São Paulo, domingo, 11 de janeiro de 2004

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Exibições tentam gerar reflexão sobre o trabalho e ampliar a formação dos profissionais

'Cinetreinamento' reforça cultura geral

FREE-LANCE PARA A FOLHA

Não é novidade o discurso de que os empregados são os verdadeiros atores do sucesso da empresa. Tampouco é recente a história de filmes que tentam retratar o cotidiano. No entanto, o que ocorre se tudo isso for mesclado?
O resultado pode ser um filme que retrate o ambiente de trabalho, como o francês "Recursos Humanos" ("Ressources Humaines"), 1999, de Laurent Cantet.
Além de traçar a história de um estagiário que vai trabalhar na mesma empresa que emprega o pai, o filme conta com atores não-profissionais, que já haviam desempenhado na vida real as funções que interpretam no filme.
Mesmo que não seja utilizado em treinamento por empresas -apesar de recomendado-, esse tipo de filme ambientado em um local de trabalho pode servir como um agregador de cultura e levantar questões sobre a dinâmica empresarial, segundo a coordenadora cultural da ABRH-RJ (Associação Brasileira de Recursos Humanos), Myrna Brandão.
Para ela, que trabalha há mais de 20 anos com o ensino em empresas e que adota a exibição de vídeos, a reflexão gerada por um filme é, em muitos casos, mais produtiva e relaxante do que outras táticas de recursos humanos.
Outro filme que ela recomenda é o japonês "Viver" ("Ikiru"), de 1952, do prestigiado diretor Akira Kurosawa. O longa-metragem tem um ritmo considerado um pouco lento. Mesmo assim, a história -de um velho funcionário público que descobre sofrer de uma doença fatal e, num ato de desespero, decide beber, até perceber que não pode morrer sem antes dar um sentido à sua vida- compensa, afirma Brandão.

"Cult"
Em certos casos, os filmes são escolhidos mais pelo fato de agregarem cultura aos funcionários do que propriamente retratar o mundo do trabalho. É o caso dos escolhidos pela diretora do Capex (Centro de Atualização para Executivos) Lygia Maria Siqueira, 48.
Ela aposta no audiovisual para abordar valores e princípios dos profissionais, mas ressalta que a escolha do título exige lógica. Siqueira diz preferir os lançamentos menos comerciais. Recentemente exibiu o nacional "Madame Satã" (2002) e o anglo-americano "Chocolate" (2000).
Em muitos casos, os profissionais de RH utilizam sua vivência para planejar o treinamento. O uso de filmes na Unilever veio em grande parte do conhecimento que Virgínia Spinassé, gerente de RH da empresa, absorveu nas sessões de cinema com seus filhos.
Animações descontraem e, muitas vezes, são mais bem absorvidas que outros tipos de filme, diz ela. "O problema é que, às vezes, adultos não têm coragem de ver desenho animado", diz Spinassé, ressaltando a criatividade que a prática pode inspirar.

"Queimando" o filme
As discussões sobre trabalho nos filmes comerciais servem não apenas a pessoas que já tiveram experiências de vida parecidas às veiculadas nas telas mas também aos que ingressam no mercado de trabalho. É o caso dos estagiários do Ciee-RJ (Centro de Integração Empresa-Escola), que oferece aos associados sessões de filmes com a temática do trabalho.
"O cinema traz discussões comuns e é um importante instrumento de formação cultural dos jovens", afirma a presidente-executiva da seccional, Leyla Félix.
Apesar dos efeitos positivos do "cinetreinamento", é essencial que haja bom senso na escolha dos títulos para exibição na empresa ou recomendados como complemento cultural, para que se aproveite bem a atividade, opina o psicólogo e professor Luís Felipe Cortoni. Para ele, uma preparação apressada ou improvisada pode "queimar o filme" do programa de treinamento. (DM)


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