São Paulo, domingo, 09 de maio de 2004
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DE MÃOS DADAS Estudo da USP revela que "efeito renda" impulsiona mulher a trabalhar mais após ter filho Maternidade potencializa o desempenho
TATIANA DINIZ DA REPORTAGEM LOCAL O ingresso das mulheres no mercado de trabalho não é novidade, assim como já não causa surpresa vê-las ocupando posições que antes eram exclusivas dos homens. Depois de todo esse avanço, vale refazer um questionamento clássico: ter filhos atrapalha ou não a carreira feminina? Se há duas décadas o senso comum descrevia a maternidade como empecilho ao crescimento, hoje esse pensamento não é mais unânime. E mais: pode estar em gestação um mercado que reconheça nas mães um potencial extra para a obtenção de resultados. Garantir a renda familiar, manter-se competitiva, dar um futuro confortável para as crianças. São vários os motivos que levam as profissionais com filhos a perseguir desempenhos superiores aos que tinham antes de dar à luz. Impactos Segundo pesquisa de Elaine Toldo Pazzelo, professora da FEA-USP (Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo), dois tipos de impacto na vida profissional da mulher podem suceder o nascimento de um filho. O "efeito renda" é considerado positivo para a carreira, pois impulsiona a profissional a se engajar no mercado a fim de assegurar a remuneração ganha, que é relevante na manutenção da família. Já o "efeito substituição" é tido como negativo, por fazer a mãe permanecer em casa. Nesse caso, o abandono do trabalho acontece porque a relação custo-benefício é desfavorável: o salário não é suficiente para arcar com as despesas com uma babá, por exemplo. O estudo foi feito com base em dados da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), referentes ao período de 1992 a 1999. "A mulher aprendeu a encaixar as crianças na sua vida. Mesmo as que saem do mercado por um tempo voltam depois. Virou a regra." Até mesmo na esfera executiva, em que o adiamento da gravidez visando a ascensão chegou a ser popular, a mudança está instalada. "A maioria [das executivas] quer ter filhos, sim, só não quer abrir mão do trabalho. Ninguém mais diz que ser mãe atrapalha a carreira", observa Maria Fernanda Teixeira, 49, presidente do grupo Executivas de São Paulo. Meus, seus, nossos A experiência da secretária estadual da Cultura, Cláudia Costin, 48, ilustra essa postura. No total, criou quatro crianças (duas suas e duas do primeiro casamento do marido, que tem ainda uma terceira filha que, na época, optou por morar com a mãe). "São todos meu filhos", reforça. A prole não a impediu de se mudar duas vezes para Brasília para assumir cargos políticos e uma para os Estados Unidos, onde foi diretora do Banco Mundial. Como? "Sempre misturei filhos e trabalho", conta. "Ensinei aos meus filhos que trabalhar não é ruim." Apesar da agenda cheia, preparava todos para as provas. Uma vez, reclamou na escola porque a festa do Dia das Mães seria durante a semana. "Disseram que, se eu gostasse dos meus filhos, daria um jeito de ir. Aí briguei", relata. No caso da secretária-executiva Lígia Capelette, 33, da Cavo, nem o fato de ter ganho trigêmeos, além da filhota que hoje está com sete anos, a fez pensar em deixar o trabalho de lado. "Depois que eles nasceram, terminei o inglês e comecei o espanhol. Nem pensei em parar. As crianças me estimularam a batalhar por mais." Bebê e laptop Após anos a fio tentando engravidar sem sucesso, a diretora da Living in Brazil Andrea Massoud, 39, resolveu desistir da meta. "Já estava convencida de que não ter filhos era o preço da minha carreira bem-sucedida", comenta. Há nove meses, descobriu que estava grávida. "Foi um susto. A empresa estava em plena expansão e tive medo. Diziam tanto que [filho] atrapalha que eu acreditava." Hoje diz ter mudado de idéia. "Trabalhei a gravidez inteira. Agora vou levar minha filha comigo aonde for. Ela e o laptop." Próximo Texto: De mãos dadas: Estratégia de volta à labuta é fundamental Índice |
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