São Paulo, domingo, 08 de outubro de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

SOB A SOMBRA DO INSS

Volta ao trabalho é um transtorno, dizem segurados

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Entre os trabalhadores que retornaram às empresas depois de passar pela reabilitação, são comuns as queixas de assédio moral, de recolocação em funções que pioram os problemas de saúde e de demissão após o período de estabilidade definido em convenção coletiva de trabalho e na legislação.
"Passei pela primeira vez por reabilitação em 2000. Foi só uma consulta com a psicóloga", conta a bancária Josefa Dulce Pereira do Nascimento, 39, afastada por síndrome do túnel do carpo, doença provocada por esforço repetitivo.
Nascimento diz que não pôde continuar o tratamento porque, na época, o banco em que trabalhava assinou com a Previdência Social o convênio Prisma Empresas, que permitiu a realização das perícias na firma. Em 2001, depois de uma dessas perícias, a bancária recebeu alta.
No retorno à empresa, ela afirma ter sido discriminada. "Não podia entrar em um departamento porque o supervisor achava que o que eu tinha era contagioso. Não me passavam serviço", diz Nascimento, que passou a sofrer de depressão profunda, o que provocou novo afastamento naquele ano.
Em 2005, foi reencaminhada para reabilitação. "Passei por uma perita que disse que eu estava só engolindo remédio e não estava adiantando nada. Mesmo assim, ela me deu alta."

Instável
A demissão é outra prática recorrente. "Tive alta do INSS em 2001. Trabalhei uns cinco meses e depois, fui demitido, mesmo tendo estabilidade", conta o metalúrgico Egmar Teixeira Gomes, 48, que sofre de tendinite e hérnia de disco.
Gomes espera o resultado de uma ação que move na Justiça para a reintegração à empresa. "Não vou procurar emprego em outro lugar porque ainda tenho o vínculo e porque foi lá que adquiri a doença", desabafa.
Um problema adicional é a aplicação da reabilitação na empresa como argumento para não se admitir a relação entre doença e trabalho. "Dizem que o funcionário doente está em readaptação interna e não legalizam a doença ocupacional. O trabalhador fica nessa reabilitação e, quando esquece um pouquinho, é demitido", explica o médico do Sindicato dos Metalúrgicos de Osasco e Região, Marco Antonio Diniz, 47.
Para a pesquisadora da Fundacentro, Maria Maeno, 49, a solução para esses problemas passa pela organização de um serviço de reabilitação profissional definido em conjunto pelo Ministério do Trabalho e por universidades e entidades.
"A reabilitação não depende só da parte técnica como também de um pacto que permita a essas pessoas na volta ao trabalhar. Isso exige uma política de Estado", defende. (CA)


Texto Anterior: Tese atrela mazelas à privatização
Próximo Texto: Frases
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.