincou com o rabo de uma figura de leão que personifica um
deus. Depois disso, tivemos
uma semana tenebrosa. Agora
meus colegas fazem reverências ante a imagem, que fica sobre meu computador", relata.
Além das divindades hindus,
nos momentos mais tensos,
ela recorre à meditação para
"esvaziar a carga de trabalho".
A recepcionista de hotel Sonia Makiyama, 46, é outra que
se apóia na espiritualidade para
melhorar seu desempenho
profissional. Para superar situações críticas no trabalho, ela
faz uso da arte "mahikari", que
utiliza a mão para purificar o
espírito, a mente e o corpo.
"Em uma ocasião, um hóspede queria ir embora sem pagar.
Pedi permissão a Deus e fiz a
imposição de mão na sua direção. Ele se acalmou e não tive
de chamar a polícia", narra.
Embora faça uso da arte "mahikari" no ambiente de trabalho, Makiyama conta que não
pretende doutrinar ninguém.
"Às vezes, levo revistas de divulgação para o hotel, mas não
costumo perguntar se as pessoas as leram. Eu acho que não
devo obrigá-las a acreditar,
porque pode ser que as esteja
desrespeitando", justifica.
Espírito empreendedor
É comum encontrar profissionais que vêem no negócio
próprio uma alternativa para
fazer valer suas crenças.
O judeu ortodoxo Marc Nigri, 44, por exemplo, investiu
na abertura da pizzaria Cantina
do Beró, que ficou fechada a semana passada inteira em razão
da Pessach (Páscoa judaica).
Nigri também guarda o shabat e tem um esquema de compensação que consiste em abrir
em feriados não-judaicos, com
exceção do Natal e do Ano Novo, "por respeito às datas".
Antes de abrir o estabelecimento, em 1997, Nigri trabalhava como gerente em uma
gráfica. "Eu queria comer pizza
kasher e não tinha onde. Então,
por hobby, decidi abrir a pizzaria, que cresceu", relata.
As pizzas elaboradas no local
são supervisionadas por uma
funcionária judia -a única que
compartilha de sua religião.
"A atividade profissional é
apenas um recipiente para receber o sustento, que vem de
Deus", conclui o empresário.
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