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ENTREVISTA
BILL MCDERMOTT
Companhia investe em dois CEOs no comando
Para líder da multinacional SAP, equilíbrio de poder é chave para empresas com gestão colaborativa
Dividir o mesmo posto pode ser uma guerra sem fim
ou um casamento estável. Quando se trata de dois
CEOs, atritos podem significar a derrocada da companhia. Bom relacionamento, a valorização da empresa.
Há três meses, o norte-americano Bill McDermott
compartilha o cargo de CEO com o compatriota Jim
Hagemann Snabe na SAP, multinacional de tecnologia da informação com sede na Alemanha.
Em entrevista por telefone à Folha, ele conta sobre
a desvalorização das ações da companhia no anúncio da parceria e sobre os desafios e as responsabilidades da gestão compartilhada.
(JORDANA VIOTTO)
FOLHA - Quando o sr. e Jim [Hagemann Snabe] souberam que dividiriam o cargo?
BILL MCDERMOTT - No dia 7 de fevereiro deste ano. Ficamos felizes porque já havia uma relação de confiança entre Jim e
eu. Fazíamos parte do conselho
e nos dávamos bem.
Aceitamos o desafio e achamos que a SAP receberia 200%
de dedicação nossa -100% de
mim e 100% do Jim. É melhor
do que o que faríamos separadamente.
FOLHA - A SAP já trabalhou com o
conceito de co-CEOs algumas vezes.
Por que a empresa tomou essa decisão novamente?
MCDERMOTT - Pois é, já tivemos
co-CEOs em outras três ocasiões -a primeira foi em 1997.
Consideramos que a experiência foi bem-sucedida em todas
elas e que compartilhar a liderança traz benefícios para a
companhia e deixa a gestão
mais transparente.
FOLHA - Quais são os pontos positivos e as áreas críticas de dividir um
posto?
MCDERMOTT - A primeira coisa
a considerar é que é preciso
confiança dos dois lados. Depois, ambos devem ter habilidades complementares.
Assim, os dois atuam em diferentes frentes, de forma a
multiplicar forças. E quando
houver necessidade de tomar
uma decisão difícil e houver dúvidas, aquele com a competência focada na área do problema
é quem deve bater o martelo,
pois é quem tem os melhores
"insights".
FOLHA - Como são divididos deveres e responsabilidades? Vocês se
posicionam em todas as questões?
MCDERMOTT - Estabelecemos
áreas comuns e que devem ser
gerenciadas pelos dois. Os departamentos de comunicação,
marketing, RH e jurídico são
exemplos de áreas que compartilhamos e nas quais os dois devem estar envolvidos.
Mas antes de nos tornarmos
CEOs, o Jim liderava a unidade
de desenvolvimento e eu, a de
clientes e serviços. Cada um focou as áreas das quais já cuidava. Assim, não perdemos produtividade na execução.
O bom é que somos muito
abertos [a sugestões] e gerenciamos essas áreas na medida
em que elas ajudam [o crescimento da] companhia.
Ao mesmo tempo, somos
pragmáticos. Adotamos um
modelo em que temos uma visão do coração do negócio.
Também preferimos execução
a burocracia.
FOLHA - Recentemente, o sr. afirmou: "acredito que estamos nos
movendo em um passo radicalmente diferente. Estamos concentrados
na execução e na finalização do trabalho". Isso tem a ver com esta preferência pela "execução à burocracia" que o sr. mencionou?
MCDERMOTT - Sim. Engajamos
os líderes da companhia. Demos poder a eles para serem os
líderes que fazem as coisas
acontecerem e os encorajamos
a tomar decisões de maneira
mais rápida. Preferimos não
trabalhar pela burocracia, mas
pela meritocracia. O desempenho, o intelecto e o conteúdo
devem ser recompensados, reconhecidos e apreciados.
FOLHA - O sr. pode dar exemplos?
MCDERMOTT - Acabamos de nos
reunir com 200 líderes globais
para um encontro na Alemanha há cerca de duas semanas.
Neste encontro, compartilhamos a estratégia na empresa.
Dissemos a eles que decisões
que costumavam ser tomadas
depois de um processo longo de
aprovação, que parecia sem
fim, serão feitas de maneira
mais rápida agora. Nós demos
poder a eles.
FOLHA - Logo após o anúncio de
que o sr. e Jim seriam os novos CEOs,
as ações da SAP caíram. Em seguida,
houve uma recuperação. Agora, pela primeira vez em dois anos, os papéis tendem a voltar aos níveis pré-crise. Como explica esse movimento?
MCDERMOTT - O mercado de capitais não gosta de surpresas.
Quando há mudança, demora
um tempo para que ele internalize estas transformações.
Logo depois que Jim e eu
participamos da entrevista coletiva [em que foi feita a explanação do plano de ação da dupla] e uma vez que nos ouviram
e entenderam nossa estratégia,
as ações da companhia começaram a subir na medida em
que a confiança na liderança da
SAP voltou.
FOLHA - Um estudo do [centro de
empreendedorismo] Babson College mapeou 1.143 empresas familiares nos Estados Unidos que usam a
liderança conjunta. O sr. diria que
esse modelo é funciona melhor para
grandes ou pequenas empresas?
MCDERMOTT - Acredito que, de
maneira geral, é bom existir
equilíbrio de poder em companhias nas quais as decisões são
feitas de forma colaborativa,
em vez de centralizadamente.
Para mim, isso é fundamental
em um mundo que exige mais
transparência. Afinal, múltiplas mentes são geralmente
melhores do que uma.
Resumindo, podemos dizer
que duas cabeças pensam melhor do que uma.
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