São Paulo, domingo, 11 de janeiro de 2004

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APRENDIZADO EM PROJEÇÃO

Filmes comerciais e desenhos animados assumem o papel dos vídeos de recursos humanos

7ª arte vira aliada no mundo do trabalho

Fernando Moraes/Folha Imagem
Na platéia, Melissa Silva, da Hamburg-Sud, aprovou o uso de filmes comerciais


DAYANNE MIKEVIS
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Uma rotina estressante assombrava a carreira do bem-sucedido publicitário Ted Kramer, casado com Joanna e pai de Billy.
Cansada de ser relegada a segundo plano, Joanna Kramer decide abandonar o marido. Sozinho com o filho, Ted redescobre a paternidade, mas, menos empenhado no trabalho, perde o posto.
Kramer é um personagem fictício, protagonista do premiado filme "Kramer vs. Kramer", de 1979, dirigido por Robert Benton. A utilização de sua história em empresas como um instrumento de aprendizado, contudo, é real.
A trama é uma das prediletas do diretor-presidente da consultoria de recursos humanos Manager, Ricardo de Almeida Prado Xavier, 58. Como outros especialistas da área, Xavier trocou os tradicionais vídeos de treinamento corporativo por filmes do circuito comercial -que vão da animação "FormiguinhaZ" a "Matrix Reloaded", passando pelo brasileiro "Edifício Master".
Os diretores dessas obras podem nem suspeitar, mas a exibição de filmes comerciais se tornou comum entre pequenos grupos de profissionais interessados em desenvolver habilidades como espírito de equipe, liderança e capacidade de resolução de problemas e de execução de tarefas.
O método substitui a antiga fórmula de utilização de vídeos institucionais especialmente produzidos para treinar equipes. Um motivo? "[Os vídeos] são chatos", opina a consultora de etiqueta e marketing pessoal Célia Leão, 47.
Segundo ela, o primeiro filme comercial que utilizou em um treinamento foi "Uma Linda Mulher", de 1990. Luís Felipe Cortoni, 49, professor da Fundação Vanzolini, confirma a tendência de deixar um pouco de lado os vídeos de recursos humanos para recorrer à sétima arte. Entre os seus títulos favoritos, estão "Nascido para Matar" (1987), "Sociedade dos Poetas Mortos" (1989) e "Gênio Indomável" (1997).
Outro adepto dos treinamentos com filmes do circuito comercial é o gerente de recursos humanos da Playland, Ingo Begenhardt, 35. Segundo ele, essa técnica pode ser usada em qualquer processo de aperfeiçoamento. Seus favoritos são "Doze Homens e uma Sentença" (1957) e "A Caçada ao Outubro Vermelho" (1990), ambos usados para dar início a reflexões sobre os processos de liderança.
Até os filmes de animação são um gênero levado muito a sério nas telas das empresas. A coordenadora de recursos humanos da Unilever, Virgínia Spinassé, 46, utiliza frequentemente títulos como "A Fuga das Galinhas" (2000), "FormiguinhaZ" (1998) e "Vida de Inseto" (1998).
A coordenadora de televendas da Hamburg-Sud, Cláudia Harumi, 30, já "traumatizada" com vídeos dirigidos -que diz serem "muito monótonos"-, aprovou um treinamento recente em que foram usados filmes que já passaram no cinema ou na TV. "Era um sábado de sol, e isso deu uma acordada no pessoal", conta.
O longa "Um Domingo Qualquer" (1999) foi o mais recente visto em treinamento pela coordenadora de qualidade e ambiente da Hamburg-Sud, Melissa Silva, 33. A exibição, diz ela, tentou reforçar o espírito de equipe.
"É um captador de atenção", opina Carolina Galassi, 25, redatora do site interno da editora Abril, sobre sua última sessão de "cinetreinamento". O filme foi exibido durante uma série de palestras dentro da empresa, no programa "Diálogos Culturais do Meio-Dia". Apesar de preferir títulos comerciais, ela diz não ver problemas na exibição de vídeos de recursos humanos.



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