São Paulo, domingo, 08 de abril de 2007

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CRER SEM VER

Espiritualidade ameniza a tensão

Profissionais recorrem a práticas religiosas para superar dificuldades com que se deparam

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

A mesa de A.B., 33, funcionária de uma empresa do setor automobilístico, virou um altar hinduísta. Na divisória do lado esquerdo, ela colocou pequenos pôsteres de divindades. Dentre eles, está a imagem de Ganesh, "o removedor de obstáculos".
Outra imagem do deus destaca-se no apoio do computador. "Ganhei de meu gerente. Eu lhe expliquei o sentido e ele me deu a estátua de presente", conta.
Ainda há uma terceira imagem de Ganesh do lado direito da mesa, com uma base onde os companheiros de trabalho costumam depositar moedas.
Segundo ela, as pessoas demonstram uma grande curiosidade, mas também respeito.
"Uma vez, um dos gerentes brincou com o rabo de uma figura de leão que personifica um deus. Depois disso, tivemos uma semana tenebrosa. Agora meus colegas fazem reverências ante a imagem, que fica sobre meu computador", relata.
Além das divindades hindus, nos momentos mais tensos, ela recorre à meditação para "esvaziar a carga de trabalho".
A recepcionista de hotel Sonia Makiyama, 46, é outra que se apóia na espiritualidade para melhorar seu desempenho profissional. Para superar situações críticas no trabalho, ela faz uso da arte "mahikari", que utiliza a mão para purificar o espírito, a mente e o corpo.
"Em uma ocasião, um hóspede queria ir embora sem pagar. Pedi permissão a Deus e fiz a imposição de mão na sua direção. Ele se acalmou e não tive de chamar a polícia", narra.
Embora faça uso da arte "mahikari" no ambiente de trabalho, Makiyama conta que não pretende doutrinar ninguém.
"Às vezes, levo revistas de divulgação para o hotel, mas não costumo perguntar se as pessoas as leram. Eu acho que não devo obrigá-las a acreditar, porque pode ser que as esteja desrespeitando", justifica.

Espírito empreendedor
É comum encontrar profissionais que vêem no negócio próprio uma alternativa para fazer valer suas crenças.
O judeu ortodoxo Marc Nigri, 44, por exemplo, investiu na abertura da pizzaria Cantina do Beró, que ficou fechada a semana passada inteira em razão da Pessach (Páscoa judaica).
Nigri também guarda o shabat e tem um esquema de compensação que consiste em abrir em feriados não-judaicos, com exceção do Natal e do Ano Novo, "por respeito às datas".
Antes de abrir o estabelecimento, em 1997, Nigri trabalhava como gerente em uma gráfica. "Eu queria comer pizza kasher e não tinha onde. Então, por hobby, decidi abrir a pizzaria, que cresceu", relata.
As pizzas elaboradas no local são supervisionadas por uma funcionária judia -a única que compartilha de sua religião.
"A atividade profissional é apenas um recipiente para receber o sustento, que vem de Deus", conclui o empresário.


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