São Paulo, domingo, 12 de setembro de 2004

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Remuneração maior e perda de benefícios polarizam decisão

DA REPORTAGEM LOCAL

"Tudo bem." Essa foi a única resposta que veio à cabeça de R.L., 34, produtor de um site, quando foi avisado, há duas semanas, que deveria virar pessoa jurídica para continuar fazendo o que faz há um ano como free-lance.
"O que eu esperava era ser contratado. Fui atrás de informações sobre como abrir uma empresa. É muita burocracia, estou desanimado", conta o profissional, que agora não sabe se aceita a proposta ou se parte para outra.
Já a analista de sistemas Maria Isabel Baptista, 41, fez o contrário. Após sair de uma empresa com a qual tinha vínculo empregatício, ela diz que recusou um convite para trabalhar com registro e aceitou uma proposta que exigia contrato como pessoa jurídica.
Baptista trabalha diariamente no local, mas diz ter horários flexíveis. "Quando o convite surgiu, já deixaram claro que eu tinha de ser PJ. Pus na balança prós e contras e aceitei", conta ela.
Do lado dos prós pesou a remuneração maior. "Ganho cerca de 35% a mais do que ganhava no emprego anterior. O ideal era que fossem 50%", relata. Entre os contras, deu adeus aos benefícios.
"Empregado contratado tem mais mordomia, como férias e 13º salário. Pago um plano de previdência privada e acho que vou conseguir programar um intervalo de descanso", afirma a analista.
Outra que defende a atuação como pessoa jurídica é a fonoaudióloga Juliana Algodoal, 39. "Já fui funcionária e estou melhor assim", conta ela, que treina profissionais de call centers. "Tenho oito clientes e acho que consigo ser mais criativa do que se estivesse num lugar só", analisa.
Mãe de duas filhas, Algodoal teve a segunda já como PJ. "Não tive licença-maternidade e voltei a trabalhar quando ela tinha 20 dias. Mas compensa. Hoje tenho duas férias por ano, uma para elas, outra para o meu marido."

Sem saída
P.C., 29, trabalha como produtora numa empresa de comunicação. "Nos últimos anos, os funcionários foram gradativamente substituídos por PJs. Sou uma das últimas que tem contrato baseado na CLT", conta ela.
Para P.C., a adoção do modelo trouxe uma ameaça ao seu emprego e um empecilho à carreira que considera insuperável.
"Sinto que não sou interessante para a empresa porque há pessoas lá que podem trabalhar mais sem ganhar hora extra, que não recebem 13º salário nem folgam nos feriados. Não vou crescer, nunca vou ser promovida, estou estagnada. Só me resta ir para outro lugar e virar PJ também", observa.

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