São Paulo, domingo, 09 de maio de 2004

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DE MÃOS DADAS

Classes A e B contratam babá para cuidar do bebê; C e D recorrem a vizinhos e parentes

Estratégia de volta à labuta é fundamental

DA REPORTAGEM LOCAL

Um estudo comportamental sobre a relação entre mães e bebês feito pela Johnson's Baby -divisão de produtos infantis da Johnson & Johnson- aponta que, mais importante do que ter ou não filhos, são as estratégias para retornar ao mercado de trabalho após o nascimento deles.
"Depois de se dedicar exclusivamente à criança, é difícil para a mulher retomar as atividades", esclarece Sylvia Caiuby Novaes, professora de antropologia da USP (Universidade de São Paulo), coordenadora da pesquisa.
Uma das razões é que os "tempos" da maternidade e o da profissão são distintos: enquanto a rotina do bebê é basicamente biológica, os horários do trabalho são definidos por reuniões e compromissos. Conciliá-los é o desafio.
A pesquisa mostra que a avó materna e as escolas são apoios utilizados pelas brasileiras de todas as classes sociais. Nas classes A e B, a contratação de profissionais figura como alternativa, enquanto, nas classes C e D, a opção é por parentes e vizinhos.
Ficar em casa, segundo ela, tornou-se "exceção". "Todas querem trabalhar", avalia. "E rendem mais para superar a expectativa negativa que existe em relação a elas", completa. Médica e autora do livro "Mãe... e Agora?" (ed. Senac, R$ 60), Carla Góes Sallet reforça que ainda há muito machismo nas empresas. "Se um homem falta ao trabalho porque o filho está doente, é visto como sensível. Se é uma mulher, dizem que é incompetente, que não sabe separar as coisas", compara.
A professora Renata Pascotto, 34, não se arrepende de ter passado os últimos cinco anos cuidando das filhas Raphaela e Mariana. "Pude acompanhar o surgimento da linguagem delas. Valeu mais que um doutorado", diz Pascotto, que agora quer voltar a trabalhar.
No outro extremo, a empresária Maria Regina Yazbek, 40, não se lembra de quando os dois filhos, hoje adolescentes, começaram a falar nem sabe com que idade largaram as fraldas. Na época, trabalhava 16 horas por dia na firma que herdou do pai aos 23 anos. "Hoje me arrependo", diz.
A primeira viagem com as crianças foi assustadora. "Eu me senti incapaz de embarcar com eles", lembra Yazbek, que agora diz estar mais próxima deles.

Empurrar com a barriga
Para a consultora do Grupo Catho Luísa Alves, 44, adiar a maternidade pode ser coerente devido à maturidade emocional. "Já acompanhei, porém, profissionais que demoraram tanto que, quando tiveram [filhos], se tornaram obsessivas. É igualmente perigoso."
Já Carla Góes Sallet, 30, reitera que optar por adiar não liberta a mulher do conflito. "Há o medo de não conseguir engravidar."
Rúbia Capriotti, 30, gerente de controle da DaimlerChrysler, adiou a gravidez por um ano devido a uma promoção. "Combinei com meus superiores e foi bom para todos. Quando engravidei, ganhei um abraço do chefe."
(TATIANA DINIZ)


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